8:29Os órfãos de Nelson França

Nelson França tinha 48 anos. Vigilante, não carregava no bolso nem tinha em casa a carteirinha de um plano de saúde, destes que estão cada vez mais vampiros e aumentaram a mensalidade muito mais que a inflação durante os últimos anos – e pioraram o atendimento, obviamente. O vigilante, que arriscava a vida protegendo a dos outros,teve os 15 segundos de fama na televisão da forma mais absurda possível. Nelson apareceu numa gravação feita por uma brasileira atônita que passava no local e encontrou ele caído numa calçada e rolando no chão em agonia e dor. Nelson estava morrendo na frente de um hospital particular, que tem nome de santo, Santo Expedito, na Zona Leste de São Paulo. Os minutos que antecedem a morte de um ser humano que sofre são uma realidade que não queremos nem pensar. Os minutos que antecederam a morte de Nelson França são um exemplo de um país em estado agônico em todos os sentidos. Havia médicos dentro do hospital, mas ele não foi atendido porque ali só se se presta socorro a quem tem plano de saúde. Um médico e um enfermeiro só apareceram quando o Corpo de Bombeiros chegou. Já era tarde. Recentemente aconteceu algo parecido com o fotógrafo Luis Carlos Marigo, no Rio de Janeiro, depois que ele teve um enfarte dentro de um ônibus e foi levado para um hospital. Lá, como no caso de São Paulo, seguranças que estavam na portaria deram a ordem impessoal, desumana, aterrorizante, de que não haveria possibilidade de atendimento. Ficaram então assistindo ao espetáculo dantesco da morte chegando, enquanto, provavelmente, dentro do hospital, os senhores doutores, os que devem achar aquele juramento profissional que fizeram uma lorota, assim como a maioria dos nossos políticos acha que o dinheiro do povo não tem dono, por isso se fartam em roubos descarados, esses médicos estavam num mundo que é só deles, à parte, se sentindo enviados especial dos deuses à Terra para decidir sobre a vida de quem cai em suas mãos – mas apenas se tiverem planos de saúde ou dinheiro para pagar. Nelson França estrebuchando no chão frio somos nós todos, brasileiros perdidos com conhecimento de causa ou não – mãos atadas pelos aparelhos de estado, por um cipoal de leis, por uma justiça sonada que só acorda por interesse próprio de seus integrantes, por quadrilhas organizadas no andar de cima, formadas por grupos cuja ganância é infinita, por líderes que exploram a ignorância mantida por um sistema educacional estropiada e  pelo entretenimento ilusório da fábrica imbecilizante que é a televisão. Este brasileiro morreu e, agora, para variar, as responsabilidades serão apuradas, o que não quer dizer absolutamente nada. O Brasil agoniza há muitos e muitos anos e chegamos ao ponto em que o normal é anormal, ou seja, ser honesto e ter alguma esperança de viver decentemente sem entrar na roda-viva da podridão. Que gigante adormecido? Que país do futuro? Morremos mais um pouco com o até então anônimo Nelson, um vigilante que não pode mais proteger seus filhos, os filhos desta pátria mãe…

Compartilhe

4 ideias sobre “Os órfãos de Nelson França

  1. antonio carlos

    Pindorama é a terra dos contrastes, uma semana depois do fim da Copa das Copas uma pessoa sem plano de saúde morre na porta de um hospital que, só atende gente que tem plano de saúde. A vida sempre teve preço em Pindorama, quem não pode pagar que se vire. Mas não deveria ser assim, pois segundo o 51 temos o melhor sistema público de saúde do mundo. Então não há necessidade de planos de saúde. Por que será que a ninguenzada do andar de cima, ou os que podem pagar não confiam nas palavras do 51? Ah, aonde fica o Juramento de Hipócritas? Perdão, Hipócrates. Mas o cara era pobre, não podia pagar pela própria vida.

  2. sergio silvestre

    Dentro do hospital não havia um médico cubano senão ao menos ele teria sim os primeiros socorros.
    Faz tempo que uma grande maioria dos médicos se formam para ficar ricos rapidamente e a materia prima para ter muito dinheiro é a doença ,inclusive alguns tratam da sua doença e não a curam definitivamente para manter seu ganho.
    Na área odontológica tombem,virou caça aos desdentados,onde muitas clinicas prometem milagres e passam por cima de muitos conceitos para encher a boca de dentes de banguelos em geram desde que ele tenha mais de 10 mil reais.
    Ai quando qualquer governo tenta minimizar a situação,trazendo para o Pais médicos com vontade de trabalhar,tem um bando de hipócritas pentelhando e se dizendo jamais querer cair nas mãos de um bom medico cubano.
    Ai acontece como a postagem escrita acima,morre um cidadão em frente a um hospital cardiaco como aconteceu a dias atrás e botam a culpa no governo pela saude parca que supostamente da a seu povo.
    Não sabe o fdpta,que o SUS é o maior plano de saudê do mundo e que a maioria da população só vai ao médico quando está em estado critico e ai quer na hora atendimento.
    Se fazer de uma forma preventiva estará com certe-a bem atendido.pois tenho um plano de saude dos melhores e para ser atendido por um cardiologista que me acopanha a anos tenho que reservar 30 dias antes minha consulta.

  3. toledo

    A justiça seria feita, se não analisarmos pelo macro, mas fossemos um pouco mais no detalhe.
    Lamentável a morte do cidadão na frente de um hospital sem atendimento, mas e a justiça onde fica. Ela será sempre poupada dos absurdos como se nunca pudesse ser responsabilizada de nada. O poder judiciário é independente do executivo. E mais fácil olhar pelo macro e dizer é culpa do SUS, do Executivo mas e o Ministério Publico porque não toma uma atitude para punir quem foi omisso com o atendimento. Qual o nome dos donos deste Hospital, eles serão responsabilizados ? os médicos que estavam no Hospital foram avisados ?
    Fica fácil apontar um culpado, e sempre será o Governo, mas esquecemos de que ele é composto de três poderes.

  4. leandro

    Quando eu era criança ouvia meu pai falar que na vida seremos felizes e tranquilos com várias coisa, mas, algumas são mais necessárias. 1- Não precisar e nem ter problemas com a polícia 2- Não precisar do Judiciário e 3- Não precisar de médicos e nem de hospital. Nesse ultimo caso a dose é acentuada quando necessitamos de médicos e hospitais públicos, sejam eles com brasileiros ou cubanos ou qualquer outra nacionalidade. Também aprendi que o melhor se precisarmos desse pessoal o interessante é ser amigo e ter amigos quer direta ou indiretamente. Infelizmente o Nelson França não teve sequer a chance de ter amigos. Assim ele não foi o único nem será o ultimo a ter esse tratamento seja ele público ou pro9vado, pois parece em alguns casos que estamos sendo tratados por semideuses que como nos tempos dos circo Romanos, levantam ou abaixam o polegar para salvar ou não a vida. Lamentável que estejamos falando de um assunto que um infeliz não tinha recursos, e não teve a influência quer sua ou de amigos para ajuda-lo no momento de salvar sua vida. Não há como sabermos de quem é a culpa e assim me parece que a culpa é nossa em acreditarmos nos planos de saúde sejam privados ou públicos, assim devemos mesmo acreditarmos em Deus que é o amigo de fato e ainda termos muito, mas muito dinheiro para comprar a nossa saúde e em muitas vezes a vida. Lamentável.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.