6:57Declaração de voto

A revista CartaCapital declarou apoio à candidatura da presidente Dilma Rousseff em editorial do jornalista Mino Carta, diretor da publicação (ler abaixo). Segue uma tradição iniciada nas campanhas de Lula da Silva. A revista Veja seria mais honesta com os leitores se fizesse o mesmo em relação a Aécio Neves, apesar de isso ser evidente.

Por que escolhemos Dilma

Começa oficialmente a campanha eleitoral e CartaCapitaldefine desde já a sua preferência em relação às candidaturas à Presidência da República: escolhemos a presidenta Dilma Rousseff para a reeleição.

Este é o momento certo para as definições, ainda mais porque falta chão a ser percorrido e o comprometimento imediato evita equívocos. Em contrapartida, estamos preparados para o costumeiro desempenho da mídia nativa, a alegar isenção e equidistância enquanto confirma o automatismo da escolha de sempre contra qualquer risco de mudança. Qual seria, antes de mais nada, o começo da obra de demolição da casa-grande e da senzala.

O apoio de CartaCapital à candidatura de Dilma Rousseff decorre exatamente da percepção de que o risco de uns é a esperança de outros. Algo novo se deu em 12 anos de um governo fustigado diária e ferozmente pelos porta-vozes da casa-grande, no combate que desfechou contra o monstruoso desequilíbrio social, a tolher o Brasil da conquista da maioridade.

CartaCapital respeita Aécio Neves e Eduardo Campos, personagens de relevo da política nacional. Permite-se observar, porém, que ambos estão destinados inexoravelmente a representar, mesmo à sua própria revelia, a pior direita, a reação na sua acepção mais trágica. A direita nas nossas latitudes transcende os padrões da contemporaneidade, é medieval. Aécio Neves e Eduardo Campos serão tragados pelo apoio da mídia e de uma pretensa elite, retrógrada e ignorante.

A operação funcionou a contento a bem da desejada imobilidade nas eleições de 1989, 1994 e 1998. A partir de 2002 foi como se o eleitorado tivesse entendido que o desequilíbrio social precipita a polarização cada vez mais nítida e, possivelmente, acirrada. Por este caminho, desde a primeira vitória de Lula, os pleitos ganham importância crescente na perspectiva do futuro.

CartaCapital não poupou críticas aos governos nascidos do contubérnio do PT com o PMDB. No caso do primeiro mandato de Dilma Rousseff, vale acentuar que a presidenta sofreu as consequências de uma crise econômica global, sem falar das injunções, até hoje inescapáveis, da governabilidade à brasileira, a forçar alianças incômodas, quando não daninhas. Feita a ressalva, o governo foi incompetente em termos de comunicação e, por causa de uma concepção às vezes precipitada da função presidencial, ineficaz no relacionamento com o Legislativo.

A equipe ministerial de Dilma, numerosa em excesso, apresenta lacunas mais evidentes do que aquela de Lula. Tirante alguns ministros de inegável valor, como Celso Amorim e Gilberto Carvalho, outros mostraram não merecer seus cargos com atuações desastradas ou nulas. A própria Copa, embora resulte em uma inesperada e extraordinária promoção do Brasil, foi precedida por graves falhas de organização e decisões obscuras e injustificadas (por que, por exemplo, 12 estádios?), de sorte a alimentar o pessimismo mais ou menos generalizado.

Críticas cabem, e tanto mais ao PT, que no poder portou-se como todos os demais partidos. Certo é que o empenho social do governo de Lula não arrefeceu com Dilma, e até avançou. Por isso, a esperança se estabelece é deste lado. Queiram, ou não, Aécio e Eduardo terão o pronto, maciço, às vezes delirante sustentáculo da reação, dos barões midiáticos e dos seus sabujos, e este custa caro.

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9 ideias sobre “Declaração de voto

  1. Antônio

    Por quê ela tem quer ser mais honesta com os outros candidatos??
    Eles já não tem os seus representantes na mídia??

  2. Diogo Almeida

    Está comparação foi desnecessária! carta capital e Veja…..em primeiro lugar Mino Carta já se provou ser um dos maiores vira casacas deste Pais, já foi da veja, e de tantos outros veículos de informação! Desde o começo a CC obedece ordens do sr Luis Inácio e é muito bem recompensado! Declarar o voto, como revista, não é uma obrigação, porém eles fizeram, e podem ter recebido bem! Colocar a veja neste mar de lama é bizarro, nenhum veículo é obrigado a declarar voto, outro ponto, a revista não pode falar em nome de seus articulistas….no caso a Veja não faria isso, pois, para ódio mortal de muitos, ainda é um dos poucos que tem membros de todos os lados….tem sim a tendência anti populista, a tendência reacionário, e de defender privados ante ao público….porém, nada implica em declarar ou não o voto! O espaço para aqueles que querem pensar individualmente vai ficando cada vez mais limitado!

  3. Carlos H. Ribeiro

    Você está certo, Zé Beto, é evidente. Mas nem todos enxergam o óbvio, rs.

  4. toledo

    Caro Diogo, você acredita que na Veja tem jornalista que não seja a favor do Patrão ? Se você disser que sim, por favor me mande o e-mail que você temdo Papai Noel , eu quero marcar para conversar com ele.

  5. Ivan Schmidt

    O comendador Mino Carta, para contrastar com os barões da mídia por ele próprio assinalados, de uns tempos para cá passou a adotar tradicional prática dos maiores jornais do mundo, especialmente nos Estados Unidos, ou seja, declarar apoio a candidatos à Presidência da República. Nenhuma novidade. Lembro-me que na campanha de Jânio Quadros em 1960, o Estado de S. Paulo, o jornalão dos Mesquita, como diria Alberto Dines, volta e meia fazia um editorial de louvação ao homem da vassoura, que acabou levando o Brasil a uma situação caótica, ensejando um golpe de Estado. Pouco tempo depois os editoriais do Estadão passaram a verberar as qualidades de Castelo Branco, cujo governo era classificado como “extraordinário”.
    E, mais adiante, os editoriais e a maioria do espaço dedicado à política nacional — como uma biruta de aeroporto — mudaram o foco para a Frente Ampla que reunia Carlos Lacerda, Juscelino Kubitschek e… quem diria, o deposto João Goulart.
    O que Mino Carta não aprendeu é que os outros têm o direito de pensar diferente…

  6. leitor

    Boa, Zé Beto. Dos dois primeiros comentários, depreende-se que a capacidade de compreender é diretamente proporcional à de se fazer compreender.

  7. sara

    Os leitores nervosinhos, defensores da Veja, não estão acostumados a coisas de primeiro mundo. Lá é assim que se faz, os veículos tomam posição e não ficam simulando uma imparcialidade imbecil, ecoada também nos editoriais de alguns telejornais.

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