11:37“Estupificação coletiva”

por Célio Heitor Guimarães

Antonio Veronese é um paulista de Brotas. Mas é também um artista plástico de reputação internacional, com obras expostas em museus de todo mundo. Além da arte, Veronese é conhecido pela sua luta pelas causas sociais, sobretudo contra a violência no Brasil e no exterior contra crianças e adolescentes. Isso já o levou a fazer palestra na Comissão de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, e valeu-lhe a menção Honnoris Causa do Supremo Tribunal Federal brasileiro.

Embora radicado em Barbizon, na França, desde 2004, Antonio Veronese continua com os olhos pregados no Brasil e se tornou um dos mais importantes críticos da chamada elite brasileira, a quem chama de “elitezinha” (parodiando Shakespeare, detectou: “Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã burguesia”).

Na época, a sua saída do Brasil foi noticiada pela revista Veja como tendo sido motivada por ameaças de morte que recebeu. Ele desmente. Diz que se sente em casa na França e que a mudança se deu por motivos essencialmente profissionais. Não obstante sente-se injustiçado pela crítica brasileira que, no seu entender, dedica-lhe “a mais absoluta e total indiferença”.

Agora, acabo de receber do bom Renatinho Mazânek parte de uma entrevista de Antonio Veronese, concedida creio que no ano passado e em circulação no YouTube, da qual peço licença para extrair alguns trechos a fim de dividi-los com meus atuais 13 leitores.

Com seu jeito manso de falar e a costumeira lucidez, Veronese diz-se indignado com o rumo que tomou o seu (nosso) país. Melhor dizendo, com a atual “estupificação coletiva”. E para ele uma das principais culpadas é a televisão brasileira, que é concessão do Estado e tem que ter contrapartida de interesse público.

– Dizer que o povo gosta de porcaria é conversa fiada. O povo consome o que lhe é dado. A televisão não custa nada e ir ao teatro ou ao cinema custa dinheiro, é difícil. Então, ele consome a porcalhada toda: Faustão, Gugu… com esses falsos talentos, esses artistas movidos a jabaculê – pontua.

E assinala: “O país da bossa-nova, quem diria?, acabou no Irajá!”

Segundo Veronese, a bossa-nova é a mais importante música popular criada no mundo na segunda metade do Século XX.

– Ela enche teatros até hoje e é altamente consumida no primeiro mundo – assegura. No Brasil, não. No Brasil a gente tem é essa infecção de sertanejectite, essa música de dois comparsas, essa bobagem toda.

Veronese acha isso muito triste. E desconsola-se de uma vez quando lembra que o site do jornal O Globo, em seu caderno de Cultura, abriu espaço para contar quantas vezes as meninas se masturbaram no último BBB.

– Antigamente – reforça – a televisão abria espaço para o talento, hoje abre espaço para a mediocridade. Duas meninas que não tem… sobre as quais não há nenhum interesse, fritam um ovo na cozinha enquanto conversam abobrinha e o país todo para para ver isso!… E depois vem o site do jornal O Globo, no caderno Cultura, para revelar quantas vezes as meninas se masturbaram dentro do BBB. Com todo o respeito, acho que o dr. Roberto Marinho girou no túmulo.

Sabe por que tudo isso vinha acontecendo, prezado Veronese? Porque ainda não dispúnhamos do “Padrão Fifa”. Agora que o Brasil passou a submeter- se às exigências e aos desígnios da entidade mater do football association, tudo será diferente. A televisão, por exemplo, não terá mais tempo para perder com BBBs. Botará todas as câmaras existentes de olho na bola. Vinte e quatro horas por dia. Pelo menos até 15 de julho. Isto é, se antes disso a seleção canarinho do Brasil não cometer uma rata.

Gugu já está fora do ar, mas o Faustão continua boiando na mediocridade, enquanto a audiência do programa dele afunda a cada semana que passa.

Já a peste “sertanejectite” ameaça continuar. Mas o caderno Cultura do site global, em vez de pesquisar quantas vezes as meninas se masturbaram, poderá investigar quantas bolsas escrotais são estouradas cada vez que uma dupla de comparsas afina a voz. E o dr. Roberto voltará a repousar em paz.

Prá frente, Brasil!!!

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Uma ideia sobre ““Estupificação coletiva”

  1. CURITIBANO ROXO

    Por tais motivos que só assisto History Channel, National Geographic, Discovery e outros de canais fechados.
    Desconheço as e os figurinhas que são referências e despontam em telenovelas, bbb e outras porcaria semelhantes que estão mudando o comportamento e incorporando essa cultura inútil à nação brasileira.

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