9:05Bombardeio na vice

Se o passado recente de Mirian Gonçalves, vice-prefeita de secretária Municipal do Trabalho, colocava-a numa situação desconfortável na administração de Gustavo Fruet durante a série de greves em Curitiba, o petardo disparado pelo jornalista Celso Nascimento em sua coluna da edição deste domingo no jornal Gazeta do Povo implodiu o que ainda sustentava sua situação. Pelo título (“A vice sindicalista”) dá para sentir o grau explosivo do texto que revela também o resultado de uma disputa interna no PT e reflexos da campanha para o governo do Estado. Confiram:

por Celso Nascimento

A vice sindicalista

São cada vez mais visíveis as digitais da vice-prefeita de Curitiba, Mirian Gonçalves (PT), no apoio aos movimentos grevistas que infernizam o prefeito Gustavo Fruet (PDT) há pelo menos três semanas. Por trás da participação da vice estariam disputas internas no PT e deste com outros partidos da esquerda, como o PSTU e o PSol, pelo controle das organizações sindicais de categorias que prestam serviços do município à população.

Antes, um breve histórico: em 2012, PT e PDT firmaram aliança para disputar a prefeitura de Curitiba. O neopedetista Fruet era o nome eleitoralmente mais viável para enfrentar a concorrência representada pelo candidato à reeleição Luciano Ducci (do PSB, com apoio do governador Beto Richa) e o popular deputado Ratinho Jr. (PSC). O PT entraria na chapa de Fruet ocupando a posição de vice.

O PT fez então a convenção para escolher o nome. As correntes mais moderadas do partido, lideradas pela senadora Gleisi Hoffmann e pelo ministro Paulo Bernardo, apoiavam a professora e ex-vereadora Roseli Isidoro. As alas mais radicais, representadas pelos deputados Dr. Rosinha (federal) e Tadeu Veneri (estadual), porém, saíram vitoriosas com a indicação da empresária do setor educacional Mirian Gonçalves. O resultado foi apertado: 113 votos contra 100.

Advogada trabalhista e militante com respeitável histórico de participação nos movimentos de trabalhadores, a vice de Fruet tem sido agora frequentemente vista atuando em confrontações classistas com a administração municipal – o que, segundo fontes do seu partido, tem sido fator de desgaste político para o prefeito.

Desde o fim de fevereiro foram pelo menos cinco as greves (ou ameaças de greve) concomitantes ou em sequência que ajudaram a queimar – em fogo amigo – parte do capital político do prefeito. A primeira delas, no fim de fevereiro, foi a dos motoristas e cobradores, que por três dias levou a cidade ao caos com a paralisação do transporte coletivo. A vice Mirian Gonçalves atuou como mediadora informal do dissídio entre patrões e empregados, mas ninguém deixou de notar sua tendência no sentido de proteger as reivindicações grevistas.

Comportamento virtuoso e elogiável não fossem os contratempos a que o resto da população, dependente de ônibus, teve de enfrentar. Do mesmo modo a vice agiu em relação à greve dos professores que veio em seguida e que, por um dia, deixou 400 mil crianças sem aula. Depois, a dos garis e lixeiros, cujos efeitos foram menores porque debelada em razão de decisão judicial obrigando que 40% dos trabalhadores se mantivessem na atividade.

Enquanto os guardas municipais ameaçavam cruzar os braços (ficaram apenas na ameaça), outro movimento paredista ainda persistia parcialmente até a noite de sexta-feira – e este sim com participação mais direta da vice. É a greve dos cinco mil educadores – categoria quase exclusivamente feminina que cuida das 199 creches (Cmeis) que atendem crianças de 27 mil famílias.

Os educadores apresentaram uma pauta de cinco reivindicações. Quatro foram atendidas, mas a primeira – que exigia reduzir a jornada de 40 para 30 horas semanais – foi repelida pelo prefeito. Por uma simples razão: para atender o mesmo número de creches e de crianças, seria necessário praticamente duplicar o número de educadores, gerando dispêndio anual de R$ 120 milhões.

A maioria entendeu a dificuldade e voltou ao trabalho – mas, ainda assim, a vice-prefeita fazia mais uma exigência: que os grevistas remanescentes fossem recebidos pelo prefeito. Contaria ponto para mostrar poder – e contabilizaria o feito como mais um trunfo para evitar que o PT e a CUT continuem perdendo para o PSTU e para o PSol o controle de setores sindicais e de trabalhadores estratégicos para a cidade.

