10:30O CATADOR

de Manoel de Barros

Um homem catava pregos no chão.
Sempre os encontrava deitados de comprido,
ou de lado,
ou de joelhos no chão.
Nunca de ponta.
Assim eles não furam mais – o homem pensava.
Eles não exercem mais a função de pregar.
São patrimônios inúteis da humanidade.
Ganharam o privilégio do abandono.
O homem passava o dia inteiro nessa função de catar
pregos enferrujados.
Acho que essa tarefa lhe dava algum estado.
Estado de pessoas que se enfeitam a trapos.
Catar coisas inúteis garante a soberania do Ser.
Garante a soberania de Ser mais do que Ter.

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Uma ideia sobre “O CATADOR

  1. Sergio Silvestre

    Conheci um homem que catava pregos e barbantes velhos,juntava tudo isso também com as centenas de imoveis que tinha espalhados por Londrina.
    Não deu boa vida para sua esposa que mais parecia uma empregada sua nem gozou dos quase 300 mil reais que recebia no primeiro dia til do mês em alugueis escorcheantes dos pequenos comerciantes que alugavam seus espaços.
    Um dia chegou com sua bengala e ficou me vendo tomar uma cerveja,já desenganado e não podendo comer e beber tudo que ele deixou para trás na sua vida.
    Começou a tratar melhor os conhecidos,por que avaro tem raros amigos,começou a fazer festas mesmo vendo os outros se divertirem e comerem e beberem de tudo e ele sem poder e acabou seus dias pensando nos tenros anos que teve com sua esposa e filhos e não aproveitou.
    É um recado a todos catadores de pregos e outros que acham que sua sepultura tem gaveta.

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