17:22Complexo de argentino

por Rodrigo Fornos 

 

Li dia desses que mais um bairro de Curitiba – o Cabral – decidiu adotar um sobrenome. Agora será Cabral Soho, seguindo o exemplo de Batel Soho.

O SoHo é um bairro de Manhattan, na cidade de Nova York. Seu nome é a abreviação de South of Houston, indicando que se trata da região ao sul da rua Houston, e um trocadilho com o conhecido bairro do Soho, em Londres.

Já em Londres o Soho tem uma tradição histórica. No século 18, as ruas do Soho conquistaram o prestígio dos nobres. No século 19 ele era o local escolhido por artistas e livres pensadores da Europa para germinar seus ideais, produzir suas obras ou mesmo para se ocultarem dos olhos do mundo.

Na liberal e visionária década de 60 o Soho londrino ganhou ares de liberação sexual, com suas lojas de produtos sexuais e seus estabelecimentos voltados para a liberação dos desejos humanos, frequentados até mesmo por austeros cidadãos ingleses, os pretensos guardiões da moral da sociedade vitoriana.

Nesta mesma época a Carnaby Street, uma das mais célebres do Soho, tornou-se conhecida por se tornar o cenário idílico do aparecimento da minissaia, bem como de vestes coloridas e estampadas, e das famosas calças boca-de-sino, usadas por quase todos os jovens deste período.

Voltando à Curitiba, século 21, e depois de conhecer um pouco sobre a origem de Soho, me pergunto se incluir o sobrenome Soho trará algum benefício para o bairro.

Me pergunto se isso não seria de uma breguice e de uma falta de originalidade tamanha – além de ser tacanho – incorporar um “estilo” ao que sequer existe.

Pretenciosamente arrogante acreditar que trazer um nome a um bairro significará uma mudança de comportamento como vimos em Londres e Nova York, por exemplo. Pior ainda, achar que trará benefícios econômicos à região.

Tomara que o meu Mercês permaneça intacto. E longe, muito longe de cabeças pensantes como a desses senhores.

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8 ideias sobre “Complexo de argentino

  1. gervásio

    Ô Rodrigo! Boa, vamos botar essa besteira nos fornos dos raios que os parta de quem inventou.
    Ou mudemos tudo: Xaxim para Xaxan; Jardim das Américas para América’s Garden, Vila Centenário para Century Village; Vila das Torres para Tower’s Village e por aí vai. Baita macacaquice.

  2. Mariana Guimarães

    Excelente ponto de vista, Rodrigo! Vamos continuar exportando e engolindo com farinha tudo sem nem saber o porquê até quando?!/!!

  3. Pimpão

    Isso começou em meados dos anos 80 com o tal do Champagnat, ao invés de Bigorrilho; aí fizeram onde hoje fica o Jardim Botânico ( cuja mata fechada hoje foi meu quintal de pegar madeira pra esilingue, onde banquei o Tarzan nos cipós existentes e pegava paina pra fazer raia) e trocaram o nome de Vila Capanema pra Jardim Botânico (aarrgh). Mossunguê virou Ecoville( outro aarrgh), fora os já citados Batel e Cabral com “sobrenome” nada criativo. em resumo….complexo de argentino nada,é coisa de JECA DESLUMBRADO mesmo, que campeia as hostes da elite babaca e da classe mérdia jacu desta província que já foi e não será mais modelo em nada, somente em ser mais jeca “chic”. Não é a toa que temos os políticos (e desembargadores e juízes) que temos nos últimos 30 anos, o povinho daqui merece mesmo. Modernidade é ser original, mas preferem copiar AÍ não querem ser chamados de….como mesmo os argentinos se referem aos brasileiros??? Ah, sim! MACAQUITOS.

  4. juca

    Todos os comentários por si já demonstram o que o Curitiba pensa dessa nova mania de alguns. Para ter melhor conhecimento do que representam os nomes do bairros da cidade, seria interessante procurarem, o IPPUC, a Fundação Cultural de Curitiba, e também conversarem com o Eduardo Fenianos. A propósito desse assunto, na semana passada ele deu uma entrevista numa das rádios daqui, onde esclarece a formação dos bairros da cidade que são 75 e o porque de seus nomes. Isso faz parte da história de Curitiba, faz parte da cultura da cidade com a etnia que aqui se instalou. Vejo como mais uma invenção de quem não conhece a cidade, de quem não nasceu aqui e de quem não se enraizou em Curitiba. Vejo como grupos que acham “feio” dizer que moram no Pilarzinho, da Campina do Siqueira, Bigorrilho Cajuru e outros. A mudança, a nova identificação que querem dar aos bairros tradicionais parece lima maneira que querem se situar numa “bolha” dentro da cidade ou seja criar uma nova identidade para cada setor. Vejam somente um fato e um exemplo: Mossunguê, tradicional, foi um dos bairros de Curitiba que recebeu investimentos na década de 80 com a implantação da Conectora 5, sistema trinário com o transporte de massa que tem o destino a CIC. Nesse trecho houve uma explosão demográfica e construtiva. Nessa região o sistema viário é o prolongamento das ruas Padre Agostinho, Padre Anchieta e Martim Afonso, portanto atinge vários bairros, mas o Mossunguê foi o mais notado e lá se deu na época por razões técnica o nove de “nova Curitiba”. Tudo isso agora querem chamar de Ecoville e também de Champagnat. Na realidade a história os chama de Bigorrilho, Campina do Siqueira, Mossunguê , São Bráz Campo Comprido e CIC. Para mudar, ou se criam por lei novos nomes ou se apaga parte da história da cidade. Aliás a propósito disso já de tempos que nos leva a pensar que nas escolas esqueceram de ensinar a história de Curitiba, lembro que uns anos atrás e história é isso, a busca do passado para formar o presente, existia um livro ” Lições Curitibanas” que retratava parte da nossa hostória. Tecnicamente o IPPUC sempre preservou a identidade de Curitiba, não é possível que de uma hora para outra que alguns sem a identidade curitibana queiram modifica-la.

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