7:05A subserviência e a sova memorável

por Ivan Schmidt

Não há como descartar o affaire Roberto Requião versus PMDB (ou o que resta dele), diante da total inversão do que se apregoava um dia antes da realização da convenção estadual, para que se decidisse por votação dos delegados o caminho a seguir: candidatura própria ou apoio à reeleição de Beto Richa.

O leitor está lembrado da pretensa inerrância com que os apologistas da aliança com os tucanos se referiam ao resultado da convenção, chegando ao cúmulo de antecipar o número exato de votos a favor da coligação com o governador, lançando mão da capciosa exegese de que esta era a melhor solução para o partido, ao menos na conjuntura atual.

Seria altamente desejável saber o que passaram a pensar depois da sova memorável os mentores do plano de subserviência ao Palácio Iguaçu, verbalizado a torto e a direito pelo deputado Luiz Cláudio Romanelli, tido e havido como fiel escudeiro de Requião. Foram também emblemáticas as declarações do ex-governador Orlando Pessuti e do deputado Caíto Quintana, políticos que remetem o pensamento do eleitor paranaense para os idos de 1980, quando o então PMDB velho de guerra (aquele era o autêntico) deu aquela estrondosa lavada no partido que teimava em manter alçada a bandeira do golpe militar.

É provável que Caíto sequer tenha se dado conta do ato falho cometido ao explicar a posição de agora, rememorando que sua entrada na vida pública se deu numa época em que verdadeiramente era demonstração de coragem assumir posição política contrária aos que defendiam o regime militar. A seu favor, o deputado citou ainda que se lançou à disputa de uma cadeira na Assembleia Legislativa em município situado em área de segurança nacional, no qual na prática e na teoria o mando político estava entregue a gente da inteira confiança do status quo.

Qual teria sido o ato falho de Quintana? A resposta é óbvia. Tantos e quantos mandatos depois o deputado anuncia trajeto inverso ao fazer a opção tardia pelo remanescente de um sistema há muito tempo repudiado.

Voltando ao início do comentário cabe perguntar o que fará Requião para organizar a campanha eleitoral?

Perdido o apoio do PMDB, mesmo assim o governador conta com uma pilha de partidos médios e pequenos, que se não trazem eleitores entram no cômputo final do tempo de Beto no horário eleitoral. É sabido que a quantidade absurda de legendas pouca coisa adiciona a uma campanha senão o aumento do tempo de rádio e televisão. Claro que há negociação prévia entre os interessados diretos, figurando como moeda de troca secretarias, diretorias e altos cargos nos diferentes setores da administração estadual.

Nesse particular, a escolha do candidato a vice-governador é também um trunfo importante nas negociações. O nome de maior densidade para integrar a chapa de Beto como vice, e o debate foi intenso durante a semana, é o deputado federal e secretário Ratinho Junior. Entretanto, este escriba ouviu domingo passado do próprio pai do jovem político, que ser vice não serve para coisa alguma e que seu filho não será vice em hipótese nenhuma. Junior, todos sabem, tem seu projeto político pessoal e pode esperar mais algum tempo. Seu alvo preferencial, dizem, é eleger numerosa bancada de deputados estaduais pela legenda do PSC e, com esse cacife apreciável, botar as cartas na mesa.

Mas, poder é poder e a perspectiva de Junior poderá escancarar uma vertente nada desprezível. Tudo depende, porém, da vitória de Richa, mas o raciocínio tem alguma lógica. Eleito vice, Ratinho assumiria o governo porque é clara a intenção de Richa de seguir na vida pública, como deputado federal ou senador. Assim, Ratinho, além de concluir o mandato poderá se candidatar a governador, e se eleito, prosseguir uma carreira que daria novas tintas ao equilíbrio das forças políticas que se revezam no poder desde os anos 50 do século passado.

Refiro-me essencialmente ao longo período da influência exercida por Ney Braga, que elegeu Paulo Pimentel e garantiu a indicação de Emílio Gomes e Jaime Canet Junior para o governo, e a sua própria como governadores indiretos. Depois vieram os três governos do PMDB (Richa, Álvaro e Requião), os oito anos de Jaime Lerner e mais oito de Requião (ufa!), até a eleição de Beto. Ratinho Junior é o predestinado para romper esse cenário?

