19:59HORÓSCOPO

por Zé da Silva

 

Sagitário

 

As palavras que imprime na tela branca têm alegria, dor, esperança, luz, sangue, mar, terra, delírios, ponta de flecha, negras escarpas, bruma, lua e sol em cópula, zíper que abre o nosso mundo dela. Foi num dia em que acordou e viu uma mancha na parede, dormiu, acordou e sentiu o medo que existe, sim, mas que é nosso, só nosso, e aparece para nos testar e ser dominado. A parede, então, deixou de ser parede e a mancha tomou conta do mundo, aparecendo em várias formas, mas que não a impediram de caminhar, mesmo porque determinada. Assim ela começou a escrever o que descobriu por dentro da sua própria parede, pois o que veio da outra foi como uma chave que abriu tudo e, na mistura, o real ficou estranho, mas sempre ali, como uma moldura de quadro a delimitar o embate e, tendencioso, sempre a aplaudir o que ela transformava em chaves para que todos que a lessem decifrassem o que jamais alcançariam sem a ajuda das suas palavras. O estranhamento do espelho e de alguns olhos fitando-a através das frestas das florestas eram esperados. Até o dia em que a conjunção de letrinhas que formaram algo que era tão conhecido e cantado e declamado e incensado foi lido em voz alta por ela mesmo e atravessou de uma forma tão simples e absurda que tudo desapareceu e ficou no mesmo lugar – e ela então ficou tranquila com sua sabedoria da vida e do amor que sintetiza tudo.

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