11:42Haja engov!

por Ivan Schmidt

A última pesquisa feita pelo Ibope não foi comemorada pela presidente Dilma Rousseff e seus operadores políticos. A razão é que a soma de intenções de voto em Aécio Neves e Eduardo Campos (incluindo os nanicos) supera em quatro pontos percentuais as indicações de voto pela reeleição, tornando quase certa a realização de segundo turno. Para a segunda rodada de votação, a tendência do eleitorado hoje é manter Dilma no Palácio do Planalto.

O que se observa até esse momento é que os candidatos de oposição não haviam conseguido sensibilizar o eleitor com suas homilias, aliás, confirmando o desinteresse generalizado pelas eleições. Mais ou menos o que se verificou no período anterior à Copa do Mundo, em que se percebeu apenas uma rebarbativa campanha de mídia, com destaque para a publicidade e o noticiário da Rede Globo. Atenção da população mesmo só nas últimas horas antes do jogo de abertura.

O calendário fixado pela legislação eleitoral obriga os partidos à realização de convenções nacionais e estaduais até o final de junho. Alguns já o fizeram como o PMDB e PDT confirmando o apoio à reeleição de Dilma. Foi lamentável notar o constrangimento da presidente ao postar-se ao lado de seu ex-ministro do Trabalho, Carlos Lupi, alijado do próprio governo por suspeita de grossa corrupção com verbas a serem aplicadas em projetos de treinamento e reciclagem de trabalhadores desempregados.

Pois estava lá, impávido, o ex-cantor de boleros e sucessor de Leonel Brizola, por mais absurdo que possa parecer, babujando a presidente com juras de fidelidade e amor ao Brasil. O mesmo aconteceu no PMDB, que apesar da resistência de algumas alas, não só se manteve na aliança como também referendou a pré-candidatura do deputado Michel Temer à vice-presidência.

No entanto, o percentual dos delegados contrários ao apoio a Dilma chegou a 41% (275 votos), tirando por completo o brilho de uma convenção realizada num auditório do Congresso Nacional, sem cartazes, fotos ou faixas. Ou seja, uma manifestação frita e burocrática. Para cumprir tabela. Uma vitória de Pirro, como o inefável Roberto Requião poderia lembrar.

Durante o período da Copa a política descerá ao grau zero do interesse público. Não há dúvida que os craques da Nigéria, Camarões e Honduras irão monopolizar muito mais a atenção geral, tornando inevitável a suspensão temporária do discurso político, aliás, cada vez menos atraente. O pessoal somente estará de volta no final da Copa. Caso aconteça aquilo que Galvão Bueno, Parreira, Felipão e Dilma dizem a toda hora – Brasil campeão – o discurso oficial será fortalecido com o “eu não disse!”, ao passo que a oposição terá de fazer das tripas coração para empolgar o eleitorado.

A lamentar resta o fato de que em nosso país ainda há espaço para esse tipo de reação nos meios políticos, ou seja, o aproveitamento oportunista de eventos como a Copa do Mundo para faturar benefícios eleitorais. Não é de estranhar que o hexa campeonato, se vier, passe a ser contabilizado como uma das muitas realizações do governo Dilma.

Contudo, superada a fase futebolística, a oposição terá à disposição o prato suculento das denúncias de corrupção na Petrobras, que nem mais a atual presidente Graça Foster está fazendo questão de esconder. Segundo ela, no depoimento à comissão de senadores e deputados a coisa foi de lascar.

E foi mesmo, porque no mesmo dia em que a presidente da maior estatal brasileira afirmava tal coisa aos parlamentares que a inquiriam, a Polícia Federal prendia no Rio de Janeiro, pela segunda vez, o ex-diretor de abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, sob a acusação de ter conta bancária no exterior com depósitos de US$ 28 milhões. Paulo Roberto que tinha sido hóspede da PF em Curitiba, voltou a ocupar talvez o mesmo aposento em que passara dois meses.

Este será o principal argumento de Aécio e Eduardo Campos, que nas últimas semanas têm elevado o tom das críticas ao governo, chegando a dizer que ninguém merece mais quatro anos de Dilma Rousseff. Mesmo sem assumir a penugem tucana ou o peculiar socialismo eduardiano (que até agora ninguém sabe explicar o que é), não há como esconder a realidade paupérrima oferecida pela atual gestão. Não há, em nenhum Estado, uma só obra de vulto tocada pelo governo federal.

Sem levar em conta as obras nos aeroportos das sedes da Copa, as melhorias na decantada mobilidade urbana que teve muito mais perfumaria que resultados efetivos (não tem metrô, vai de jegue!), para não falar das dispendiosas arenas, o governo quase nada tem a mostrar à população, a não ser a perfunctória ladainha do Mais Médicos, que já perdeu o gás, o programa de habitação popular e o Bolsa Família, principais tributários da torrente de votos a cada pesquisa menos caudalosa da presidente.

A seleção brasileira fez sua parte e venceu a Croácia por três a um, mesmo sem jogar bem. Dona Dilma foi vaiada e permaneceu quase escondida na tribuna de honra. Haja engov…

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