8:19Pra quem já comeu mamona, engolir o adversário é questão de oportunidade

Roberto Requião é o último grande líder da política paranaense. Seus súditos podem ter orgasmos múltiplos ao ler isso. Faz parte. Num país como o nosso, verdadeiro manicômio, poderia ser presidente da República, mas ele não veste o terno da enganação, é sincero na sua loucura e, por isso, se perde nos próprios delírios de comandante. Amou Hugo Chávez porque o coronel venezuelano chegou lá. Como o mestre, Requião só sobrevive se estiver em guerra com os outros, seja ele uma pessoa, um partido, uma instituição. Se não tiver isso, entra em depressão – e a dele, imagina-se, é da grandeza da sua mania, ou seja, essa que o faz pensar e agir como se fosse Deus. Já levou peteleco de três pessoas, já admitiu fazer pacto com o diabo para ganhar eleição, já torceu dedo de repórter, já roubou gravador de jornalista, já comeu mamona, já pintou cavalo de capitão do Exército. Ele carrega a aura do destemido – e isso para seu público fiel é o máximo, ou seja, é o cara que faz aquilo que a grande maioria tem medo. Peitar o Judiciário, por exemplo. O homem que bancou o Ferreirinha, a maior fraude da história das eleições do Paraná, pode tudo. Se andasse com um turbante e uma túnica listrada, não perturbaria os seguidores. Mas perturbaria, sim, os adversários, que morrem de medo deste poder que só ele tem e que faz lembrar outros líderes malucos como Mao Tse Tung e Fidel Castro, para não citar outros tipos que chegaram ao assassinato em massa. Requião foi eleito três vezes governador do Paraná, e isso revela um pouco do perfil desse povo, que, em essência, é encolhido. Nada melhor do que ter um destemido para resolver por todos, não? Está certo que, com o passar dos anos, essa aura esmaeceu um pouco, mesmo porque ninguém engana por tanto tempo assim. Mas agora, quando ele ressurge do anonimato de Brasília, onde é conhecido apenas como um maluco no Senado, e atropela Beto Richa e os peemedebistas adesistas, vencendo uma convenção que o ungiu candidato de novo, parece ter recebido uma dose de sangue novo. Aos 73 anos, Roberto Requião rejuvenesceu e vai passar os próximos seis meses fazendo o que mais gosta: descendo o cacete nos adversários a quem chama de Ken (Beto Richa) e Barbie (Gleisi Hoffmann), mesmo sabendo que é conhecido como Maria Louca. Isso porque nada gruda na mente de quem flutua sobre tudo e sobre todos, como se fosse um profeta, mesmo que este repita sempre, como se fosse um estudante do segundo grau e revolucionário de colégio público, a tal Carta de Puebla e a opção preferencial pelos pobres. Requião quase perdeu a eleição para Osmar Dias ao governo e, depois, para Gustavo Fruet ao Senado. Importa? Não. Ele pode até ajudar Gleisi Hoffmann a chegar ao segundo turno com Beto Richa, mas até lá vai meter medo nos dois e, quem sabe, assim, ganhar novos adeptos do estilo messiânico de ser (o gesto da mão apontando o caminho com dois dedos é sintomático), para ele mesmo disputar o quarto governo. Se conseguir, é uma façanha. Se vencer para governar por quatro anos, será canonizado e poderá até abrir uma nova igreja, onde uma de suas fotos mais conhecidas poderá ser exposta como prova de que ele está acima de tudo: aquela que aparece atrás de uma grade onde há uma placa identificando um cão bravo.

*Publicado no site A Gralha (www.agralha.com.br)

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12 ideias sobre “Pra quem já comeu mamona, engolir o adversário é questão de oportunidade

  1. Ivan Schmidt

    A gralha grasnou e… acertou!
    À canonização proposta (se ganhar o governo pela quarta vez), sugiro uma estátua na praça Nossa Senhora da Salete, mas bem longe da santinha, que o homem é chegado à Carta de Puebla e a opção preferencial pelos pobres só da boca pra fora…
    No primeiro mandato, em campanha pela eleição de prefeitos, Requião passou o dia todo apelando à Nossa Senhora Aparecida pela eleição de seus correligionários.
    Num dos comícios, o carro do governador estacionou diante da catedral de pequena cidade do Norte, com o sol a pino. Então, o locutor que vos fala sugeriu:
    — Governador, já que o senhor falou tanto na Senhora Aparecida, vamos rezar um pouquinho aí na igreja?
    A resposta veio fulminante:
    — Tá ficando louco!

  2. sergio silvestre

    Ele pode ser tudo isso que o tonto escreveu ai em cima ,mas sem duvida foi melhor governador do que este que ai está.

  3. toledo

    O texto ao que o Silvestre se referiu foi do leitor Ivan Schmidt . Com a auto estima baixa, você entendeu como um elogio ao seu texto.
    Mas o seu texto define bem o Requião. Ele e o Greca são ainda os que tem alguma coisa a dizer e pagam o preço das criticas. Mas sobem na cadeira e falam.

  4. sergio silvestre

    Desculpe a franqueza ,mas chamei de tonto quem escreveu o texto postado acima,e decerto foi o Zé Beto mesmo,mas não se preocupe ,tenho um amigo de 35 anos Portugues de Alcanena que vez em quando eu o chamo de abestado nem por isso deixamos de ser bons amigos,e já me chamaram de coisa piór por ai

  5. Zé Beto Autor do post

    pensei que era você, leitor assíduo acocorado atrás da moita. hihihihihihihii

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