de José Maria Correia
Carrego comigo um abissal oceano
imemorial,vasto e de engano
Um mar rubro de rum e de sangue
Nas veias correndo como sal e mangue.
Um litoral atlântico, despedaçado
e uma praia branca deserta de gente
cheia de segredos de algas e espumas,
é ali coberto apenas de noites e brumas
que uivo solitário para a lua crescente,
sonhando com danças de ninfas nuas
saudando solenes louvores ao poente.
um sabath com sereias em carrosséis,
redemoinhos de azuis ondas frenéticas
de onde surgem de conchas herméticas
pérolas, colares ,brincos,jóias e anéis.
nesse meu perene mar recorrente
onde ouço rugir graves os penhascos
de grotescas tumbas em rochedos,
silenciando as fendas os antigos rumores
pobres naufrágios de velhos amores
sucumbidos por tantos temores
primitivas lendas, mitos e medos.
As falésias e dunas escarpadas
das areias sopradas dos ventos
entre ninhos das aves amantes
apartadas e já idas e distantes
trazem da noite os elementos
da telúrica sinfonia de magia
em notas de grave melancolia.
cobrem esses sons o meu uivo
aquele triste de que antes falava
um lamento que me encantava
e que para mim em abandono
e em delírio, distraía, consolava.
restou dessa noite só sonhada
irreal, imaginada,inacabada
a maré vazante em madrugada
arrastando astros e estrelas
em impiedosa fuga e disparada.
restou e só – a lua crescente
estremecida em prateado
refletindo meu rosto envelhecido
desolado, ornado de corais em
espelho de conchas emoldurado
parte do que fui, e do passado.
uma miragem entre vagos sinais
do tempo assaz desperdiçado
no vazio do sonho do mar idealizado
um resto de mim e de sombras
no jardim das ilusões submerso
e dos raros lírios não brotados
percorridos no buscar disperso.
eternos amores provisórios
em fugaz e enganador alento
para sempre e distraído
perdi para o todo nessa geografia
antes que raiasse enfim o dia
esse estranho mundo de encanto
como destino, olvido ,paixão
libertação e eterno tormento…