19:55Homo Neanderthalensis

por H.L. Mencken

As razões de o homem inferior odiar o conhecimento não são difíceis de discernir. Ele o odeia porque o saber é complexo – porque impõe um fardo insuportável à sua minguada capacidade de absorver idéias. Assim, ele está sempre à procura de atalhos. Todas as superstições são atalhos dessa natureza. Sua meta é tornar simples e até óbvio o ininteligível. E isso prossegue no que parecem ser níveis mais altos. Ninguém que não tenha tido uma instrução prolongada e árdua é capaz de compreender sequer os conceitos mais elementares da patologia moderna. Mas até um lavrador no arado consegue captar em duas lições a teoria da quiroprática. Daí a vasta popularidade da quiroprática entre os desvalidos – assim como da osteopatia, da ciência cristã e de outras charlatanices similares. Elas são idiotas, mas são simples – e todo homem prefere o que pode entender aquilo que o intriga e desanima.

A popularidade do fundamentalismo nas camadas inferiores dos homens explica-se exatamente da mesma maneira. Todas as cosmogonias com que lidam os homens instruídos são exageradamente complexas. Seu mais simples esboço requer um imenso cabedal de conhecimentos e o hábito de pensar. Seria tão fútil tentar ensiná-las aos camponeses ou ao proletariado urbano quanto tentar instruí-los sobre os estreptococos. Mas a cosmogonia do Gênesis é tão simples que até um campônio é capaz de aprendê-la. É exposta num punhado de frases. Oferece ao homem ignorante a irresistível sensatez do absurdo. E assim, ele a aceita com altos cânticos de louvor e tem mais uma desculpa para odiar seus superiores.

*Este é um dos textos de H.L. Mencken sobre o “Julgamento do macaco”, de julho de 1925, que se tornou um dos mais rumorosos da história do judiciário norte-americano. Durou 11 dias e o foi o primeiro a ser transmitido por rádio para o país inteiro. Virou filme de sucesso — Inherit the Wind (O Vento Será sua Herança), de 1960. A ação foi impetrada pelo estado do Tennessee contra o professor de biologia John Thomas Scopes, de 25 anos, acusado de ensinar a teoria da evolução em uma escola pública na cidade de Dayton.

 
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