11:14Alô, ouvintes!

por JamurJr

 

Dois velhotes, beirando os 80 anos, conversavam na fila de um supermercado em Curitiba, quando uma senhora da mesma faixa de idade fez a pergunta: O senhor tem voz de locutor de rádio. Foi locutor?” A resposta positiva ensejou uma conversa de saudosistas durante alguns minutos. Falou-se do rádio de antigamente, quando locutores tinham voz, ritmo, dicção e sabiam interpretar um texto como fazem os melhores atores. Foi o tempo do rádio eclético onde os auditórios se transformavam numa das atrações de grandes e pequenas cidades brasileiras. Ali desfilavam os talentos da msica , os calouros desafinados e os com afinação, os jovens de boa cabeça respondendo sobre temas que despertavam interesse na platéia, aquela que se encantava com duplas sertanejas e cantores líricos numa programação com todo tipo de atrações que começava depois da Voz do Brasil e terminava perto das 22 horas. Foi o tempo em que o rádio era a principal fonte de informação do público e os locutores noticiaristas venerados, como foram Heron Domingues, Milton Pereira, Adolfo Ziguelli, Souza Miranda, Antunes Severo e tantos outros. O rdio mudo, e muito, principalmente na área técnica, onde novos equipamentos facilitaram as transmissões externas, os microfones ficaram menores e mais sensíveis e os discos foram substituídos por computadores. A programação foi direcionada para a violência, dando ênfase aos acontecimentos policias. E os locutores? Ah, eles também mudaram. Deixou  de ser importante ele ter voz bonita, grave e aveludada, como diziam naquele tempo. Hoje nem precisa ter voz, nem saber ler com correção, nem ter boa dicção. Nada disso interessa. Com a proliferação de canais de radio, grande parte das emissoras passou a  funcionar como “locadora de espaço”. Basta ter dinheiro ou um patrocinador amigo para se conseguir um horário. Vereadores, pastores e outros tantos com muito grana tomaram todos os espaços na programação radiofônica. Com isso perderam os bons profissionais que ficaram fora do mercado – e perdeu o ouvinte, que já não conta com programas inteligentes, alegres, divertidos, feitos por gente do ramo. Já faz tanto tempo  que o rádio vive sem a participação dos que nasceram com talento e com voz bonita, que se precisassem montar uma equipe para lembrar o passado seria difícil encontrar gente disponível.

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4 ideias sobre “Alô, ouvintes!

  1. zangado

    Se repararem, prestarem atenção – mas quem faz isso hoje? – as pessoas, quase que no geral, a par da falta de vocabulário (o que é isto, hein?) nem mais pronunciam (pronu .. o que?) bem as palavras, entrecortando as sentenças, comendo vogais e consoantes e cuspindo um “piado falado” que se chama “português coloquial” … buff, buff, buff …

  2. Antonio Carlos Ribas

    Espetacular o artigo do Jamur, uma pessoa que pode falar de cadeira do rádio de ontem e do fraquíssimo nível do rádio de hoje, sofrível em termos de locutores.
    Quando comecei a trabalhar em rádio em 1.976, ainda tive o privilégio e a alegria de conviver com alguns dos maiores nomes do rádio e Tv. Hoje, infelizmente profissionais de nível bem discutível somente por terem um diploma tomam conta da programação das emissoras de rádio. E parece que existe um ítem básico para trabalhar em rádio: ser mulher, seja competente ou não.

  3. Raul Urban

    Jamur, alô! Sou um pouco mais novo que tu, mas trabalhamos juntos, lá pelos anos 1960 e início dos 1970, na velha e heróica Guairacá – “a voz nativa da terra dos pinheirais”. Estávamos também juntos quando a saudosa Editora O Estado do Paraná deixou as instalações da Rua Barão do Rio Branco, 556, e se bandeou às Mercês, onde Paulo Pimentel já havia fundeado a TV Iguaçu – Canal 4. Era um tempo em que tínhamos, reealmente, nomes com vozes graves e aveludadas – Jamur Júnior; Ivan Curi; o já saudoso Jota Jota; Sinval Martins; Aluísio Finzetto; Roberto Bostelmann, e por aí vai.
    Não quero ser injusto – nominei uns poucos só, e remeto a lembrnça aos tempos das já saudosas rádios AMs – Guairacá (depois Iguaçu – e trabalhei em ambas); Ouro Verde; PRB-2; Marumbi; Colombo; Tinguí…
    O breve comentário é, tão e só, uma anotação de um tempo já passado, quando honrávamos a língua portuguesa, falávamos corretamente e tínhamos, acima,= de tudo, um carinho especial pelo ofício – o de fazer de um microfone o instrumento da divulgação daquilo que era lúdico, poético… restou a lembrança!
    Abraço também aos novos, que têm amor pela “latinha”.

  4. antonio carlos

    Este trololó todo só podia ter vindo de um idoso. É incrível como o rádio ainda persista em Pindorama. Se pastores, apóstolos, profetas e vereadores não fossem donos, ou alugassem espaços nas rádios, eles já pertenceriam ao passado. É uma pena que o rádio deixou de ser uma alternativa á televisão, porque ver TV e ouvir rádio é uma tristeza. Adoro ouvir rádio FM, e só ouço uma rádio, não vou contar o nome mas adianto, não é rádio evangélica. TV aberta nem pensar.

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