6:29Uma vaia de 50 anos

por Ivan Schmidt

Poderia ter sido um momento mais lisonjeiro para o senador José Sarney, quase certo o parlamentar mais antigo do país em exercício, sua retirada do Congresso Nacional sob vaias estrepitosas de populares na saída da garagem do Senado. Há alguns meses o senador havia anunciado que não disputaria a reeleição, encerrando a longa carreira iniciada nos anos 60 na Câmara dos Deputados e governo do Maranhão.

Presidente da Arena, partido que dava sustentação congressual aos generais de plantão do Palácio do Planalto, Sarney renunciou para pouco depois figurar como vice-presidente na chapa liderada por Tancredo Neves, que se defrontaria no colégio eleitoral com o candidato arenista, Paulo Maluf, que o então presidente João Figueiredo foi constrangido a engolir com casca e tudo.

São conhecidos os lances que levaram o político maranhense a substituir Tancredo na presidência da República, como resultado de um macabro jogo de dados que ceifou a vida do avô de Aécio Neves depois de muito sofrimento. Em circunstâncias normais, ou seja, disputando uma eleição presidencial dificilmente Sarney seria escolhido pela maioria dos eleitores para exercer o cargo máximo da República. À época ainda não se falava de Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Prouni e outras alquimias engendradas pelo governo para feudalizar o voto de milhões de pessoas.

Cumprido o mandato, que ganhou um ano a mais em troca de centenas de concessões de emissoras de rádio ou televisão, Sarney que havia dividido o vice-reino do Maranhão com a filha Roseana, foi bater às portas do Amapá impondo naquele extremo rincão da pátria varonil a candidatura ao Senado. Como não eram necessários tantos votos, o povo cordato e sem saber direito o que se passava, elegeu o maranhense Sarney e, de quebra, o paranaense Henrique Rego Almeida para um meio mandato de quatro anos.

Almeida cumpriu-os rigorosamente e saiu de cena da política da mesma maneira que havia entrado, sequer permitindo aos concidadãos se virou, ao menos, nome de rua ou praça na brava e valorosa Macapá, capital do referido estado. Estamos falando do final do ciclo militarista ao qual Sarney, entretanto, resistiu até agora em sucessivos mandatos no Senado.

Como ato derradeiro de uma carreira que se estendeu por mais de 50 anos, Sarney leva para a aposentadoria o som desagradável e, no seu caso sintomática, dos apupos de brasileiros indignados com a subserviência a qualquer governo, com exceção de Fernando Collor de Melo que na campanha para a presidência o invectivou dos piores adjetivos existentes na língua portuguesa. Hoje, Sarney (este só por mais alguns dias) e Collor pertencem ao mesmo bloco de apoio ao governo Dilma Rousseff, assim como havia ocorrido nos dois mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva.

Típico decalque do benefactor latino-americano, só não compareciam à composição preferida por Ribamar da Costa (Sarney era o apelido dado a seu avô pelos engenheiros ingleses durante a construção do porto de São Luís), o charuto e o chapéu panamá. O resto estava lá: o terno jaquetão bem cortado, o bigode caprichado e o cabelo brilhoso de gomalina. O discurso nem se fala.

Pena que o legado político do homem que mandou construir, com dinheiro público, um museu para abrigar os documentos, objetos pessoais e presentes recebidos no exercício da presidência, em cuja estrutura física também sugeriu um mausoléu que receberá seus restos mortais, tenha se esfumado como a neblina das manhãs de inverno.

Ainda são lembrados os efeitos nocivos do chamado Plano Sarney, o congelamento dos preços, a caçada de bois nos pastos das fazendas, o fechamento de supermercados e outras maluquices emblemáticas do período de governo mais medíocre vivido pelo país desde a redemocratização, que teve início com o próprio Sarney.

Alquebrado pela idade avançada, com a mulher doente, Sarney se retira do embate político a que se dedicou por toda a vida. Retrato fiel de sua verdadeira vocação para a vida pública vem da época em que era deputado federal eleito pela União Democrática Nacional (UDN) e pertencia à aguerrida Banda de Música, a exemplo de Carlos Lacerda, integrada por inflamados oradores que viam fantasmas em qualquer esquina.

