12:10O que vem por aí é um plebiscito

por  Elio Gaspari

… Nesta campanha, com exceção do debate da Record, os outros foram rasos. Em todos, os candidatos pareciam drones guiados pelo controle remoto dos marqueteiros, buscando clipes para os programas do horário gratuito. Sexta-feira, o debate da Globo terá tudo para ser educativo, pois nele o jogo do clipe será inútil.

A pancadaria que envolveu Dilma Rousseff e Aécio Neves roncou dos dois lados. Ambos sabiam que esqueletos tinham nos armários. As baixarias não serão suficientes para explicar o resultado que sairá das urnas.

Muito menos as teorias destinadas a desqualificar os votos de quem vier a prevalecer. O que vem por aí é um plebiscito para decidir se o PT deve continuar no governo ou ir-se embora.

Leia abaixo a íntegra do artigo:

O que vem por aí é um plebiscito

Os eleitores prestam atenção em pesquisas, mas votam com o coração, a cabeça e o bolso.

Quando Marina Silva não conseguiu chegar ao segundo turno, atribuiu-se seu declínio à pancadaria que sofreu. Talvez nunca se saiba por que o balão esvaziou, mas, mesmo olhando-se para os golpes que levou, essa teoria é curta. Foi de sua equipe que partiu a plataforma da independência do Banco Central.

Admita-se que a ideia pode ser boa. Ainda assim, ela foi exposta pela educadora Neca Setubal, herdeira da família que controla o banco Itaú. Precisava? Se isso fosse pouco, dias depois, Roberto, irmão de Neca e presidente da casa bancária, disse que via “com naturalidade” uma possível eleição de Marina. Precisava?

Marina falou em “atualizar” a legislação trabalhista, mas não detalhou seu projeto. Juntando-se gim e vermute, tem-se um Martini. Juntando-se banqueiro com atualização das leis trabalhistas, produz-se agrotóxico. Precisava?

Uma campanha eleitoral em que se discutiram mais as pesquisas do que as plataformas esteve mais para videogame do que para escolha de um presidente da República, mas foi esse o curso que ela tomou. A comparação do resultado do primeiro turno com as estimativas das pesquisas ensinou o seguinte: os votos de Aécio Neves ficaram acima da expectativa máxima e os de Dilma, abaixo da expectativa mínima. Disso resulta que não só é temerário dizer quem está na frente, mas é arriscado afirmar que o vencedor será eleito por pequena margem.

Os eleitores prestam atenção em pesquisas, mas votam com o coração, a cabeça e o bolso. Se a noção demofóbica segundo a qual Dilma tem o voto dos pobres tivesse alguma base, a doutora estaria eleita. Contudo, olhando-se pelo retrovisor, nunca houve ricos suficientes nos Estados Unidos e na Inglaterra para eleger os conservadores Ronald Reagan e Margaret Thatcher.

Como muita gente achava que o povo brasileiro não sabia votar, o país foi governado por cinco generais escolhidos sem qualquer participação popular. O último foi-se embora deixando uma inflação de 226% e uma dívida externa (espetada) de US$ 180,2 bilhões.

Os candidatos conseguem votos pelo que dizem e pelo que fazem. Em 1994, Fernando Henrique Cardoso percebeu que ganhara a eleição quando uma mulher ergueu uma nota de um real durante um comício.

Quatro anos depois, mesmo diante da ruína da fantasia do real que valia um dólar, ele foi reeleito porque os brasileiros preferiram continuar numa Mercedes que rateava a embarcar na motocicleta de Lula.

Nesta campanha, com exceção do debate da Record, os outros foram rasos. Em todos, os candidatos pareciam drones guiados pelo controle remoto dos marqueteiros, buscando clipes para os programas do horário gratuito. Sexta-feira, o debate da Globo terá tudo para ser educativo, pois nele o jogo do clipe será inútil.

A pancadaria que envolveu Dilma Rousseff e Aécio Neves roncou dos dois lados. Ambos sabiam que esqueletos tinham nos armários. As baixarias não serão suficientes para explicar o resultado que sairá das urnas.

