13:50Onde foi parar meu título?

por  Ivan Schmidt

Meu primeiro voto para presidente da República foi para Jânio Quadros, o louco, em 3 de outubro de 1960, numa seção instalada no grupo escolar Francisco Tolentino, em São José, então pequena cidade próxima a Florianópolis. Mas, no que me diz respeito, a primeira eleição presidencial da qual me lembro foi a de Getúlio Vargas (PTB) em 1950, quando eu tinha 10 anos e morava em Lages. Nessa aí, o Baixinho de São Borja, que fora ditador por 15 anos, ganhou do brigadeiro Eduardo Gomes, candidato pela UDN, que era o partido em que meu pai votava.

Soube depois que a eleição anterior tinha sido a do marechal Eurico Dutra, em 1945, após a queda da ditadura do mesmo Getúlio que, entretanto, não precisou fazer muita força para eleger o sucessor, aliás, bafejado pelo fato de ter sido um dos comandantes da Força Expedicionária Brasileira (FEB), na Itália.

Dessa eu não poderia mesmo ter memória, pois tinha apenas cinco anos de vida e mal havia me libertado dos cueiros. Essa certeza eu tenho, porque somente décadas depois a indústria brasileira teve a genial sacada de copiar os estrangeiros e fabricar as tais fraldas descartáveis.

Imagine você, meu caro, que na época tinha essa idade (e chegou até aqui pra ler essas baboseiras), o trabalhão de sua mãe ao lavar toda aquela… deixa pra lá!

Por obséquio, amigos, não pensem que estou querendo fazer analogia entre eleições e fraldas borradas, de jeito nenhum! Uma coisa nada tem a ver com a outra e, mesmo aquele cheirinho característico que não raro se desprende de uma e outra – quase sempre parecendo ter a mesma origem – deve entrar em vossa cogitação.

Pois é, passados 54 anos lá vou eu novamente à procura do título de eleitor (que ao longo desse período deve ter mudado umas 200 vezes), a fim de cumprir a obrigação cívica de escolher por sufrágio universal aqueles que suponho serem os mais confiáveis pró-homens (ou mulheres) a contar com a minha preferência de cidadão ordeiro, pacato e paciência bovina, para o parlamento, governo do estado e presidência da República.

De cara quero confessar que até o exato momento em que escrevo (manhã de sexta-feira), não fui iluminado pela competência disponível a qualquer ser humano dotado de mediana inteligência e compreensão mínima dos fatos, para sequer rabiscar a cola que se torna indispensável no momento supremo do voto e, sem a qual, a obrigação cívica, tão bela e significante para o futuro, está irremediavelmente condenada a ir para o brejo.

A tortura inevitável que o universo de eleitores sofreu (entre eles o escriba) foi escolher entre Amendoim, Mingau, Farmácia, Ração, Suco, Assistente Social, além das centenas de Doutor(a) e Professor(a). Juro que não sabia que isso já havia virado nome próprio!

É isso aí, lamento que mesmo com toda a atenção e após um trabalho estafante não consegui concluir a relação numeral do magote de candidatos a pais da pátria. Como desculpa, se servir, confesso que nunca fui bom nessas coisas, pois até hoje jamais consegui fechar a relação de palpites dos treze jogos da loteria esportiva. Por favor, alguém me avise se ainda existe?

Então, estimado leitor, se você esperava saber em quem pretendo votar no domingo (onde diabos esconderam meu título?), esqueça. Nem eu sei…

 

Compartilhe

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.