13:19O medo de Lars von Trier e a realidade dos dependentes de drogas

Lars von Trier, diretor de cinema dinamarquês, disse em entrevista que se drogava para escrever seus filmes – e que agora, que não se droga mais, morre de medo de ser incapaz de continuar a fazer cinema. Hummmmmmmmmmmm. Para quem é dependente de drogas esse é um dos fantasmas que aparecem quando se puxa o freio de mão e se começa o processo de recuperação, com controle, ou seja, sem o uso, pois a doença é incurável. No filme “Farrapo Humano”, o melhor da história do cinema sobre alcoolismo, o personagem principal vivido por Ray Milland diz que bebe porque não consegue mais escrever, quando na verdade é o contrário. Trier, pelo jeito, não chegou ao ponto de parar de escrever seus filmes, mas talvez estivesse bem perto. É comum a “desculpa” da criação, seja ela qual for, para que se use qualquer substância que interfere no sistema nervoso central. O talento de cada um não tem nada a ver com o uso de qualquer tipo de droga para deflagrá-lo. Normalmente se consume uma energia monumental para se criar quando se está drogado – e aí fica a ideia de que é preciso se chapar para que se produza. Uma balela que confunde ainda mais quem é ligado ao mundo das artes. Fosse assim e Eric Clapton teria pendurado a guitarra, ele que foi consumidor de heroína e outras drogas e confessou que muitos dos shows e discos gravados neste período ele não lembra como fez para tocar. Talento é talento. Pelé nasceu com o dele e Dondinho, seu pai, recomendou, quando ele foi embora de Bauru para Santos: “Cuide do seu talento, mais nada”. Pelé cuidou e treinou para aperfeiçoá-lo. Lars von Trier, se quiser, vai sim escrever mais filmes e dirigi-los, sem usar nada. Pela experiência própria do signatário e também em acompanhar há duas décadas profissionais de todas as categorias que controlam a doença, o diretor vai decolar ainda mais. Se chutar o balde e recaia, talvez em pouco tempo não consiga nem escrever um “ó”, quanto mais um roteiro de filme.

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