10:04A dos sensatos

Do blog Cabeça de Pedra

 

Não queria mais a estranheza, o olhar pelo avesso, a dificuldade. Estava cansado porque tudo era muito pesado. Ao tomar água, por exemplo, ouvia o som de cacos de vidros sendo moídos e o grito interno dos órgãos sendo cortados. Ele sabia que não acontecia, mas sabia também que acontecia – porque sentia. Uma benção com água benta aspergida lhe queimava a pele como chuva ácida. Ele pedia paz e o Cristo lhe dava uma piscadela sacana. Até o dia em que viu o filme do diretor doidão que resolveu fazer a coisa mais simples e linear possível, ou seja, a loucura em sua forma plena. Aquele pequeno trator cortador de grama o arrastou para uma realidade plena e plana, como um extenso campo de golfe. Ele caminhou assim por muito tempo até o dia em que ouviu uma voz saindo de um dos buracos. Resolveu olhar e então foi tragado para dentro da embarcação imóvel dos sensatos.

Compartilhe

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.