O Tribunal de Justiça pediu, a Assembleia Legislativa aprovou, o governo do Estado sancionou em março e, agora, quase quatro meses depois, para aproveitar o clima da Copa, a turma da capa preta foi informada que, sim, a maioria dos desembargadores e juízes vai receber o tal auxilio moradia. Ficaram de fora apenas os pobres coitados que moram em residência oficial. Os outros, os que são donos das casas humildes onde moram, esses receberão uma ajuda que corresponde a 15% do salário – e isso sem direito a qualquer tipo de desconto, como acontece com os mortais comuns, porque a vida está dura. Calcula-se que essa ajuda custe algo em torno de R$ 32 milhões por ano aos cofres públicos (média de R$ 3,2 mil para cada inteligência e respectivo teto). Mas, como disse tempos atrás o ex-presidente do TJ, não vai ser um dinheiro extra, e sim o que está lá no cofre, ou seja, o dinheiro do contribuinte que está sobrando. Ontem, em entrevista na televisão, o presidente da associação da classe tentou justificar este que é, na verdade, um aumento de salário pateticamente disfarçado. Ele apontou outros tribunais, o ministério público, que já recebem há tempo tal coisa. Foi mais longe: colocou no balaio da comparação os profissionais liberais que ganham bem pela capacidade, etc. Pois bem, se algum Tribunal de Justiça resolver diminuir os salários e acabar com os penduricalhos como este implantado agora, o daqui vai imitar? Médicos, engenheiros e outros profissionais que se destacam em suas profissões ganham muito bem pela própria capacidade, não por decreto que beneficie toda a classe. E se trabalham em alguma empresa, qualquer pisada de bola é passível de demissão sumária. Ninguém coloca em dúvida o valor dos nobres juízes e desembargadores e a importância da Justiça numa sociedade democrática, mas quando atropelam o bom senso, como neste caso, para receber algumas moedas a mais, sempre se pergunta se a capa preta que colocam para julgar lhes dá o dom de pairar acima do bem e do mal.