6:53Água e Energia: a opção triunfante do Brasil pela poluição

por José Roberto BorghettiAntonio Ostrensky*

 

Em um tempo em que o fantasma do apagão assombra o já pouco eficiente e bamboleante setor industrial brasileiro e, ainda que em menor grau, assusta os incautos cidadãos comuns,  “comemoramos” hoje mais um Dia Mundial da Água.

 

Justiça seja feita, o Estado Brasileiro faz sua parte para espantar esse fantasma. E faz isso como pode: rezando todos os dias – e com muita fé – para que São Pedro mande o único antídoto que pode, de fato, impedir que esse espectro da falta de planejamento provoque um colapso energético no país, a chuva.

 

O Brasil possui uma das matrizes elétricas mais limpas do mundo. Entre 80% e 90% da geração elétrica vem de fontes renováveis. Segundo o Relatório de Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil – Informe 2012, da Agência Nacional de Águas (ANA) – o País possui cerca de 1.000 empreendimentos hidrelétricos, sendo que mais de 400 deles são pequenas centrais hidrelétricas (PCH).

 

Até 2011, de acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), aproximadamente 70% dos 117 mil megawatts (MW) da capacidade instalada da matriz energética brasileira eram gerados por PCH´s, usinas hidrelétricas e centrais de geração hidrelétrica. Entretanto, não adianta muito se produzir energia de forma relativamente limpa (pois há, sim, uma série de impactos advindos da geração de energia hidrelétrica), se a energia produzida é insuficiente para fazer o país crescer.

 

Contudo, se olharmos por um outro lado e considerarmos toda a matriz energética do Brasil (e não apenas a energia elétrica), veremos que nossa matriz energética está muito longe de ser limpa. Mais de 52% da energia que move o país vem do petróleo e seus derivados (óleo, gasolina, gás…), empurrando a energia elétrica para um modesto terceiro lugar, com apenas 13% do total, ficando atrás da energia gerada através do uso de álcool (com 19,3%).

 

Se você vivia no Brasil antes de 2007, deve ter lido ou ouvido que o governo brasileiro estava investindo pesadamente em biocombustíveis e em fontes energéticas renováveis e limpas. Pelo discurso oficial, o Brasil se tornaria em uma potência energética limpa do terceiro milênio.

 

Mas, em 2007, Deus, por ser brasileiro, resolveu dar uma mãozinha para o país e então nos deu de presente o pré-sal, rapidamente vendido (sem trocadilhos) como a redenção de todos os problemas do país. O que se viu a partir daí foi uma verdadeira batalha política entre os estados “com pré-sal” e os estados “sem pré-sal” pelos royalties do tesouro recém descoberto.

 

A face menos perceptível desse fenômeno foi que, como mágica, sumiram os projetos de desenvolvimento tecnológico e de inovação para aprimoramento e popularização de fontes energéticas limpas.

 

Hoje, apenas em meia dúzia de estados (se tanto) ainda compensa abastecer o carro com álcool. A capacidade instalada para a geração de energia eólica no país mal chega a 1% da geração hidroelétrica e a capacidade de geração de energia solar é virtualmente zero.

 

Mas voltando a São Pedro, ele deve ter recebido alguma orientação superior para fechar as torneiras, pois se agora somos um país riquíssimo em petróleo, precisamos usar essa nossa nova riqueza. Com isso, as caras e poluidoras termoelétricas (movidas principalmente a gás, mas também a carvão) precisaram ser acionadas. O resultado, um rombo bilionário nas contas das empresas distribuidoras de energia e uma conta que, mais cedo ou mais tarde, vai ser cobrada do agora riquíssimo consumidor brasileiro – sem falar, é claro, na conta ambiental, mas essa será paga pelos condôminos deste planeta chamado Terra.

 

O fato é que parece que todo o discurso de sustentabilidade, de geração de energia limpa, de produção de biocombustíveis, era apenas e tão somente discurso, desses com aquela robustez e credibilidade que acompanham todo e qualquer discurso eleitoral.

 

A realidade, porém, mostra um país sem planejamento estratégico na área de energia; reservatórios super explorados e minguando, mesmo em um cenário ainda de pré-alterações climáticas globais; usinas eólicas prontas, mas sem entrar em operação porque as linhas de transmissão simplesmente não foram construídas; subsídios insustentáveis nas nossas contas de energia e nos preços dos combustíveis, o que está estrangulando respectivamente as empresas de transmissão de energia e a também a gigante (em pleno processo de implosão) Petrobras. Nesse contexto, fica muito claro que o Brasil optou pelo caminho da poluição e da ineficiência energética.

