19:06Dormência ou dor imensa

de Ticiana Vasconcelos Silva

Quero me rasgar

Entrar em mim como uma faca

Sentir na alma o gosto da carne

Gritar a dor lancinante que ecoa na memória

Me desfazer em lágrimas guturais

Me juntar aos animais que me perseguem

Gargalhar até suar de febre

Quero respirar a arte incrustada em minhas veias

Soltar um grito de alívio

Olhar de dentro do meu umbigo

Quero arrancar de minha mente o desvario

Sorver a neve de um dia sombrio

Correr às margens de um rio

Jogar pedras no vazio

Só assim saberei da verdade que me penetra

Sorrateira, ela se abriga em mim

Derradeira, ela não se atém a um fim

Bisbilhoteira, ela denuncia a minha infância

Corriqueira, ela faz da vida uma dança

E nela eu sonho

Dela eu fujo

Com ela eu vivo

Sem ela, me castigo

Através dela, respiro

E todas essas dores que carrego

São ela me dizendo para ser livre

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