17:05No abismo do mar

Do blog Cabeça de Pedra

Desceu a rampa de concreto bem junto a uma das paredes. Noite escura. Ali, durante o dia, era o caminho dos barcos daquele clube na cidade litorânea. A água chegou-lhe às canelas e não havia mais parede. Ele foi tateando com os pés, como se atraído por uma força estranha. A curiosidade, pensou depois do susto. De repente, nada sólido embaixo. Ele afundou como uma pedra. Se apavorou. Não sabia nadar. A água turva era como uma venda. Começou a bater os pés antes de tocar o fundo – se é que ia tocar. Acelerou mais que as batidas do coração e foi subindo até a cabeça sair fora d’água. Descobriu então que tinha fechado a boca antes de entrar totalmente no abismo de água. Aprendia ali, no sufoco, o que é o instinto da sobrevivência que, mais tarde, iria surgir de novo, em outras situações diferentes. Nunca contou isso pra ninguém. Era seu segredo. Poderia ter morrido, mas aprendeu a nadar.

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