18:20A festa não acabou!

A festa não acabou. Ela está aí nas telas, nos jornais e revistas impressos, no rádio, nas ruas, avenidas, salões (ainda existem os bailes?), na mistura com zumbis, rock, e, no delírio real e aterrorizonte, facadas gratuitas a ferir inocentes. A cidade fica como deveria ser, sem trânsito, mas as estradas estão cheias, todos querendo aproveitar o feriadão e o fim do verão se amontoando nas praias. Amanhã é cinzas. Mas as labaredas, o fogo, talvez dos infernos, ainda está por vir. E se acabarem com seu carnaval, seu Zé? Um jornal voou da mão do entregador e se esparramou no jardim com o aviso em letras garrafais: “Faltam cem dias para a Copa!” Faltam quantos para as eleições de outubro? Não dá para fazer esta conta do tempo porque ele não bate mais na porta da frente. Ele já está dentro e fica passando com uma velocidade tão alucinante que mais perdidos ficamos nesta noite clara. A luz é fria. O destrambelhamento da nação que já teve Zumbi (e ele precisa voltar, porque negro, mistura de todas as cores, verdadeiro revolucionário), é o que vemos, sentimos (será?). O tecido social, como dizem os especialistas na enrolação que só eles entendem, não está mais esgarçado. Não existe mais tecido, nem a colcha de retalhos que um dia ainda sustentava uma nação onde o coqueiro dava coco e era lindo e trigueiro. Aqui é o azilo muito louco, no pior sentido, onde, lá em cima, onde estão os que levam a ninguenzada no bico e pelo cabresto, sempre é festa, pois os donos da cocada sambam sobre piso de mármore e em ambiente de ar refrigerado. Sob este piso está a chapa quente que torra mentes, corações, esgota os copros de quem empurra a roda que faz tudo funcionar; que alimenta os tubarões, e que a cada dia se imbeciliza mais porque é assim que se pode controlar. As pílulas que são jogadas, para que não haja o enlouquecimento geral e perigoso para os doutores, são distribuídas desse jeito que se vê por aí na frivolidade das celebridades, nos BBBs, nas telenovelas delirantes e também na dose cavalar do noticiário da violência pela violência – porque é uma forma de manter o gado sem querer furar tudo, arrebentar a cerca (o buraco sugaria a turma que está acima do bem e do mal). Simples: quem vê tragédia imaginar estar no paraíso por aquilo não ter acontecido com ele. “A gente vê na televisão essas coisas e acha que nunca vai acontecer com a gente”. Já viram/ouviram alguém dar entrevista falando isso? Prestem atenção nos rostos de quem fala, no corpo, nos olhos, no ambiente que os cerca, nas pessoas que estão ao lado e colocam a cabeça ao alcance da lente da câmara torcendo pela possibilidade de que vai aparecer na rede global e coisa e tal. Existe alguma possibilidade de aquelas massas disformes e seus filhos, netos e bisnetos se transformarem em gente que é gente? Sim, existe. Mas, para quê? E tome discussão e cacarejar sobre o caminho certo e seguro da Educação – e o resultado é que hoje boa parte dos nossos formandos universitários são analfabetos funcionais, estes que, se lerem isso aqui, vão pensar que o autor pirou de vez. É carnaval, é hora de sambar; peço licença, ao sofrimento, depois eu volto pro meu lugar. Pior que os tubarões sanguinários de toda espécie, estes que se aproveitam sempre da geleia geral e podre, são os que também estão sob o piso e se acham inteligentes – e sãi como capitães do mato a discutir qual o melhor caminho para os que não entendem de ideologia, de qual a melhor turma para comandar tudo. Esquerda ou direita? Os abduzidos que esperam a reencarnação de Jim Jones mas, para variar, têm medo do suicídio como solução decisiva, acham mesmo que o melhor é suicidar quem não consegue nem pensar, porque têm de sobreviver e, na verdade, não têm culpa de nada. Hoje ainda é dia de festa e logo mais a bola vai rolar no torneio mundial. No peito patriótico dos que se locupletam de todas as maneiras para se aproveitar e roubar na mãe gentil até a magia que a bola espalha, a festa vai continuar. Depois da Copa, os marqueteiros darão a dose certa de esperança para um futuro melhor, com aquelas imagens repetidas e tão surreais para a maioria como os ambientes onde sempre está a turma do bem bom. Então praticaremos, em outubro, o exercício da democracia – com voto obrigatório, porque se não for isso, pensam os maganos, vira zona, como se fôssemos organizados em alguma coisa, tirando a formação das várias quadrilhas impunes para tomar conta do dinheiro mais fácil de se apossar, porque público. Não, não acabou! O festerê não vai acabar tão cedo. Mas a verdade é que os convidados são poucos.

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