por Chico Lang*
Sei que ter um drogado na família é muito difícil. Alguma coisa bem parecida com um “karma” budista. Ou seja, a família, amigos, pessoas mais próximas sofrem junto com o usuário. Querem ajudá-lo mas não sabem nem por onde começar. Não sou especialista no assunto, porém vivi um drama com meu filho mais velho, o Pedro Thiago, na época mergulhado no crack. Reconheço: tivemos sorte, embora ele ainda esteja em tratamento na Clínica Desafio Jovem Peniel, no Mato Grosso do Sul, na cidade de Três Lagoas.
Procurei usar de bom senso e não perder o equilíbrio emocional em etapa nenhuma da cura. Aqui vão alguns passos dados por mim e minha família.
1) O primeiro passo é convencer a pessoa a aceitar o tratamento. Nada pode ser feito se ela não deixar, se não se reconhecer como um dependente químico e visualizar uma cura. Prepare-se bem para isso. Seja firme, mostre a situação dramática e as opções existentes. Não se deixe levar por apelos emocionais.
2) Depois, dependendo do jeito que o indivíduo encara a vida (se é religioso, intelectual ou não gosta de pensar muito), se deve interna-lo sim. Meu filho, era muito teimoso e dissimulado. Dava desculpas para justificar atrasos, dispensas em empregos, falta de vontade de estudar e outros comportamento antissociais.
3) Sob hipótese alguma tente “curar” um viciado sozinho. Em estágios avançados, o que você falar entra por um ouvido e sai pelo outro. Não confundam onipotência com amor. Aquela pessoa que você conhecia mudou completamente por causa do vício. Só desconhecidos (médicos, psicólogos, psicanalistas, bispos, padres, monges) poderão chocá-los, impactá-los, mostrando a realidade da situação e ou não o risco de morte. A consciência é dada pelo Outro.
4) Internada, a pessoa costuma fazer chantagem emocional. Aí, então, é outro drama. Um martírio ético e moral, com tendência a se transformar em um enorme complexo de culpa. A família tem de encontrar forças para rejeitá-lo. O indivíduo entra na fase de “abstinência” da droga e inventa qualquer coisa para voltar a usá-la.
5) Cada paciente tem o “tempo dele” para reabilitar-se. Uns conseguem rápido. Outros levam anos. O tratamento exige paciência de todos, médicos, enfermeiros, voluntários, parentes e amigos.
6) Desaconselho tirar o ex-usuário (tomara que chegue logo a esse ponto) sem ter ele uma função social determinada. Um emprego por exemplo, algo que o deixe ocupado, cansado pelo esforço intelectual ou físico. Sentindo-se útil, reenquadrado na sociedade, dará valor à luta de todos e dele próprio.
7) A religião ou grupos específicos de lazer ou trabalho são ótimas alternativas para substituirem antigas amizades, provavelmente ainda envolvidas com drogas. Enterrar o passado é fundamental. As lembranças devem servir como exemplo de mau caminho. Foi um tempo ruim, de tempestades. Agora, veio a bonanza.
8) Nunca abandonem um viciado. A pessoa pensa estar no controle da situação. No entanto, está totalmente submissa ao vício. “Esquecer” ou “fingir não ver” pode ser fatal. A ajuda pode chegar tarde demais.
Bem, essas são algumas dicas. Senti isso na pele. Tenha fé em Deus quem for religioso ou procure um especialista. Ou faça as duas coisas o mais rápido possível.
Nunca percam a esperança e contem sempre comigo.
*Chico Lang é jornalista em São Paulo. Este depoimento foi retirado de seu perfil do Facebook com autorização e publicado primeiramente no site A Gralha, de Jorge Eduardo, conhecido do autor.
Mas muita gente faz como o avestruz, enfia a cabeça no buraco e não ver o perigo. Por isto esta gente defende como louca, e tenta convencer as demais , de que é preciso legalizar as drogas, assim se sentem melhores
Belo, corajoso e eficiente o depoimento do Chico Lang. Deve ser divulgado aos quatro ventos. Parabéns, grande ZB.
estou vivendo este momento com meu irmao mais novo, ele esta com 24 anos, hoje sou irma e mae dele, estou muito estressada com essa situação, ele mora comigo e a vida dele é vegetar. ele ja pediu ajuda, ja ajudei mas so se tratou por 3 meses e nao quis mais. agradeço pelas dicas, foi muito util .