12:32Ei, Pirlo, vai…

Xinguei e xinguei aquele jogador. Com o mesmo palavrão ofensivo que atacaram de forma imbecil a presidente Dilma Rousseffe dois dias antes na abertura da Copa do Mundo no Itaquerão. Mas o meu xingamento era de admiração, de encantamento, daquele tipo que a gente faz para reverenciar ao máximo, pois achando impossível o que estava ali, diante dos olhos, no telão plasmado da televisão. Lembrei também da piada em que um dos personagens sintetiza: “Joga pra caralho!” E então comecei a me culpar porque, meio desligado, nunca tinha prestado muita atenção naquele descabelado e barbudo de 35 anos, a comandar uma seleção tetracampeã do mundo como quem carrega uma cesta e fica distribuindo doces à vontade – isso em forma de passes absurdamente perfeitos, e tudo num ritmo que só os grandes conseguem impor, tanto para seu time como para o adversário. Mais que maestro, Andrea Pirlo, capitão da seleção italiana, comprovou, contra a Inglaterra, aquilo que Neném Prancha, o famoso filósofo do futebol brasileiro, disse: “Jogador faz a bola correr, não corre atrás. Se fosse desse jeito, era só formar um time de batedor de carteira”. Todas as bolas do time italiano passam por ele – e o meia da Juventus faz o simples, porque absurdo no futebol, ou seja, abre espaço, lança com precisão, e sempre acariciando a bola que o atende de forma reverenciada, pois sabe com quem está conversando. Num delírio que só o futebol permite, como seria bom ele naturalizado brasileiro e comandando esta seleção que está aí! Ainda pensando alto, que lição teria Paulo Henrique Ganso se fosse tocado pela serenidade e maturidade do italiano, pois são da mesma escola de talentos! Os 90 minutos de Pirlo sob o bafo quente de Manaus fez a floresta Amazônica e seus rios silenciarem em reverência a um mestre na arte do futebol. E ele ainda coroaria a melhor exibição individual desta Copa até este momento com a cobrança de uma falta que, pelo que a bola fez, trouxe na lembrança o chute e o gol de Nelinho na Copa da Argentina. A diferença é que o lateral bateu do lado direito do campo e a bola fez uma curva absurda para entrar no gol. Pirlo bateu uma falta de frente para o gol, a pouca distância da linha da grande área; ela saiu reta e quando o goleiro inglês saiu para a direita, para defendê-la, a Brazuca fez uma curva para a esquerda do goleiro e explodiu no travessão. Sim, não foi gol, mas precisava? Pouco dias antes do início do torneio, Juninho Pernambucano visitou seu ex-companheiro de time na concetração. Trocaram camisas. São amigos. Pirlo, humilde como só os grandes são, revelou que aprendeu a bater faltas com o brasileiro. Ficava olhando como ele pegava na bola. Aprendeu. Para nos encantar mais ainda. Pirlo, meu caro, vai tomar….

*Publicado no site A Gralha (www.agralha.com.br)

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