17:03Paixões, ilusões e enganos

por Tostão

O futebol e a vida são feitos de escolhas, certas e erradas, de ilusões, de enganos e de autoenganos. Criam-se conceitos, lugares-comuns, “verdades”, com ótimos argumentos, que não correspondem à realidade.

O maior engano do ano, da maioria dos brasileiros, foi achar que, por jogar em casa, pela Família Scolari, por ter Neymar e por ter vencido a Copa das Confederações, com excelente atuação, na final, contra a Espanha, seria impossível não ser campeão do mundo.

Os que amenizaram, durante anos, a queda de nosso futebol perceberam o engano após o 7 a 1. O placar foi atípico, mas foi uma mensagem, um grito, de nossa ineficiência. A melhor definição, síntese, foi de Leonardo, ex-jogador, técnico e dirigente, antes da Copa, de que o Brasil, há muito tempo, não faz parte do circuito principal mundial do futebol.

Estamos na segunda divisão. É a realidade. Quem está na primeira arrecada mais, investe mais na parte técnica e científica, na organização, na qualidade do espetáculo, enfrenta adversários do mesmo nível e, por tudo isso, evolui mais. Quem está na segunda divisão tende à estagnação, dentro e fora de campo, ainda mais que o poder político e financeiro não quer mudanças, apenas lucro.

Mesmo assim, dá para formar uma excelente seleção, até ganhar uma Copa, já que quase todos os melhores jogadores atuam na primeira divisão, nos maiores times do mundo. O mesmo ocorre nos outros países sul-americanos.

Em outras décadas, bastavam a habilidade e a fantasia para ganhar dos cinturas-duras, como eram chamados, pelos brasileiros, os europeus. Eles não são mais cinturas-duras, desenvolveram a habilidade e a técnica, individual e, principalmente, coletiva, e nós pioramos no conjunto e na qualidade individual.

O típico jogador brasileiro é o meia veloz, habilidoso, que joga pelos lados, marca e ataca, dribla muito, cai e simula faltas e pênaltis. Correm muito, mas possuem pouca técnica e pouca lucidez. Faltam grandes armadores.

Ao ver, pela TV, a maravilhosa festa na arquibancada dos torcedores do River Plate, na conquista da Copa Sul-Americana, e também o técnico Gallardo, ex-jogador do River e da seleção argentina, próximo de seu filho, que trabalhava como gandula no jogo, percebi que os europeus podem nos tirar a supremacia técnica, mas não podem fazer uma festa tão apaixonada. Isso tem acontecido pouco no Brasil. Pena!

Ao ver também o trio espetacular de ataque do Barcelona, formado por três sul-americanos, tenho a esperança de que nossa fonte de talentos é inesgotável, apesar de fazerem tudo para destruí-la. Ao mesmo tempo, fica a desesperança de que dificilmente, ou jamais, voltaremos a exportar nossa arte, em vez de exportar os artistas, como dizia o visionário Sócrates.

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