Desculpem-me pela nova digressão. Um problema para Requião (o inspetor Maigret certamente o resolveria mais facilmente) é a remota chance de atrair legendas de peso para a coligação peemedebista, pelo fato de que quem não está com Beto está apalavrado com Gleisi Hoffmann. E este leque se reduz ao PDT, PCdoB e PSD, no plano federal coligados com a presidente Dilma Rousseff, o que tornaria palatável sua presença num palanque amigo no Paraná.

No plano dos factóides e do vale tudo, comentou-se na esteira da convenção do PMDB que Requião (ele se defendeu dizendo que a ideia partiu do PT) aventou a hipótese do afastamento da candidatura de Gleisi e a indicação do deputado Enio Verri para completar a chapa como vice-governador. Nada mais improvável.

No caso de chapa pura o candidato a vice de Requião será o médico Gilberto Martin, ex-secretário da Saúde, aliás, com aprovada atuação no delicado setor, falando-se igualmente da deputada Rosane Ferreira (PV). Todas as questões pendentes devem ser resolvidas até a próxima segunda-feira (30), prazo estabelecido pela legislação eleitoral para a composição das chapas e coligações proporcionais.

Concedo aos articuladores do apoio do PMDB à reeleição de Beto Richa, o mérito de terem tirado o ex-governador da pasmaceira do Senado e reavivado nele a vocação do animal político no vero sentido atribuído à expressão pelo filósofo Aristóteles. Resta a esse pessoal curtir a frustração do ridículo erro nas contas, embora tenham aprendido de graça com quantos paus se faz uma canoa.

O que se sabe é que quando acuado Requião vira fera, e é nessa condição que pela quarta vez sairá às ruas e praças do Paraná para pedir os votos da população. Eleito, será o único cidadão brasileiro a governar seu estado por quatro mandatos, ou exatos 16 anos! Só por isso merece uma estátua…

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4 ideias sobre “A subserviência e a sova memorável

  1. Ivan Schmidt

    Citei o ato falho do deputado Caíto Quintana, mas acabei deslizando feio no cálculo dos mandatos de Requião. Se eleito em outubro para o quarto período como governador ele completará 16 anos no Palácio Iguaçu… como o uso do cachimbo faz a boca torta, dei de barato mais quatro anos para a aristotélica figura…
    Tudo está no terreno do imponderável e da futurologia. É possível também que na altura das eleições gerais de 1918 o instituto da reeleição tenha ido para o brejo ou o pijama de flanela aprisionado Requião de modo irreversível! Vade retro…

  2. Ivan Schmidt

    Caro Zebeto! Realmente o meu caso é de psiquiatria! No comentário acima falei de eleições gerais de 1918,
    quando Requião e eu ainda teríamos de esperar um pouco mais de 30 anos para nascer! Naqueles idos a Europa se refazia dos horrores da Primeira Guerra Mundial e o governo republicano tentava consertar a bagunça deixada pela Guerra do Contestado no Paraná e Santa Catarina.
    Nem Freud explicaria o fato de alguém pensar nas eleições de 2018 e escrever 1918! A coisa tá feia…

  3. sergio silvestre

    Estavam sentados em uma grande mesa os onze deputados e no meio o Pessuti.
    Todos estavam rebelados,queriam ter mais participação no EDEN ,queriam mais licor,mas o supremo lhes não lhe davam chances,até por que toda a multidão gostava mais do supremo do que todos os outros e isto estava empacando a carreira e sua ascenção a mais poder.
    Então resolveram boicotar o supremo,todos apóstolos e anjos resolveram apoiar o diabo e com isso depois tomar conta do ceu.
    Mas alguem vendeu por trinta dinheiros o mentor,o anjo rebelado e deram com os burros nagua.
    Foram lançados ao limbo e agora são coadjuvantes do capeta.
    Tentam de todo jeito atentar se aproximar novamente,mas para isso o supremo lhes passou uma penitencia que se não for cumprida não voltam ao seu seio farto .
    Vai transformar todos num corvo que vão amolar o bico numa gigantesca pedra de 100 metros de altura,por 100 de largura e quando a pedra for gasta ,estará cumprida a penitencia.

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