9:39O futuro é um imenso vazio

por Célio Heitor Guimarães

A segunda-feira nasceu silente. O canto matutino do galo – na ala consciente, informada, trabalhadora e produtiva de Norte a Sul do país – foi substituído pelo Toque do Silêncio, executado à distância por um melancólico clarim. Dilma ganhou a eleição. Vai continuar no trono do planalto central por mais quatro anos. Em Curitiba, o fato foi comemorado com o espocar de dois foguetes na noite de domingo. Há notícia de que um terceiro rojão iluminou os céus da minha velha Lapa, disparado da sede da Prefeitura Municipal.

Pois é, Dilma venceu. Venceu? Apesar da dificuldade, pelos números venceu. E o Brasil? A resposta está na fotografia da festa de comemoração da vitória em um hotel de Brasília, onde a “presidenta” vitoriosa não teve sequer a grandeza de referir-se ao adversário derrotado, mas se viu cercada pela fina-flor da vida político-administrativa do país – em boa parte da qual a Justiça, o Ministério Público e a Polícia Federal estão de olho. É bem verdade que algumas importantes ausências foram sentidas no palco: Zé Dirceu, Zé Genoíno, o “nosso Delúbio”, o “amigo Paulinho” Costa, “Beto” Youssef, João Vaccari Neto, José Sérgio Gabrielli, Maria das Graças Foster, Nestor Cerveró, o churrasqueiro Lorenzetti, o evadido Pizzolato, Marcos Valério, “Rose” Noronha, Erenice Guerra, Waldomiro Diniz, Maurício Marinho, Cesare Battisti, André Vargas, Gleisi Hoffmann, José Sarney, Fernando Collor de Mello, Paulo Malluf, Renan Calheiros, Jader Barbalho e sua excelência o ministro Dias Toffoli, insigne presidente do Tribunal Superior Eleitoral (A propósito, o bem informado leitor sabe que até aos 89% dos votos apurados Aécio liderava a disputa.).

Como tantos soldados da liberdade, suportamos os anos sombrios da ditadura militar embalados pela certeza de que aquilo não poderia durar para sempre. Rubem Alves citava como exemplo Dietrich Bonhoeffer que, numa das cartas escritas da cela de um campo de concentração nazista, conta que o prisioneiro desconhecido que ali o antecedeu escrevera, na parede, uma mensagem de esperança desesperada: “Dentro de cem anos tudo isto terá terminado”.

Chico Buarque, companheiro contemporâneo, colega de geração, também nos encheu de fé e estimulou na luta pelo adorável mundo novo: “Apesar de você, amanhã há de ser um novo dia…”. Chico, hoje, está do outro lado da trincheira, mas isso já é outra história.

E o tempo passou. O tempo de horror acabou. E o que foi que nasceu? O mesmo Rubem Alves responde, em nome de todos nós: “Um novo horror”. Em alguns aspectos, pior ainda que o anterior. Um tempo de desilusões, de falsos personagens, de muita patifaria. E, pior de tudo, de um imenso vazio. Segundo Rubem ainda: “Noite, sem anúncio de madrugada. Noite sem canções, noite sem sonhos”. E sem sonho, não há vida, porque povos e países são feitos de sonhos.

Há quem diga que a política poderia ser definida como a arte de administrar os sonhos do povo. O Brasil desmente a tese: aqui os políticos têm por missão acabar com os sonhos do povo.

Os sonhos do povo são o que menos interessa à classe política nacional. Aqui, os políticos têm os seus próprios sonhos, que merecem prioridade absoluta. E o povo – criaturas já identificadas como os bobos da corte – apenas servem para que aqueles objetivos sejam atingidos. Daí a comemoração da noite de domingo naquele palco de hotel de Brasília, em meio a brados de ordem unida e muito culto à personalidade.

O Brasil tornou-se refém do PT. Se Dilma houvesse perdido, o país se tornaria ingovernável por Aécio Neves. A companheirada cobriria a nação de lixo, como fez defronte à Editora Abril, em São Paulo; atiçaria nas ruas as matilhas enraivecidas das centrais sindicais, dos movimentos dos sem terra e sem teto e os baderneiros de junho de 2013, que macularam as justas reivindicações populares com cenas de violência e terror. Assim é a democracia petista.

O futuro é um imenso vazio. Ou, pior que isso, negro: inflação em alta, crescimento zero, economia estagnada, poder aquisitivo em queda, escândalos e falta de credibilidade nacional e internacional do governo… A corrupção, que já levou o dinheiro do Minha Casa, Minha Vida, logo levará o que tem garantido o Bolsa-Família. Em suma, o Brasil é um barquinho perdido em um mar revolto, sem rumo e sem comando.

