de Rubem Alves
Se você tiver a felicidade rara de ter uma aguinha que escorre e cai, você terá uma das experiências mais calmas que se pode ter. Ouvir o barulhinho da água. (…) Difícil um prazer igual pela tranquilidade, pela pureza, pela profundidade. Porque a água nos reconduz às nossas origens.
Quando menino pescava as margens do Tibagi,onde a mata ainda fazia parte do contesto e se ouvia o canto do inhambu guaçu que parece quase extinto
Muitas vezes a meia noite tinha um ditado dos caboclos que as corredeiras paravam e faziam silencio por segundos e voltavam em seguida.
Eu segurava um “mondaine” de bolso do meu padrasto e apurava o ouvido a meia noite para ver as corredeiras pararem .
E o homem fez elas pararem de vez,aquele rio maravilhoso e limpido deu lugar a um lago fetido e com aparência de um cemitério de arvores.
E com as corredeiras se foram os dourados,pintados e surubins e não vimos mais os pulos das tabaranas e piracanjubas comendo o figo maduro das figueiras nativas.
Então meu irmão,cada vez menos vamos ouvir o som das águas,a sinfonia dos pássaros e o rebuliço dos peixes,a não ser nos tanques daqueles peixes híbridos criados em cativeiro.