 

Mesmo assim, e por incrível que pareça, ainda temos mesmo razões para comemorar o dia Mundial da Água. Em um cenário em que as imagens de pessoas sem água em suas casas, sequer para atender as suas necessidades mais básicas, ameaça se mudar do sertão nordestino para a região abastecida pelo reservatório da Cantareira, na sexta cidade mais populosa do mundo, talvez em breve talvez não tenhamos água sequer para o brinde. Brindemos então. Tim Tim!!

 

*José Roberto Borghetti é biólogo; Antonio Ostrensky é oceanólogo

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2 ideias sobre “Água e Energia: a opção triunfante do Brasil pela poluição

  1. sergio silvestreP

    Deus tem uns discípulos gigantes que cuidam das culturas de galaxias e estrelas que são alimentos destes gigantes.
    Ai em algum momento eles tem um desarranjo intestinal e defecam pelo universo milhares de planetas até bonitos,alguns parecendo o inferno.
    Junto com eles vem uma bactéria chamado homem ,junto com o homem vem a bosta e uma tremenda vontade de comer o planeta em menos de 50 anos que para Deus é um estalar de dedos.
    Duro que eu a medida que estou aqui escrevendo essa loucura estou também contribuindo.

  2. rubens ghilardi

    Porque chegamos a está situação, abaixo comentário resumido do que aconteceu no Setor Elétrico Brasileiro, independente de Governos.
    A situação do Setor Elétrico Brasileiro era previsível quando em 1996 o governo do FHC resolveu privatizar as Distribuidoras, empresas prontas e operando, com dinheiro do BNDES, quando a necessidade do Brasil era construção de novas Usinas, Geração. Em 1996, tínhamos uma previsão de racionamento a partir de 2.000 caso não atendesse o crescimento previsível do mercado. Por ter chovido muito em 2000 foi para 2001, quando tivemos o maior racionamento do mundo em época de Paz. As empresas distribuidoras privatizadas não tinham compromisso de atender o crescimento do seu mercado;
    O custo da energia do Brasil pré-privatização era um dos mais baratos do mundo, mudaram o conceito da tarifa pelo custo para tarifa pelo preço, com a desculpa que era para motivar os investidores, não construíram nada (lei de mercado quanto menos energia mais caro fica) , e criaram o tal do mercado livre. Com isto ficamos com a tarifa mais cara do mundo e engordamos o famoso mercado SPOT, que atende somente grandes consumidores, deixaram de pagar a maioria dos encargos transferindo esta conta para os demais consumidores e, os intermediários ganhando dinheiro quando o correto era as geradoras venderem sua energia;
    Pela promessa da coordenadora da equipe de transição do Setor Elétrico do Governo Lula, Dilma que posteriormente assumiu o Ministério de Minas e Energia, assim que o Lula assumisse acabaria, com intermediação na venda de energia e as empresas voltariam a serem verticalizadas, promessas não cumpridas.
    Acertaram na mudança nos critérios para construir novas usinas, ganha a concessão que apresentar a menor tarifa, consertou o futuro.
    Providenciou um leilão para todas as Geradoras existentes venderem suas energias para um único comprador e as Distribuidoras compram desta entidade pelo preço médio Os contratos assinados em 2004/5/6 tinham prazo de 8 anos, portanto, a partir de 2012 as geradoras ficaram descontratadas e podiam vender sua energia para quem quisesse.
    Por não ter cumprido a sua promessa o mercado livre, via intermediários, tirou dos consumidores normais, chamados cativos, a possibilidade de ter energia razoavelmente mais barata e transferiu para consumidores livres que tem vários benefícios deixando a conta para a população como um todo.
    Concluindo, se têm culpados estão nas incompetências e interesses estranhos ao país independente de Governos ou partidos.
    Quanto ao custo elevado que as distribuidoras tem que pagar por estarem comprando energia térmica a gás ou óleo, em todos os países desenvolvidos onde tem predominância de energia térmica a conta do aumento dos combustíveis é repassada aos consumidores no mês do consumo, portanto, o próprio consumidor reduz ou seu consumo para não pagar a conta mais cara. O nosso sistema só repassa este custo no reajuste da tarifa que é anual, quando vem o aumento tarifário o consumidor não tem noção do porque do acréscimo. Não seria difícil de implementar este sistema. Só para informação, quando do racionamento de 2001, o mercado reduziu o consumo chegando a uma sobra equivalente ao crescimento dos últimos 5 anos.
    Rubens

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