A única esperança que nos resta é que essa malta seja engolida pela própria fome insaciável de poder. É autofágica por natureza. E não poderá negar por muito tempo a sua natureza. Lembrai-vos da anedota do escorpião que pediu carona ao jacaré para atravessar o rio e que morreu com ele no meio da travessia…

 

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11 ideias sobre “O futuro é um imenso vazio

  1. toledo

    Chamou a minha atenção o ressentimento, a falta de respeito com as pessoas que votaram na Dilma e se identificam com o partido dos trabalhadores ( leiam com atenção a raiva e o ódio no texto). Fiquei com a impressão que só existe o céu e o inferno. Me desculpe, mesmo estando aqui em Cuba e não no Batel, não concordo.
    Que tristeza ler no seu texto:

    O Brasil tornou-se refém do PT. Se Dilma houvesse perdido, o país se tornaria ingovernável por Aécio Neves. A companheirada cobriria a nação de lixo, como fez defronte à Editora Abril, em São Paulo; atiçaria nas ruas as matilhas enraivecidas das centrais sindicais, dos movimentos dos sem terra e sem teto e os baderneiros de junho de 2013, que macularam as justas reivindicações populares com cenas de violência e terror. Assim é a democracia petista.

  2. Sergio Silvestre

    Então,vejo ódio nas menções que fazem a políticos e ministros do PT até os alinhavando com os nordestinos,e nortistas de todas grandes cidades,onde nas zonas nobres o Aécio fazia a maioria dos votos e ia perdendo força a medida que se alastrava paras as periferias.
    Não sei de que mál padece as elites,e aqueles que galgaram alguns degraus nestes 12 anos e agora querem mudança,até para camuflar o que fizeram de errado quando sua renda aumentou e gastaram mais do que deviam.
    Eu tenho muitos amigos em Londrina,inclusive muitos pioneiros,jornalistas e até políticos ou que vivem da politica e vejo observando o passar do tempo que todos tiveram um ganho maior.
    Vou dar exemplo de um casal em que a esposa é professora municipal e o marido e agente penitenciário,tem dois carros,garagem com 4 vagas e sua casa tem quatro quartos todas com ar condicionado,churrasqueira e espaço gourmet.
    Eles votaram no Aécio,mas não se recordam dos tempos difíceis da era FHC,quando moravam numa longinqua periferia e numa casa de 35m2.
    Mas o ser humano é assim,acontece até numa pescaria quando o vento derruba a barraca ,molha todas suas roupas,você não pega nada,sai todo picado por mosquitos e é queimado pelo sol e na sua volta diz que nunca mais vai pescar.Dois dias depois está doido para voltar a se ferrar na beira do Rio.
    Me desculpe o Sr Heitor,mas volto a aquele velho e surrado que de vez em quando escrevo e não sei se é pensamento meu,”o homem nasce comunista,com o passar do tempo vai para o centro,na terceira idade entra para uma irmandade e vira beato de alguma igreja com medo de morrer e ir para o inferno e quando passa dos oitenta viram essas bostas palpiteiras em assuntos que os jovens vão dissidir.Cabe aos em fim de carreira sentar numa cadeira de balanço na sacada do seu prédio,acariciar a caveira que adorna a bengala e ficar olhando a planície esperando Godot.
    Ou seja um velho como eu com idéias novas e uma vitalidade de quarentão.Ficar remoendo coisas que passam e agourar,não vai acrescentar tempo de vida nem a volta aos 18 anos tenros de idade.
    Passar a vida dentro de um bunker com a velha espingarda e espera de comunistas e agora petistas bolivarianos e Venezuelanos(minha segunda Pátria)é perda de tempo que a guerra acabou e nos livramos do mal maior,apesar do chororo dos reaças.

  3. Parreiras Rodrigues

    Chico Buarque gravou apoio prá Dilma.
    Teve lá $ua$ razõe$.
    A irmã, Ana, quando ministra da Cultura, abriu a cornucópia da pasta e através da Lei Rouanet, engordou escandalosamente a conta do irmão, do genro Brown e de outras pessoas que também assinam Holanda, Buarque de…
    Chico – nada de sequer lhe arranhar o mérito de tocador de violão e compositor, a voz, uma merda.
    na Ditadura, ficou rico cantando as misérias das favelas Um gigolô delas, portanto..
    Compunha obras de arte, entre um uisque e outro, ou mesmo com dois seguidos, nas mesas de bares de Ipanema, Leblon, Copacabana. Hoje, não frequenta mais a última prá, muito prolê, prá quem é chegado a caviar. Aliás, de anos prá cá, prefere mesmo os barzinhos com frente para o Sena. na cidade-luz.

  4. leandro

    A verdade dói, para uns que ganharam ficam se vangloriando e inventando mas sabem muito bem o pepino que a coisa está e ainda ficará pior, não se fala aqui de norte e sul, mas sim de governo de um pais que por incitação do PT se acha dividido. Claro que o pais ficaria ingovernável, possibilidade esta não descartada, vamos aguardar. Uma parte de ambas as notas anteriores que vem do casal que mais parecem uma única pessoa, somente que um diz que gosta de banana “madura” e o outro de charutos, parece bem pitoresco que ambos tenham gostos semelhantes e de uso comum, mas voltando ao assunto, que história fantasmagórica aquela da professora e do agente penitenciário. Ou estão contando uma grande mentira, sob vários aspectos, ganham bem e vivem reclamando ou a renda de um tem origens não identificáveis, pois sempre estão se queixando de que ganham mal. Se não for nada disso, então, ambos ganham bem e se assim for não seria nunca por obra, graça e ação do governo federal e sim pelos seus salários. A outra possibilidade é de que a professora faça bicos e o marido também, ela em aulas particulares e ele como segurança de boates em Londrina. Disso tudo dá para concluir que discutir om PT raivoso e sem noção é perda de tempo, mas não dá para se entregar , coisa que não faço.
    Por fim, ao Toledo, como vai aí o charuto do Fidel, você ainda está levando?

