7:47Uma Seleção sem graça

por Célio Heitor Guimarães

O grande Rubem Alves não gosta de futebol. É uma das poucas coisas em que discordamos. Para Rubem, futebol, além de ser “um jogo bruto, cheio de trapaças, malandragens, pontapés, empurrões, rasteiras, palavrões e, por vezes, sopapos”, não merece ser levado tão a sério. “Ele deve ser levado a riso” – afirma. E até escreveu um livrinho sobre o tema, onde sustenta que, se levado muito a sério, o futebol provoca fanatismo, e a alegria se transforma em raiva e violência.

Posso não concordar com Rubem sobre o gosto ao futebol, mas tendo a aceitar a sua tese sobre a seriedade do “esporte bretão”, como o definem os especialistas. Sobretudo quando o bom mineiro aborda a “essência da identidade pessoal” do torcedor. “À pergunta filosófica” – sublinha ele – deve-se responder com o nome de um time: “Sou Botafogo”; “Sou Corinthians”. Ou sou Atlético; ou sou “Coxa”. Isso parece significar que quem não torce por um time não existe, não tem alma. E a coisa se torna tão séria que há quem morra ou mate por um time de futebol!

“Torcedores são seres apaixonados” – garante Rubem. Por um time, gritam, choram, brigam, matam, morrem. Isso quando torcidas organizadas não se tornam hordas de assassinos. Quer dizer, um absurdo! Até porque os jogadores que compõem esse time não compartilham dessa admiração, não têm amor ao time em que jogam. Apenas vendem o seu talento pelo salário que o time lhe paga. E assim trocam de equipe sem nenhum sentimento e nenhuma cerimônia.

No entanto, Rubem faz questão de avisar que a sua indiferença ao futebol cessa quando a Seleção Brasileira entra em campo. Isso porque a Seleção costuma reunir alguns craques que lhe devolvem o espírito do futebol como brincadeira. Cita, por exemplo, Ronaldinho Gaúcho, como poderia citar hoje Neymar. Para ele, Ronaldinho é (era) uma criança, uma alegria sorridente, ainda que não faça gols. Vendo Ronaldinho (ou Neymar) jogar, Rubem confessa que olha para o campo e vê vinte e dois meninos brincando.

Não sei o que o meu querido Rubem está achando da Seleção de Felipão. Mas, penso que, mesmo com a presença de Neymar em campo, ele não consegue enxergar ali vinte e dois meninos brincando. Provavelmente, verá onze meninos infernizando a vida de onze moleques assustados – os nossos.

De minha parte, se me permitem opinar, digo-lhes que a atual Seleção Nacional  de Futebol do Brasil é uma coisa lamentável. Falta-lhe talento, criatividade, força, personalidade e preparo emocional. Desde 1958, quando conquistamos o primeiro campeonato mundial de futebol, não vi coisa igual. Quem sabe apenas em 1966, de triste memória, e em 1990, com Sebastião Lazaroni. Hoje, nossos craques são apenas um grupo de meninos bem tratados, bem nutridos e muito bem remunerados, que não tem sabido como se conduzir no gramado. Estrelas capazes de frequentar jornais e revistas internacionais de celebridades, mas incapazes de honrar em campo a arte, a qualidade e a história do futebol brasileiro. Tornaram-se neymardependentes e só. Isto é, aprenderam também a cantar o Hino Nacional. Uma tristeza. Mas talvez nem tenham culpa disso. O culpado é quem os convocou, não soube dar-lhes condições de equipe competidora e ainda os convenceu de que eram os melhores do mundo. Mas este também não tem culpa se alguns craques que devolviam a Rubem Alves (e a todos nós) o espírito do futebol como brincadeira – como o citado Ronaldinho ou Robinho ou Kaká – envelheceram e não têm substitutos à altura.

Pode ser que o Brasil ainda venha a tornar-se hexacampeão mundial de futebol neste ano da graça de 2014. Mas, até agora, sem nenhuma graça. É uma das piores seleções do certame. Não dá espetáculo, não anima a torcida e tem mostrado muito pouco futebol. Enquanto isso, alemães, holandeses, mexicanos, chilenos, colombianos, italianos e até franceses, argentinos, norte-americanos e – pasmem! – até os desclassificados australianos encantam a galera, inclusive a brasileira. E aqui no Brasil!

Valha-nos Nosso Senhor do Bonfim!

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