de Ticiana Vasconcelos Silva
Quero me rasgar
Entrar em mim como uma faca
Sentir na alma o gosto da carne
Gritar a dor lancinante que ecoa na memória
Me desfazer em lágrimas guturais
Me juntar aos animais que me perseguem
Gargalhar até suar de febre
Quero respirar a arte incrustada em minhas veias
Soltar um grito de alívio
Olhar de dentro do meu umbigo
Quero arrancar de minha mente o desvario
Sorver a neve de um dia sombrio
Correr às margens de um rio
Jogar pedras no vazio
Só assim saberei da verdade que me penetra
Sorrateira, ela se abriga em mim
Derradeira, ela não se atém a um fim
Bisbilhoteira, ela denuncia a minha infância
Corriqueira, ela faz da vida uma dança
E nela eu sonho
Dela eu fujo
Com ela eu vivo
Sem ela, me castigo
Através dela, respiro
E todas essas dores que carrego
São ela me dizendo para ser livre