  5. Mario

    Olha, a coisa por aqui esta feia…. a democracia só é valida quando a gente ganha, quando perde, o povo nao sabe votar…. Todos que entendem e acompanham a politica no Brasil, conhecem o Aecio…desde a sua primeira nomeação, como diretor de loterias….. era a Presidente Dilma de um lado e o Aecinho do outro…. logo a Dilma é o melhor para o Brasil…. mas agora sobra ressentimentos… imagine o autor do texto, que ja nao aceitava a Leila, Prefeita da Lapa, agora de novo a Dilma… sobrou odio e ressentimentos…
    Vamos para um novo tempo, o Betinho, o Alvaro e a Dilma… foi isto que aconteceu…..quero ver as propostas do Betinho… a coisa esta feia, o orçamento cortado, continua sem projetos…. sem comando…..
    e falando mal da Presidenta…o Alkmim ja se entregou, em Sao Paulo falta agua e por aqui, esta faltando …………………………

  6. toledo

    Caro Leandro, eu sinto que você já não tem as mesmas convicções. Mesmo você morando aí perto do Hospital Sta Cruz, ao lado do Pátio Batel, você tem evitado em ir ao Curitibano e ao Graciosa e logo você vai aderir as propostas do governo do partido dos trabalhadores e será um ex- curitiboca.
    Faz um consignado e vem prá Cuba, vem Leandro, fica uma semana eu arrumo hospedagem para você.

  7. leandro

    Bem ao lado do pátio Batel, rua Olavo Bilac, já falei outro dia. Mas sem o empréstimo vou para lugares mais desenvolvidos e que tem gente melhor que cubano e venezuelano, quem sabe quando os irmãos Castro já estiverem sentados no colo do capeta e o Maduro já esteja podre … eu vou pensar, mas não com o consignado, tenho grana. No Graciosa não vou, mas no Curitibano frequento, pena que mudei do prédio que morei por anos na Petit Carneiro, aluguei o apartamento, pequeno tinha 350 m2 com 2 vagas para automóveis. E a vida como vai , está usando muito os charutos com pimenta?, Será que o Fidel usa viagra para charutos? Só para lembrar, cuidado com os charutos.

  8. toledo

    Zé, o Leandro nunca foi no Quatro Bicos e nem na Otilia, ele só frequentava lugares mais caros. Semana sim , semana não, tinha uma notinha no Dino Almeida. A temporada só em Caiobá no mesmo prédio do Senador Botox. Ele é o exemplar legitimo do Curitiboca que lê a Gazetumba e só anda no elevador social. Em 2.026 vai votar no NETO DO BOLSONARO.

  9. leandro

    Conheci sim, você que não deve saber, pois na época o charuto era proibido nesses locais, como a Otília, ali na av. Afonso Camargo e o 4 bicos lá no Cajuru. Agora você Toledo devia vir a Curitiba, e frequentar somente a Praça Ozório, naquele local tinha sempre a noite uma feira de tabagistas que trocavam os charutos, não eram cubano. Toledo, você é estranho, no mínimo, ouve o galo cantar e nem sabe onde é o seu terreiro, mas claro que você sabe e frequenta as redondezas da Getúlio Vargas, bem ali pertinho da Arena que tanto você fala, mas não se preocupe o MCP não fuma charuto.
    Só para lembrar, cuidado com o charuto.

  10. m.n

    Chico Buarque não preci$a de pagamento para manifestar opiniões. Mas é impressionante a arrogância dessa gente. Só serve o candidato deles. Hoje fala-se tanto em tolerância , em respeito às diferenças, em valorizar a diversidade. Já entendi, a diversidade só serve quando está do lado deles. Quem vota em outro candidato que não seja o deles é imbecil, comprado pelo bolsa família ou por benesses governamentais.
    Chora na cama, que é lugar quente.

  11. leandro

    A recíproca é verdadeira, toda ação tem uma reação em sentido contrário (física). O Chico já era, é decadente. Quem começou com toda essa antipática presença foi o Lula, já a tempos atrás, quando iniciou uma luta de classes, “elite”, depois passou a chara de “elite branca”, depois de “gente de cabelos claros e olhos azul”, o certo seria azuis, mas estamos falando do Lula né. Então não venha com esse papo de diversidade e coisa e tal, pois quem iniciou todo essa reação e comportamento não fui eu muito menos alguém do povo foi sim o próprio pessoal do PT, como Lula e outros tipo Jean Willis.

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