Quando veio o golpe de 64, Sarney foi um dos primeiros a calçar as botinas dos milicos e a eles bater continência.

 

 

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23 ideias sobre “Uma vaia de 50 anos

  1. Sergio Silvestre

    A POLITICA DOS DETALHES.
    Se josé Sarnei não tivesse a pressa e um pouco de jogo de cintura,já que tinha um grande ministro da fazenda o Dilson Funaro que fez um plano bom que foi o ‘cruzado” mas foi levado pelas rompantes do Quercia,que na sua campanha ao governo queria ir aos pastos para confiscar os bois.
    Mas o Plano real também correu perigo no final do segundo mandato do bundão FHC,só não foi para o espaço com a entrada do Lula no governo e os programas complementares para segurar a moeda,aumentando os empregos e botando mais dinheiro na mão do trabalhador,acabou com o arrocho e com a recessão.
    Ficar aqui criticando aqueles que atuaram como foi o caso do Sarnei e Poupar os que morreram como foi o Caso do Tancredo e o Ulisses e meio que tacanho,já que não fizeram nada pelo Pais a não ser composições politicas e articulações meio que esquisitas até subindo no muro ou com falacias de oradores que eram.
    Não acreditaria que um governo Tancredo fosse para frente com tanta gente agregada ávidos por poder e que acertaram sua candidatura com Deus e o diabo.
    O Sr Ulisses também nem cheirou e nem fedeu,sua contribuição para o bem estar do brasileiro se prestou para ele mesmo,uma boa vida enquanto viveu e até na sua trágica morte estava a veraneio numa ilha paradisíaca.
    Já os Sarneis,estes se apoderaram do Maranhão e são os ediges do congresso onde as costuras eram feitas só com aval do bigodudo.
    Então meu irmão,se pesar todos eles ou se jogar na aguá vai ser a mesma coisa ou todos afundam juntos ou boiam,satanizar o Sarnei sozinho e como aconteceu no Parana,conseguiram satanizar a Gleise Hofman,como tentaram por anos satanizar o Requião e depois de 3 mandatos estão quase conseguindo,enquanto isso vamos vendo o bonitão e seu desgoverno campear e um bando de tontos correndo e puxando o saco dos eu bofe.

  2. Célio Heitor Guimarães

    Espera aí, Silvestre! Dizer que o velho Ulysses “nem cheirou e nem fedeu, sua contribuição para o bem estar do brasileiro se prestou para ele mesmo, uma boa vida enquanto viveu…”, além de uma tremenda injustiça, é desconhecer por completo a história recente do Brasil! E não estou dizendo isso por contar com um Guimarães no sobrenome. O dr. Ulysses faz uma falta danada no planalto brasiliense. Quanto ao texto do Ivan, irrepreensível, como de costume.

  3. Sergio Silvestre

    Desculpe sr Celio,é que eu não engulo muito o que está escrito até por que quem escreve as vezes é obrigado pelo patrão ou por patrocinadores,sou PMDEBISTA,mas acompanhando a trajetoria do Pedro Simon,outro icone do PMDB tenho notado que não são vinhos e sim normais como todos que envelhecem e se grudam na mesmice,os ideais ficam para tráz.O Dr Ulisses pode ser uns degraus a mais que os outros,mas apenas alguns degraus,

  4. toledo

    Estou numa pindaiba de crédito com os seres humanos. Meu litio controla muita coisa, mas não as bobagens que tenho que ler, ver e ouvir. Eu tinha um respeito pelo Pedro Simon, mas depois que ouvi dele a declaração de justificativa de gastos de 60 mil reais para seu implante dentário, larguei. Porra, põem um dentadura, porque logo vai embarcar. Mas como é um tal de erário que paga, não estão nem aí. Vou ligar meu botão do foda-se pra muita gente.

