8:35O samba como escola

por Sérgio Brandão

Os gringos vieram e levaram a nossa coroa de reis do futebol. Chegaram e ficaram em Cabrália, foram simpáticos, distribuíram alegria e agora estão prontos para decolar com a nossa coroa debaixo do braço.

Com a gente ainda fica a alegria de gostar de futebol e acreditar que um dia retomaremos o reinado. Ainda temos a ginga que deve estar em algum lugar. A gente acha. Quem sabe em algum garoto que ainda não nasceu ou que nasceu, mas que ainda não joga bola. Ou que preferiu o computador.

Mas acredito que ainda reencontraremos o nosso futebol nos pés de algum garoto e de toda uma geração de meninos craques de bola que nos devolva a coragem de voltar a jogar bola, pra cima dos adversários , com os dribles desconcertantes, nossa principal arma durante anos de futebol.

A geração de hoje parece ter trocado estes dribles pelo malabarismo, com embaixadas que mais parecem números de circo. Jogadores massudos, criados em academias, suplementados com uma alimentação pra lá de especial.

Os campinhos de bairro, partidas de cinco, na rua, driblando carros em ladeiras, talvez façam falta na formação destes talentos.

Cansei de ver escolinhas de futebol admitindo meninos sem nenhuma intimidade com a redonda. Cansei de ver talentos em escolinhas serem aconselhados a não tentar o drible. A orientação é o coletivo, o passe, quando muito o lançamento.

Mané, Pelé, Rivelino… não tiveram escola. Uma geração mais recente, Sócrates, Zico, Falcão e Romário, também não.

O futebol europeu foi motivo de piada enquanto correu feito açucareiro. Sem cintura molejo e ginga, não eram ameaças. Se superaram, aprenderam a correr, ousam já há algum tempo e se revezam na soberania do futebol mundial. Desta vez estão levando a nossa coroa em definitivo.

Precisamos reaprender, usando a mesma humildade que eles tiveram.

Temos o Carnaval como escola. O samba ainda é nosso. Quem sabe esteja no samba o segredo para reaprender o drible.

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