10:29Disse, não disse

por Ruy Castro

Na sexta passada (19), a presidente Dilma afirmou que “o papel da imprensa não é de investigar, e sim de divulgar informações”. A imprensa tomou nota e obedeceu. Ouviu a fala da presidente, dispensou-se de investigá-la e divulgou sua declaração. Aliás, nem haveria o que investigar, já que foi uma declaração para vários jornalistas ao mesmo tempo, e no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência. Como todos os jornais publicaram a mesma frase, supõe-se que foi exatamente o que a presidente falou e disse.

Dois dias depois, no entanto, Dilma acusou a imprensa de ter feito “uma confusão danada” com a sua declaração. Disse que não disse o que disse, mas que, ao contrário, a imprensa deve investigar, sim, “para informar e até para fornecer prova”. E foi além: “O jornalismo investigativo pode até fornecer elementos. Agora, quem faz a prova é a investigação oficial. [Sem ela,] você não consegue condenar ninguém”.

É verdade. Se, mesmo com a investigação oficial, não se consegue condenar ninguém, imagine sem. Mas foi refrescante ouvir de Dilma que ela autoriza a imprensa a investigar –até para evitar outras “confusões danadas” quando se trata de divulgar o que ela diz e, ao ser alertada para as gafes que comete, desdiz. Como isso é frequente, o aconselhável seria que a imprensa, ao ouvir suas declarações, fosse logo investigar para saber se ela declarou ou não o que declarou.

Aliás, há pouco, no Rio, num encontro com artistas em apoio a Dilma, o ex-presidente Lula também roçou o assunto. Disse que não aceitaria que se escrevesse uma biografia sua em vida, porque “seria impossível se dizer as verdades”.

O que Lula quis dizer foi que, em vida, nunca autorizaria uma biografia sua. Ora, que besteira. Não lhe faltariam autores para escrever apenas o que fosse de seu interesse.

*Publicado na Folha de S.Paulo

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Uma ideia sobre “Disse, não disse

  1. leandro

    Essa história de disse não disse que me disse que não havia dito e coisa e tal, mostra bem como são nossos dirigentes políticos. Na realidade são piores que “lavadeiras”, nada de pejorativo das lavadeiras que trabalham para limpar a sujeira das roupas e objetos. Essa consideradas “lavadeiras” dos “disse me disse” não limpam nada, sujam muito.
    Anos atrás, um presidente da França Charles de Gaulle teria dito uma frase que virou antológica e muitos disseram que não teria sido assim , vejam um “disse não disse internacional”. De Gaulle teria afirmado ” que p Brasil não era um país sério. Depois de tudo isso que vem acontecendo no Brasil com seus dirigentes e demais agregados fazem, dá para a gente acreditar que o Charles estava certo mesmo e falou a frase sim.
    Vejam que recentemente, o Brasil vem se colocando em confronto com outros países no que diz respeito a política internacional. É importante a posição do Brasil sim, mas não se pode crer que no caso das ações terroristas o Brasil ache errado a intervenção que se faz no Oriente Médio. Não se pode imaginar como normal o sequestro fanático e homicida desses grupos que procuram a mídia para se promover a si próprio e a sua causa ( se é que se pode chamar de causa). Ontem a imprensa , novamente a imprensa, noticiou e mostrou as declarações da Presidente Dilma na ONU, fato que causou mal estar diplomático do Brasil com outros países, menos aos grupos terroristas. Agora só falta a Presidente ou seu porta voz vir falar que houve uma interpretação distorcida por parte da mídia. Bem isso é fato e o que chama atenção no noticiário televisionado de ontem além das declaração da Presidente, foi a aparição e postura do assessor para assuntos internacionais o Senhor Marco Aurélio Garcia que todos conhecem por sua postura radical. Mas, se a Presidente ou o Itamarati acha que nesse caso o caminho é o dialogo, poderia mandar um emissário à região para negociar com o “estado islâmico”, lembrando que um diplomata brasileiro já morreu numa ação terrorista recentemente. Então em várias ocasiões são ditas as frases de efeito que muitas vezes impressionam a opinião pública ainda mais na atual conjuntura, na cata de votos, prestígio e mudar o foco dos problemas aqui do país, como por exemplo os escândalos, o pepino que está por vir logo após a eleição na questão do preço da energia elétrica entre outros problemas que fatalmente afetarão nossas vidas.

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