por Ruy Castro

A foto, de 1929, mostrava o patriarca, sua esposa, os 13 filhos e três netos na escadaria do casarão na rua Raul Pompéia, em Copacabana. O patriarca era o jornalista Mario Rodrigues, mais poderoso então do que Chateaubriand. Entre seus filhos, estavam Mario Filho e Nelson, também jornalistas, e o desenhista e pintor Roberto. Um dos netos, sentado no primeiro degrau e com menos de dois anos, era Sergio, filho de Roberto.

Dali a semanas, Roberto seria assassinado na Redação do jornal de seu pai por uma mulher inconformada com certa reportagem que a difamara. Roberto só recebeu a bala porque estava ali naquele momento e era filho de Mario Rodrigues. Este não aguentou, e um insulto cerebral hemorrágico o levou, 67 dias depois. Pelos 84 anos seguintes, toda a prole de Mario Rodrigues se foi –alguns em circunstâncias trágicas, rodriguianas. Sergio, aos 86, era o último que restava daquela foto. Nesta segunda, 1º/9, fechou-se o ciclo.

Os obituários de Sergio Rodrigues fizeram justiça ao designer que ele foi, criador de móveis hoje clássicos, como as cadeiras Mole (que o mundo conhece como Sheriff), Oscar, Kilin e tantas outras, construídas não apenas em função da modernidade, mas do bem-estar de quem se senta nelas. “Se não for funcional, não é uma cadeira”, ele dizia. “É uma brincadeira”.

Faltou a esses textos enfatizar que, tanto quanto suas cadeiras, poucos seres humanos seriam tão aconchegantes quanto Sergio. Sua presença em qualquer ambiente era uma garantia de afeto, euforia e humor. Se foi um projeto de vida, ele o realizou.

Por 24 anos corremos atrás de um sonho: um livro que recuperasse a obra gráfica e pictórica de seu pai, Roberto Rodrigues –atrevida, pungente, satânica e com toques que antecipavam o universo de Nelson Rodrigues. Mas nunca pudemos torná-lo realidade.