7:09Quando se tem um drogado em casa

por Chico Lang*

Sei que ter um drogado na família é muito difícil. Alguma coisa bem parecida com um “karma” budista. Ou seja, a família, amigos, pessoas mais próximas sofrem junto com o usuário. Querem ajudá-lo mas não sabem nem por onde começar. Não sou especialista no assunto, porém vivi um drama com meu filho mais velho, o Pedro Thiago, na época mergulhado no crack. Reconheço: tivemos sorte, embora ele ainda esteja em tratamento na Clínica Desafio Jovem Peniel, no Mato Grosso do Sul, na cidade de Três Lagoas.
Procurei usar de bom senso e não perder o equilíbrio emocional em etapa nenhuma da cura. Aqui vão alguns passos dados por mim e minha família.

1) O primeiro passo é convencer a pessoa a aceitar o tratamento. Nada pode ser feito se ela não deixar, se não se reconhecer como um dependente químico e visualizar uma cura. Prepare-se bem para isso. Seja firme, mostre a situação dramática e as opções existentes. Não se deixe levar por apelos emocionais.

2) Depois, dependendo do jeito que o indivíduo encara a vida (se é religioso, intelectual ou não gosta de pensar muito), se deve interna-lo sim. Meu filho, era muito teimoso e dissimulado. Dava desculpas para justificar atrasos, dispensas em empregos, falta de vontade de estudar e outros comportamento antissociais.

3) Sob hipótese alguma tente “curar” um viciado sozinho. Em estágios avançados, o que você falar entra por um ouvido e sai pelo outro. Não confundam onipotência com amor. Aquela pessoa que você conhecia mudou completamente por causa do vício. Só desconhecidos (médicos, psicólogos, psicanalistas, bispos, padres, monges) poderão chocá-los, impactá-los, mostrando a realidade da situação e ou não o risco de morte. A consciência é dada pelo Outro.

4) Internada, a pessoa costuma fazer chantagem emocional. Aí, então, é outro drama. Um martírio ético e moral, com tendência a se transformar em um enorme complexo de culpa. A família tem de encontrar forças para rejeitá-lo. O indivíduo entra na fase de “abstinência” da droga e inventa qualquer coisa para voltar a usá-la.

5) Cada paciente tem o “tempo dele” para reabilitar-se. Uns conseguem rápido. Outros levam anos. O tratamento exige paciência de todos, médicos, enfermeiros, voluntários, parentes e amigos.

6) Desaconselho tirar o ex-usuário (tomara que chegue logo a esse ponto) sem ter ele uma função social determinada. Um emprego por exemplo, algo que o deixe ocupado, cansado pelo esforço intelectual ou físico. Sentindo-se útil, reenquadrado na sociedade, dará valor à luta de todos e dele próprio.

7) A religião ou grupos específicos de lazer ou trabalho são ótimas alternativas para substituirem antigas amizades, provavelmente ainda envolvidas com drogas. Enterrar o passado é fundamental. As lembranças devem servir como exemplo de mau caminho. Foi um tempo ruim, de tempestades. Agora, veio a bonanza.

8) Nunca abandonem um viciado. A pessoa pensa estar no controle da situação. No entanto, está totalmente submissa ao vício. “Esquecer” ou “fingir não ver” pode ser fatal. A ajuda pode chegar tarde demais.

Bem, essas são algumas dicas. Senti isso na pele. Tenha fé em Deus quem for religioso ou procure um especialista. Ou faça as duas coisas o mais rápido possível.
Nunca percam a esperança e contem sempre comigo.

*Chico Lang é jornalista em São Paulo. Este depoimento foi retirado de seu perfil do Facebook com autorização e publicado primeiramente no site A Gralha, de Jorge Eduardo, conhecido do autor.  

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3 ideias sobre “Quando se tem um drogado em casa

  1. antonio carlos

    Mas muita gente faz como o avestruz, enfia a cabeça no buraco e não ver o perigo. Por isto esta gente defende como louca, e tenta convencer as demais , de que é preciso legalizar as drogas, assim se sentem melhores

  2. Célio Heitor Guimarães

    Belo, corajoso e eficiente o depoimento do Chico Lang. Deve ser divulgado aos quatro ventos. Parabéns, grande ZB.

  3. taty

    estou vivendo este momento com meu irmao mais novo, ele esta com 24 anos, hoje sou irma e mae dele, estou muito estressada com essa situação, ele mora comigo e a vida dele é vegetar. ele ja pediu ajuda, ja ajudei mas so se tratou por 3 meses e nao quis mais. agradeço pelas dicas, foi muito util .

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