Muito menos as teorias destinadas a desqualificar os votos de quem vier a prevalecer. O que vem por aí é um plebiscito para decidir se o PT deve continuar no governo ou ir-se embora.

Compartilhe

9 ideias sobre “O que vem por aí é um plebiscito

  1. toledo

    Zé, sou curitibano ( mais coritibano ) de coração, pois são mais de 50 anos morando aqui, Mas que o curitibano é curitiboca não tenho dúvida e pode-se constatar na eleição do Beto Jeitoso. Todo mundo sabe que ele não tem competência para o cargo mas os curitibocas acham ele padrão Batel e ele ganhou no primeiro turno. Agora o padrão Batel é o Piá Sabonete e todo mundo sabe que ele não tem competência para o cargo. Por isso, a PT Fobia. Essa eleição ficou dividida, com o Aécio entre uma proposta de direita e Dilma de esquerda. Já a Marina era uma proposta útil para a direita
    ( representada pelo Banco Itaú que tem uma multa de 18 bilhoes que foi mantida pela sonegação de impostos quando comprou o Unibanco ) . Zé não dá para ficar no centro tem que ter um chimbe.

  2. toledo

    Wagner, eu tento entender você, claro que quem entenderia melhor seria um terapeuta. Votei no Fernando Henrique porque acreditei no discurso dele, mas foi só uma vez. Votei no Lula porque entendi que a nossa direita só pensa no bem dela. Por isso sou esquerda e o partido de esquerda é o PT. Não vejo na nossa direita nenhum nome que eu pudesse achar que seria um boa escolha.

    Leia o que Sakamoto escreveu hoje no blog dele sobre as eleições, é uma boa carapuça para todos nós :
    Eleições: Você já pensou em ver o mundo além da sua bolha?
    Questionei, algum tempo atrás, um punhado de meus alunos de jornalismo se não achavam estranho o fato de não haver nenhuma pessoa negra na turma. Um deles, sincero, respondeu que não tinha percebido isso porque nunca estudou com uma.

    Depois, em reservado, ele me explicou que morava em um desses grandes condomínios, tipo alphabolha, afastados da realidade crua de São Paulo e que oferecem tudo o que a pessoa precisa – menos o contato com a diversidade.

    Cresceu sem estudar com negros e negras no ensino fundamental e médio. E, entrando em uma universidade cara, a chance seria menor ainda. Nesse ponto, o programa de bolsas e de financiamento estudantil do governo federal ajudaram – e muito – para que alguns cursos da PUC-SP não fossem tão monocromáticos.

    Uma pessoa que vive em uma bolha, a menos que conte com família, amigos e uma escola que deixem claro que nem tudo se resume a ele mesmo, pode se assustar quando percebe que o mundo não foi feito à sua imagem e semelhança.

    Isso acontece nas redes sociais, onde o algoritmo faz com que você receba atualizações de perfis e páginas com que você interaja mais. Ou seja, na maior parte das vezes, de quem é seu amigo, pensa como você, tem os mesmos gostos, enfim.

    Não é novidade, e muitos já escreveram sobre isso, que algumas redes sociais, por garantirem que chegue a você aquilo que se encaixa no seu perfil e na sua forma de interação com a sociedade, limita bastante a sua visão de mundo. Lembre-se que aquilo do qual gostamos não bate necessariamente com o que precisamos.

    (Um salve para quem amava agrião e chicória desde pequeno e não teve que aprender a consumir.)

    O mundo não concorda sempre com a gente, ao contrário do que parece nas redes sociais. Aliás, o mundo não tem uma única opinião, tem várias.

    Daí, quando um amigo próximo compartilha uma página que traz uma opinião diferente, rola um frio na espinha. “Que ideia idiota! Esse cara só pode ser burro e picareta ou estar ganhando um por fora!” Não aceitamos a diferença porque não fomos ensinados a entender que ela existe e a conviver com ela.

