14:25O ventre fértil da moderna serpente

por Ivan Schmidt

Pior que não ter assunto é ter um verdadeiro turbilhão de sugestões no bestunto, sem que nenhuma delas, porém, tenha consistência suficiente para sustentar a liga necessária (o que todo escriba medíocre sabe) para não espantar o leitor no primeiro parágrafo. Coisas de um começo de resfriado, talvez, que ninguém merece.

A propósito do discurso da presidente Dilma Rousseff na abertura da 69ª Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas, tradição iniciada pelo então chanceler da ditadura Vargas, Oswaldo Aranha, em 1947, ao fazer empolgada defesa da fundação do novo Estado de Israel no território bíblico, que segundo a tradição fora legado pelo próprio Javé a seu povo.

A ignorância (ou má fé) dos nossos dirigentes atuais é tão vergonhosa, que a presidente parece jamais ter ouvido falar da origem dessa tradição, que somente ainda é mantida pela ONU porque há 67 anos a organização internacional debatia a importante questão do retorno lícito e oficial dos judeus à chamada Terra Santa, da qual estavam expulsos desde o ano 70 da era cristã.

Por coincidência, embora o tema nunca tivesse ficado fora da agenda da ONU, nesse momento a discussão se dá em torno do chamado Estado Islâmico, uma excrescência do fim dos tempos gerada no seio da Al Qaeda de Osama Bin Laden, que pouco depois a reprovou, e que ao invés de desaparecer ganhou força para apavorar por meio do terrorismo mais abjeto as grandes potências, mediante a degola seqüencial de dois jornalistas norte-americanos (James Foley e Steven Sotloff) e um inglês (David Haines). A mais recente vítima do moderno Abadon foi um turista francês nascido na Argélia (Hervé Goudel) , assim como acontecera com os três assassinados anteriores capturado num país árabe.

Agora, a organização do terror que assume o nome de califado ameaça exterminar um cidadão alemão, fechando o ciclo aterrorizante de uma vítima para cada país relevante na formulação e condução da política econômica global, num ritmo sanguinário que ninguém sabe onde vai parar.

Enquanto isso, a presidente Dilma num discurso ideológico desalinhavado do tom historicamente defendido pelo Itamarati – desde os tempos memoráveis de Rio Branco – diz que há alguns problemas que somente podem ser resolvidos pelo diálogo, enquanto os terroristas do EI exibem nas redes sociais a gravação dos crimes bárbaros que cometem, cortando a garganta de cidadãos inocentes.

O presidente Barack Obama (na mesma tribuna da ONU) advertiu que muito longe do diálogo, a única linguagem entendida pelos terroristas é a linguagem da força.

O califado do EI, que tem o escopo de fundir todos os estados árabes num único e indestrutível Estado Islâmico (riscar Israel do mapa é apenas uma redundância), depois da rejeição da Al Qaeda aprofundou raízes na Síria e no Iraque, a despeito da reação dos governos locais, está sendo retaliado impiedosamente pelo bombardeio pela aviação norte-americana e francesa.

O presidente François Hollande não descartou a probabilidade de tropas francesas invadirem o território iraquiano (depois da execução sumária de Gourdel), ao passo que os pilotos de caças de Tio Sam martelam com precisão milimétrica (e filmam das alturas) a destruição de alvos do EI em território sírio.

O EI conseguiu dominar pela força extensas áreas na Síria e no Iraque, havendo informações sobre a chegada de mais de 15 mil combatentes oriundos de 80 países que se alistaram como combatentes da organização terrorista. Inclusive um jovem nascido no Brasil.

Barack apelou imediatamente na reunião do Conselho de Segurança da ONU, que presidiu, pela formação de uma coalizão internacional para enfrentar e destruir o adversário, ao passo que os demais chefes de Estado presentes deram as costas à presidente brasileira e nenhum deles pareceu impressionado pelo discurso extemporâneo, na manhã seguinte tratado com o silêncio obsequioso dos grandes jornais mundiais.

A insanidade dos chefes do Estado Islâmico é tão desmedida (e nada tem a ver com a religião muçulmana), que autoridades norte-americanas e européias, especialmente na França, já anunciaram providências no sentido de redobrar esforços para prevenir e evitar ações terroristas iguais (ou piores) que o 11 de Setembro.

O ventre que gerou o nazismo ainda está fértil, escreveu há alguns anos o cineasta sueco Ingmar Bergmann, para a cena final do inquietante filme “O ovo da serpente”.

 

 

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3 ideias sobre “O ventre fértil da moderna serpente

  1. Professor Xavier

    A companheira num raro momento de lucidez, deu à luz os seus enormes conhecimentos sobre o que se passa fora de Pindorama. Certamente leu algum release preparado por um dos seus tantos aloprados acólitos e, ai ficou sabendo que os EUA bombardearam posições destes terroristas decepadores de cabeças. Houveram baixas entre estes assassinos. Aí tomada da mais santa e legítima ira soltou estas as tais “pérolas”. É óbvio que está sendo tomada por louca ou algo próximo disto, porque propor diálogo com decepadores de cabeça só cabe na cabeça de uma pessoa sem ela.

  2. toledo

    O Professor Xavier deu aula no DOI-CODI ? deve ser eleitor daquele meigo senador que aparece na tv com um Poodle no colo e mora no Batel.

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