  5. toledo

    Zé, veja o que a Roseana Sarney aprontou, sobra cú de plantão:

    De Renato Janine Ribeiro

    Levantei a suspeita de que a renúncia de Roseana Sarney ao governo do Maranhão a apenas 20 dias de terminar seu mandato podia visar a tirar dos cofres públicos aposentadoria rica para mais um amigo da família, e vejam o que Rafael Nochelli encontrou: “Realmente está explicada a manobra…”

    Constituição do Sarneystão:

    Art. 45 – Cessada a investidura no cargo de Governador do Estado, o ex-governador que tenha exercido o cargo em caráter permanente, fará jus, a título de representação e desde que não tenha sofrido suspensão dos direitos políticos, a um subsídio mensal e vitalício igual aos vencimentos do cargo de Desembargador.”

  6. Zé Beto Autor do post

    caro toledo, faz o seguinte: separa alguns carrões da década de 50 e guarda. logo, logo aquilo a ilha vai abrir e vai haver a invasão dessas latas modernas de agora. os carrões valem muito e mecânico para conservá-los é que não falta lá. no mais, cada um, cada um. abraço. saúde.

  7. toledo

    Zé, acho que vou conseguir ganhar grátis, era do JB o Ministrão do Mensalão

    Espreguiçadeira elétrica, que o ex-ministro usava para aliviar sua dor nas costas, foi comprada a pedido dele em 2009 por dispensa de licitação; valores atualizados chegam a R$ 7.800; com a aposentadoria de Joaquim Barbosa, a cadeira ficou sem uso

  8. leandro

    Lendo os comentários de alguns ( dois) dá impressão que perderam a eleição, estão desesperados falam maluquices sem sentido, um diz que vai embora (acho papo), pois ambos são a mesma pessoa, mas pelo dá para perceber a Dilma vitoriosa e o PT mandando eles estão prevendo um buraco maior que o que fazem no pré sal. Parecem mulher mal amada, nada está bom, nada serve. Um deles já achou o caminho , Cuba, charutos.

  9. toledo

    Silvestre, esta escapando a quarta do Leandro. Ele perdeu o rumo com a derrota do Piá de Queijo. Tenha calma com ele, o tenesmo dele é grande.

  10. Célio Heitor Guimarães

    Meu caro Ivan, e você que só queria tirar a fantasia do Sarney… Viu no que deu? Está cada vez mais difícil tentar falar sério em blogs desta terra varonil… Pobre ZB. Paciência.

  11. Sergio Silvestre

    Sr Célio,devemos sim ter um pouco de humor nessa vida sisuda que vivemos.Eu sou um cara positivista e a diferença de idade entre nós não é muita não.Sem contar que eu adoro seus textos e quando enveredam pela politica ai sim faço algum comentário as vezes gozando com o personagem do texto ele sendo politico.
    Sr Célio,se não podemos tirar os sujeitos,se não podemos cortar seus roubos e altos salários,ainda bem que o ZB não nos priva de lhes sentar o cacete.Tudo que passa pela nossa cabeça e é muito comentado é por que foi um texto capcioso e mexeu com cabeças mais sensatas e cabeças mais porra loka.
    Desculpa que sempre eu fodo o texto no final,mas bom final de semana sr Celio.

  12. Wilson Portes

    Boa, Ivan, esta é a vigésima.
    Mais uma vez, gol de placa.
    Principalmente o último parágrafo, onde você deixa nu o ícone do Maranhão.

  13. Ivan Schmidt

    Aí gente! Segunda-feira (8) um pouco antes das 11h… vim parar de novo nesse espaço (um amigo me deu a dica) para constatar a quebra de recorde (meu) em recados (20) a algo que escrevi… se bem que a maioria absoluta das intervenções desbordou das minhas ponderações sobre o o antigo donatário da capitania de São Luís, para um duelo de florete, em alguns golpes, mal manejados…
    Célio Heitor, bom dia: às vezes ficou pensando cá com meus botões se vale a pena prosseguir tentando descobrir algo nobre em meio à ganha bruta…
    Ao Zebeto, mais uma vez coragem, paciência e garra!

  14. Ivan Schmidt

    Olha eu aqui: em lugar de “ganha” leia “ganga”, que quer dizer cascalho, no verso imortal de Raimundo Correia, naquele soneto sobre a língua portuguesa…

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