por Célio Heitor Guimarães 

Tenho bons amigos juízes de Direito. Na primeira e segunda instâncias. Outro dia, um desses magistrados, sujeito dedicado, sério e competente, que honra a toga, trocou a Vara Cível pela Vara Criminal, por livre e espontânea vontade. Estranhei e provoquei-o, ancorado no bom relacionamento que temos, à moda daquele personagem alemão de antigamente do comediante Jô Soares: “Que tem? Loco?! Agora resolveu dedicar-se aos bandidos?!”

A resposta chegou em seguida e com uma sinceridade inusual no meio forense. Mas de uma precisão desconcertante. Tanto que me apresso a compartilha-la com os meus treze leitores. Omito o nome do eminente remetente por razões óbvias:

“Dedicar-me aos bandidos?! Estou é fugindo dos bandidos! Os bandidos de verdade estão na Vara Cível! Advogados bandidos tentando a todo instante roubar seus clientes, políticos corruptos, empresários sonegadores e dolosamente inadimplentes, ações de improbidade administrativa, ações populares… É na Vara Cível e da Fazenda Pública que estão os bandidos, pois lá está o dinheiro e a política!

“Vara Criminal é justiça de pobre. Que nem advogado tem. Pobre não incomoda, não reclama. Submete-se bovinamente. Não tem advogado pra ficar perturbando, representando ao invés de recorrer, ameaçando, pleiteando desagravos na OAB. São os coitados que furtam bicicletas e vão presos, em oposição aos grandes condenados em ações de improbidade, que pagam – com o dinheiro roubado – bons advogados pra recorrerem até ao Papa e protelarem por décadas as demandas.

“Por mais paradoxal que possa ser, agora na Vara Criminal estou LIVRE dos bandidos! Cumpre-me tutelar os renegados, marginalizados, os pobres coitados dos meros criminosos baratos. Esses são fáceis de lidar. Restam-me ainda os bandidos da Justiça Eleitoral, que também está sob minha responsabilidade. Esses são, de longe, os piores. Mas como esse ano só há eleições majoritárias, aqui meu trabalho é basicamente só administrativo, de realizar as eleições em si”.

Algo mais precisa ser dito?