9:25HORÓSCOPO

por Zé da Silva

Capricórnio

A barata voou assim que ele abriu o armário do banheiro onde o espelho mostrava uma cara amarrotada pela vida. Ele não se assustou. Ficou esperando ela pousar e se esgueirar no chão junto à parede coberta de ladrilhos. Ele não atacou. Ficou olhando aquele bicho que vai sobreviver quando a raça humana de auto-aniquilar. Era das grandes, talvez mãe ou pai de filhos. Por que chamavam os que têm medo de sangue de barata? Ele era um, com certeza, mas não tinha medo de se matar lentamente. Não gostava de ratos, mas começava a se afeiçoar daquela barata imóvel. O telefone tocou e ele jura ter visto uma das antenas dela se mexer. Será que queria atender? Será que a ligação era para ela? Será que tinha compromisso naquele final de semana tedioso? Veio então a raiva e ele esmagou a tal com a sola da sandália. Depois pegou um pedaço de papel higiênico, envolveu-a, jogou no vaso sanitário e deu a descarga. Não sentiu remorso. Foi escovar os dentes. No instante em que ele assassinou o bicho, um político teve um ataque fulminante e morreu.

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