    Deve ser desesperador para alguém que vive imerso em uma bolha, física ou virtual, quando tem que ir à rua e ver pessoas diferentes, pensando diferente, agindo diferente.

    Aquele bando de gente falando coisas que vão na direção contrária do que aprendeu durante toda a vida.

    Que ouviu da família.
    Que escutou na igreja.
    Que sentiu na escola.
    Que leu em veículos de comunicação.

    E, sem querer entender o argumento do outro, vocifera: “Você está errado!”

    E se o outro continuar a falar ou escrever, tal qual um zunido irritante e insistente, a pessoa, entrando em parafuso, fritando na batatinha, quase que instintivamente solta um “Cale-se!”
    Fundamentado na certeza formada pelo calor aconchegante da bolha, ela vai lá e ameaça o outro. Às vezes, até o silencia fisicamente. Em sua cabeça, não está fazendo nada de errado, apenas protegendo a sociedade de quem quer desestabiliza-la e, ao mesmo tempo, reestabelecendo a ordem natural das coisas.

    Com já disse aqui uma miríade de vezes, a internet possibilitou o acesso ao mundo. O problema é que não estávamos preparados para um mundo que não fosse necessariamente a nossa cara. Vivemos uma “adolescência” da rede – aprendemos para que servem os órgãos genitais e agora estamos usando-os loucamente, como se não houvesse amanhã e como se ninguém se machucasse no meio do caminho.

    Como se resolve isso? Com a tranquilidade que não está sendo vista nestas eleições, em qualquer um dos lados que se estabeleceu.

    E a receita é bem simples: se o gosto pela diferença não está no seu paladar, pelo menos inclua pitadas de tolerância.

    O problema é que esse tempero não se compra ou empresta. Nós mesmos é que temos que produzi-lo ao longo do tempo na base de reflexão e autocrítica.

    Pena que autocrítica também ande tão em falta no mercado.

  3. Wagner

    Todo mundo que faz críticas ao PT é intolerante, burguês, insensível aos problemas do país. Não admite receber criticas. E quem vive numa bolha é a presidente, que não admite os escândalos que atingem seu governo, considera a situação econômica do país ótima. Mas tudo é culpa da elite burguesa…

  4. toledo

    Wagner, respeito o seu pensamento. Não quero convence-lo que a minha opinião esta correta e a sua errada. Essa é a verdadeira democracia, respeitar as diferenças. Faço uma grande provocação com o pessoal que comenta aqui no blog, defendo meus pontos de vista e minhas convicções, de maneira ácida as vezes com um pouco de humor. Tem muita gente boa e competente no PT, pode ter certeza.

  5. leandro

    O Toledo desandou na maionese e passou a escrever um tratado. Viu como nem todos os petistas não são iguais.. Agora entendo o Toledo. Ele afirma que votou no FHC porque acreditava nele e depois se decepcionou. Bem então passou a votar no LULA e virou “esquerdista” coisa bonita. Na realidade há uma confusão, votando no Lula, com tudo que aconteceu no Governo dele, do PT, a agora da Dilma, do PT ele não ficou decepcionado? Se não, então não da para entender, ou é maluco ou é burro. Não outras opções. Aliás seria bom uma consulta com um terapeuta psiquiatra, pois há uma grande probabilidade que a perda do Requião e agora a disputa está afetando a psique do Toledo, isto é perigoso, não contagioso, mas influencia outros, por exemplo o seu amiguinho Silvestre.

  6. jar

    Zé Beto, um dia desses você falou em deletar alguns comentários, o que é muito correto em função de várias coisas que escrevem. Pois bem, considerando o que o Toledo escreveu, na realidade uma obra prima que deveria vir acompanhada de uma indicação médica , considerando que alí está exposta tida a m´goa de uma pessoa que não deu certo na vida, mas não procurou mudar e sim achar culpados, considerando que o sujeito está com problemas e tendo em vista que você é democrático, já pensou em casos como esse se auto deletar para não ficar tendo que responder as amebas e assim deixar de cobrar pelo tratamento de auto ajuda?

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.