por Ruy Castro
Grande parte das recaídas acontece por excesso de confiança. É o que leva um dependente a se considerar ex-dependente apenas porque está há anos afastado da bebida ou da droga. Ou a acreditar que, com tantos anos de abstinência, pode voltar a consumi-la, sob controle, “só quando quiser”. Mas não existe o ex-dependente. Existe o dependente que se abstém do produto, assim como o diabético que se abstém de açúcar. O menor vacilo leva fatalmente à recaída.
Se isso é consolo, a morte de Philip Hoffman será sempre um alerta contra as tentações que rondam o dia a dia dos dependentes. Se alguém como ele pode recair –este é o raciocínio–, preciso me cuidar.
Também sóbrio há 26 anos, faço uma contabilidade própria. Nesse período, troquei a morte certa pela recuperação da saúde, do trabalho, do reconhecimento profissional, do amor das filhas, enfim, da vida. E o que isso me custou e ainda custa? Baratinho. Um simples gole que deixo de tomar.