6:48Dá-lhes, Guga!

por Célio Heitor Guimarães

O paciente leitor, que se dá o trabalho de acompanhar estas mal traçadas linhas é testemunha de que torci pelo nosso Gustavo Fruet e comemorei a difícil vitória dele para a prefeitura de Curitiba. Ele era o azarão do páreo, capengando em terceiro lugar na disputa, segundo todas as pesquisas de intenção de voto. Mas era também, disparado, o melhor candidato, com passado e presente ilibados e um notável trabalho como deputado federal, especialmente em CPIs da malandragem nacional.

Pois Gustavo ganhou. O eleitor curitibano deu uma demonstração de maturidade política e espantou do Palácio 29 de Março os farsantes, os oportunistas e os paus-mandados. Curitiba festejou.

Dada a situação financeira do erário municipal, Gustavo avisou, desde logo, que o início seria difícil. Precisava colocar a casa em ordem, firmar os pés no chão, encarar a realidade além da fantasia plantada pelos antecessores.

Assim foi no primeiro ano de mandato e continua sendo neste início de segundo. Só que a galera está começando a perder a paciência. Não está acostumada com administração e administrador sérios. É aquela velha história da mulher de César, devidamente adaptada: não basta o administrador público estar trabalhando; ele precisa parecer que está.

Com a precisão que lhe é peculiar, Celso Nascimento foi ao âmago da questão, em sua coluna na Gazeta: “O prefeito Gustavo Fruet está precisando urgentemente de aplicar um ‘choque de gestão’ na turma que o assessora. Caso contrário, continuará acumulando um passivo junto à opinião pública com intensidade inversamente proporcional à esperança que suscitou entre os curitibanos quando da heroica vitória eleitoral que conquistou em 2012”.

E deduziu, coberto de razão: “A sensação crescente é de que há amadores tocando a administração”. Como sintomas, Celso dá dois exemplos: a criação da faixa de ciclistas nas paralelas à canaleta da Av. Sete de Setembro e a concessão de exclusividade à Caixa Econômica e às lotéricas para a venda de talões do EstaR.

Concordo com mestre Celso. A faixa de ciclistas na Sete de Setembro, uma das mais congestionadas vias da cidade, mais que um desatino, foi uma temeridade. Para motoristas e ciclistas. Já a retirada da venda dos talonários de estacionamento dos fiscais do trânsito e das bancas de jornais para entregá-la, com exclusividade, para as casas lotéricas, com todo o respeito, mais do que um desatino, foi um absurdo. Aliás, uma parvoíce onde se enxerga claramente o dedo do PT. Não se encontra em Curitiba um cidadão sequer que tenha aprovado a medida. E se a população não pediu e não está de acordo, por que tomá-la? Afinal, não é para satisfazer os interesses da sociedade que existe a administração pública? A patuleia contribuinte não deveria, então, ser obrigatoriamente consultada pelos governantes antes de ações que afetem a vida da coletividade? Sobretudo quando o administrador se chama Gustavo Fruet e tem na cadeira de vice o PT, o partido que apregoava o “governo participativo”?

E por aí chega-se ao adoidado projeto do metrô curitibano. Faz parte do PAC da “presidenta”, que os antecessores de Gustavo encamparam. É coisa eleitoreira de quem não tem obra para mostrar. Então, vamos nos meter debaixo da terra, cavoucar, abrir buracos sem fim por onde escorregará o dinheiro público sem maior resultado.

O primeiro metrô do mundo surgiu em 1863 em Londres, na Inglaterra, onde se chama undergroud. Era então uma necessidade, em uma cidade com ruas entupidas de carroças, carruagens e ônibus puxados por cavalos. Não havia tecnologia disponível para opções. Um cara chamado Charles Pearson entendeu que a solução para acabar com os constantes engarrafamentos seria transferir o transporte coletivo para cima de viadutos ou para debaixo da terra. Optou-se pela segunda hipótese. A estrutura geológica de Londres colaborava.

Será que, um século e meio depois, não é possível encontrar uma nova saída, mais compatível com a época, sem o custo, os transtornos e as consequências da escavação? Particularmente nesta Curitiba, que espalhou pelo Brasil a ideia das caneletas exclusivas para o transporte coletivo?

Jaime Lerner, que implantou o sistema entre nós, é contra o metrô. Os curitibanos de bom senso também. Até Gustavo Fruet era. Mas mudou de pensamento, pressionado pelas circunstâncias. E a população, foi consultada? Foi, de certo modo, mas a sua opinião não mereceu maior consideração. Trata-se de mais uma imposição de gênios que acham que sabem o que é bom e o que é mau para o povo.

Acorde, meu caro Guga! Deixe de lado a bike e retire do armário aquele velho uniforme de guerreiro que, além de exibir decência num mundo impregnado de patifaria, esquentava as sessões das CPIs de Brasília, emocionou o Brasil e assustou o PT, agora vosso aliado. Está na hora de deixar gravado o seu nome na história desta Capital. E você sabe bem como fazê-lo.

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Uma ideia sobre “Dá-lhes, Guga!

  1. Leandro

    A matéria postada pelo Célio Heitor Guimarães é perfeita, tem traços que demonstram o conhecimento do escrito. Tudo que está dito vem sendo colocado em pequenos comentários a muitos meses e agora foi sabiamente resumido neste texto.
    O perfil do Prefeito é esse mesmo pois venho dizendo que sua postura nobre faz parte de seu DNA, mas, está mesmo acompanhado de profissionais com títulos eméritos universitários, acostumados a um quadro negro ou branco, giz, apostila e livros acadêmicos , onde muitas vezes são cartesianos e não atingem a população.
    Fala -se por aí que os atuais assessores do Prefeito por mais preparados que sejam administram com um notebook e pelo “Power Point”, cujo o agradecimento da Windows é demonstrado com aa vendas de licenças a quem administra o parque de informática da Prefeitura.
    O Célio colocou o dedo na ferida e mostra um alerrta a atual administração que poderia ter menos títulos e mais simplicidade acompanhada de praticidade na busca dos efetivos resultados.
    Neste particular, me lembra algo que aprendi tempos atrás, onde há um orgulho e satisfação de ter oi estar na administração de uma cidade como Curitiba, não se pode querer ou ter a pretensão de que Curitiba se sinta homenageada ou orgulhosa com a presença de certos personagens da administração, na realidade é o contrário, quem serve a cidade é que deve se sentir gratificado por isso. Crfeio que uma dose de humildade e Bom Senso, que hoje está na moda faça com que se baixe a crista e o nariz de alguns não fique tão empinado com acham que devem ter.

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