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3 ideias sobre “Bombardeio na vice

  1. juca

    Perfeito. Não há o que acrescentar a realidade dos fatos estão aí afirmadas. O estranho é que tem uma cambada de neo ou melhor nóia qualquer coisa que ainda ficam perturbando. Um tal de Levy e outro amiguinho da Gilda e Osvaldinho são verdadeiros puxa sacos dos petistas. Um teve a cara de pau e o mau gosto de dizer para o Prefeito procurar um centro espirita que o pai iria mandar falar comigo. O cara é um verdadeiro imbecil, pois tudo que falo e escrevo está sendo comprovado agora na coluna do Celso Nascimento. Não tenho intenção de criticar o Prefeito e tenho muito respeito pelo seu falecido pai que já disse ter sido uma grande pessoa, critico a equipe do Prefeito que é fraca e sacana, mal escolhida e imposta pelo PT. Tenho certeza que se o Gustavo Fruet fosse sozinho na eleição ganharia do mesmo jeito. Então como é que fica cambada de assalariados do partido.

  2. jar

    Grande matéria do Celso mostrando a realidade e a situação que o Prefeito Gustavo Fruet se encontra. Como dizem é um verdadeiro “fogo amigo”. Pena pois o Fruet é uma excelente pessoa e com propósitos elevados, tem um DNA que não ostra soberba alguma, simples , calmo, educado e paciente como foi seu pai Mauricio Fruet. O pai já sofreu na gestão Requião e depois quando tentou o senado junto com José Richa. O Maurício sempre foi bem aceito pela maioria dos funcionários da Prefeitura, até os que politicamente eram contrários. Então há que se perguntar, oquê faz o Gustavo com essa turma do PT. Sózinho ele podria ter sido eleito Prefeito, é só lembrarmos que ele teve mais de 600 mil votos para o Senado aqui na Capital e só com essa votação já teria sido eleito no 1º turno para Prefeito. Daí tiro uma conclusão, o PT se transformou em hospedeiro do Gustavo Fruet que foi no embalo de Rosinha Veneri e outros tantos. Contaram para o Fruet que ele precisaria mais tempo na televisão para ganhar a eleição e ele não se sabe se acreditou ou em função da sacanagem que o Governador fez com ele foi no papo dos petistas e entregou a Prefeitura para essa turma que deixa ele numa situação difícil e tem que apagar incêndio a todo momento. O PT se corroe internamente por espaços que rendam alguma coisa, votos, poder, influência e outras “coisitas” mais. São oportunistas e é só o Gustavo os contrariar que caem de pau em cima. Isso tem reflexos em cada república independente que está administrando a cidade e a responsabilidade recai sobre os ombros do Prefeito. Deixando de lado a questão politica partidária, ainda há tempo para o Prefeito fazer o que ele mesmo disse dias atrás, “um freio de arrumação”. Penso que na oportunidade quis se referir a situação do Transporte, mas poderia dar esta freada no pessoal que o assessora e por sinal o deixam em situação difícil, como agora está na matéria, da situação da Vice Miriam Gonçalves, é mais ou menos aquilo ” bate e depois assopra” só que precisa o Prefeito tomar cuidado que assoprar brasa resulta em fogo.

  3. leandro

    Que tempos estranhos atualmente. Muitos de hoje não sabem como funcionava a Secretaria da Criança, que foi dirigida pela Fani Lerner e uma equipe de primeira linha. Mesmo que houvesse problemas e haviam uma vez que se tratava com pessoas, mas a situação era outra. Não havia o desejo de poder sindical. Depois começou a queda com o fim da secretaria e incorporação na Secretaria da Educação, não que as hoje chamadas de educadoras e de fato são possam ter equivalência com o grupo do magistério, pois as educadoras iniciam o processo de formação das crianças. Portanto devem ter o mesmo tratamento que tem as servidoras do magistério. Infelizmente o passado está presenta só para lembrança de numa cidade que já foi modelo em várias coisas e na atenção à criança também inclusive com prêmio da UNICEF. O Prefeito tem na matéria do Celso Nascimento um pequeno alerta para sua condução na administração, os fatos e acontecimentos recentes com greves em setores importantes são uma amostra de uma queda de braço para busca de espaços políticos partidários e sindicais, resta sabermos se a Prefeitura e o Prefeito serão instrumentos de facilitação e ou participação desse processo uma vez que não foi eleito par tal fim.

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