11:00Philip Seymour e o tubarão

A Folha de São Paulo republicou hoje uma reportagem do New York Times cujo título é “Morte de Philip Seymour abala dependentes químicos”. O resumo do texto do repórter Jacob Bernstein é o seguinte: dependentes em tratamento e frequentadores de grupos de mútua ajuda, como o Alcóolicos Anônimos e Narcóticos Anônimos sofreram abalo por saber que a sobriedade de uma hora para outra pode afundar numa recaída. Quem foi internado, frequenta clínicas, terapias e esses grupos na batalha para se manter limpo ouve praticamente toda semana a história de alguém conhecido que recaiu ou que morreu por causa da droga, seja ela ilícita ou não. Um dos pilares do tratamento, que é para sempre, é saber que a doença é incurável, mas controlável. Saber do risco faz parte do tratamento. Recaídas acontecem. Com o signatário aconteceu duas vezes, portanto, foram três internamentos. Quando se tem consciência disso, reforça-se o cuidado, prioriza-se o não se drogar – e segue-se o caminho aprendido em tratamento ou conversa com quem está na luta. A vida não muda, os problemas continuam – muda-se a maneira de enfrentá-los. Ao longo dos últimos 20 anos perdi vários amigos e tenho alguns inutilizados para a vida normal e que afirmam não ter o problema. É triste, mas os integrantes do meu time de sobreviventes sabe o que é isso, tenta ajudar, mas prioriza a própria saúde. Um deles, o que me levou para a clínica quando eu estava morrendo de tanto injetar cocaína uma vez disse que a grande lição que temos de aprender é que, dentro do peito, na alma, temos um tubarão quietinho que, dependendo de nós mesmos, fica assim no dia-a-dia, mas sempre espera um sinal para nos devorar. O estar bem, que significa viver de forma normal, é a nossa grande arma para manter o bicho assim. Talvez no relato do repórter ele tenha ouvido pessoas que ainda não compreenderam bem a coisa – e isso não tem nada a ver com tempo de sobriedade, pois há pessoas que entendem isso ainda dentro da clínica e outros que não assimilaram apesar de anos sem usar droga. Essas correm risco e se espelham na tragédia do ator para chutar o balde já que “podem” recair. É o tubarão se manifestando. Foi ele que matou Seymour.

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Uma ideia sobre “Philip Seymour e o tubarão

  1. antonio carlos

    E ainda tem gente que se acha inteligente, educada, esperta, que se considera formadora de opinião, e, que defende a legalização das drogas. Crack, cocaína, heroína e maconha que agora virou uma “droga social”, não fazem mal, não fazem mesmo, para os que não são usuários delas.

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