9:14Quarenta anos depois, nova bomba no caso Riocentro

Do jornal O Globo, em reportagem de Chico Otávio e Juliana Castro

 

Com novas provas, MP denuncia seis pessoas no caso Rio Centro

Após dois anos de investigação, procuradores da República obtêm uma confissão sobre a ação dos responsáveis pelo atentado de 1981, incluindo três generais reformados; objetivo é reabrir caso

 

A mais completa investigação sobre o atentado que mudou a História recente do país pode levar cinco militares, três deles generais, e um delegado ao banco dos réus. Após quase dois anos de trabalho, os procuradores da República do grupo Justiça de Transição, que apura os crimes políticos do regime militar, denunciaram seis envolvidos na explosão de uma bomba no estacionamento do Riocentro, na noite de 30 de abril de 1981, quando um show em homenagem ao Dia do Trabalho reuniu no local cerca de 20 mil pessoas, a maioria jovens.

O atentado não apenas provocou a morte instantânea do sargento Guilherme Pereira do Rosário, do Destacamento de Operações de Informações do 1º Exército (DOI-1), que carregava a bomba, como abortou a tentativa que os bolsões radicais faziam para deter o processo de abertura política durante o governo do presidente João Figueiredo (1979-1985).

Para denunciar o então capitão Wilson Luiz Chaves Machado, parceiro do sargento na ação e dono do carro onde a bomba explodiu, e outros cinco acusados de envolvimento no atentado, os procuradores produziram 38 volumes de documentos e 36 horas de gravações de depoimentos em áudio e vídeo.

 

Dos seis nomes, quatro nunca haviam aparecido como suspeitos. Um deles é o general reformado Edson Sá Rocha, chefe da Seção de Operações do DOI em 1981. Ele é acusado de ter defendido, um ano antes, um plano de explosão de bombas em outra edição do show do Riocentro.

A denúncia também responsabiliza os generais reformados Newton Cruz — na época, chefe da Agência Central do Serviço Nacional de Informações (SNI) e indiciado no inquérito que reabriu o caso em 1999 — e Nilton Cerqueira (então comandante da Polícia Militar fluminense), o major reformado Divany Barros (agente do DOI-I) e o ex-delegado capixaba Cláudio Guerra. Além dos denunciados, o grupo identificou mais nove autores, todos já falecidos.

 

 

Depoimentos inéditos sobre o caso

Pelo menos dois novos depoimentos reescrevem a história do atentado. O major reformado Divany Carvalho Barros, de codinome Doutor Áureo, da Seção de Operações do DOI em 1981, admite pela primeira vez, em mais de três décadas, que foi ao estacionamento do Riocentro, onde estava o carro destruído pela explosão, com a missão delegada pelo comando de apagar provas que pudessem incriminar os militares como autores do atentado.

A viúva do sargento, Suely José do Rosário, também revelou que, logo após a explosão, agentes do DOI a ameaçaram. Um deles foi identificado por ela pelo codinome “Doutor Luís”. Eles queimaram documentos pessoais de Guilherme no tanque de lavar roupas de sua casa. Também recolheram as folhas de alterações do sargento (espécie de currículo dos militares), devolvendo-as dias depois com páginas suprimidas.

Em 1981, o primeiro inquérito aberto pelo Exército concluiu que o sargento Rosário e o capitão Machado, gravemente ferido na explosão do artefato, foram vítimas do atentado, e não autores. A versão foi sustentada pelo Exército por 18 anos até que, em 1999, um novo Inquérito Policial Militar foi reaberto depois que uma série de reportagens do GLOBO derrubou a conclusão da primeira investigação.

A denúncia é assinada pelos procuradores Antonio Cabral, Andrey Mendonça e Marlon Weichert. Para eles, o atentado é um crime que pesa contra a pátria, portanto, imprescritível.

— O atentado do Riocentro é emblemático porque revela a torpeza e os objetivos desse grupo de radicais, integrado por membros das Forças Armadas, que estava disposto a detonar artefatos explosivos contra a própria população, num show com 20 mil jovens, apenas para gerar clima de pânico e justificar o endurecimento da ditadura militar — afirmou Cabral.

Será a quarta tentativa de submeter Wilson Machado, hoje coronel reformado, a julgamento em Tribunal do Júri. As anteriores foram frustradas por decisões do Superior Tribunal Militar (STM), que desqualificaram as provas ou entenderam que o caso estava coberto pela Lei da Anistia. O argumento usado na nova denúncia, para assegurar a abertura de processo junto à Justiça Federal, é que as investigações produziram novas provas e que os crimes não estão cobertos pela Lei da Anistia, válida apenas para o período compreendido entre 1961 e 1979.

Os seis são acusados de tentativa de homicídio doloso, explosão, transporte de explosivos, formação de quadrilha, favorecimento pessoal e fraude processual. A denúncia descreve a atuação do grupo em dois núcleos. Um deles era o de planejamento, do qual fariam parte Nilton Cerqueira e Sá Rocha. O outro era o operacional, onde Machado e Guerra se encaixaram. Para os procuradores, o elo entre os dois núcleos era o tenente-coronel Freddie Perdigão Pereira (já falecido), de codinome Doutor Flávio, um dos mais ferozes agentes da repressão política.

O militar tinha trânsito junto aos altos escalões das Forças Armadas e aos agentes operacionais porque colecionava passagens pelos principais órgãos da comunidade de informações: DOI, Centro de Informações do Exército (CIE) e SNI, onde ele estava lotado na época do atentado. Perdigão também agiu em torturas na Casa da Morte do CIE, em Petrópolis.

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/pais/com-novas-provas-mp-denuncia-seis-pessoas-no-caso-riocentro-11619478#ixzz2tZoNYXEp
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Uma ideia sobre “Quarenta anos depois, nova bomba no caso Riocentro

  1. Simão Bacamarte

    Ao invés de procurar solucionar casos atuais e recentes, resolvem exumar defuntos e gastar o dinheiro público com fatos trintenários, com o objetivo de ganhar notoriedade e alguns segundos de fama no jornal nacional. O Brasil anda olhando pelo retrovisor. Não chegará a lugar algum.

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