Do blog Cabeça de Pedra
Do outro lado da linha, do outro lado do oceano, do outro lado do mundo, a menina dizia que a mãe estava brigando com ela. E estava mesmo! Ele ouvia a voz da mulher ao fundo – e o som que recebia era o de uma dupla em dissonância. As duas, pelo jeito, se amavam – e se odiavam muito em momentos como aquele. Quem estava ao telefone disse que a mãe tinha ameaçado se jogar pela janela. Ele perguntou em que andar estavam. Terceiro. Ele, tranquilo, bem humorado, contou que, se a que tentava despencar não morresse, ia dar um trabalho danado na sequência – porque iria se quebrar toda. “Você não conhece minha mãe?”, disse a voz bonita e aparentando segurança, querendo insinuar que pai e mãe tinham ficado juntos o tempo suficiente para conhecerem os defeitos do outro.Ele então respondeu que não conhecia mesmo, até porque nunca tinha casado – e não tinha filhos. O telefone foi desligado abruptamente. Ele nunca soube nem o nome de quem estava falando lá do desconhecido.