12:40Minha Terra do Nunca

por José Maria Correia 

 

 

Há algum tempo, nesta vida maledeta, como dizem os italianos, tenho preferido selecionadas  releituras de livros antigos.
Ontem escolhi Alice no País das Maravilhas, com todas as metáforas de  Lewis Carrol.
Daí logo recordei de Peter Pan, de outro inglês também genial,  J.M.Barrie.
Essas histórias de mundos imaginários e cheios de encantamentos que descobri muito cedo sempre me fascinaram.
A mim, a Garcia Marquez, que nelas inspirado  criou  Macondo,  e aos milhões de leitores que perdidos nas páginas entre piratas, animais psicodélicos que falam, gente que voa, sortilégios, elfos ,fadas , dríades e dragões,  encontram uma rota de fuga de um cotidiano pouco alentador.
Os sonhos impedem que enlouqueçamos.
E essa Terra do Nunca de Peter Pan ?
Queria ter também assim a minha  Terra, onde as amizades sinceras nunca acabassem sem sentido, as  crianças dentro de nós não crescessem, as paixões da juventude não fossem esquecidas – e os amores, os amores, nunca, nunca terminassem.
Ah! que Terra do Nunca seria essa  de utopia tão generosa e  sem medo de ser piegas!
Desprovida das mágoas de viver apenas para sobreviver.
Desambicionada e simples.
Em cada casa haveria sempre  uma chaminé fumegando, uma mesa posta com pão quentinho saído do forno, um bule de café e uma jarra de leite quente espumando ao lado de um pote de geleia de amoras e uma travessa de espigas de milho douradas.
Minha Terra do Nunca teria sempre gosto de infância, velhos gibis, balanças no quintal junto da pequena horta, noites de lua cheia com estrelas cadentes realizando desejos, e manhãs de sol radiantes de esperança arrombando as janelas ao nascer de cada dia.
Mesmo a esperança demencial e  contra todas as  expectativas, a de Ernesto Sábato.
Nessa Terra eu ouviria sempre o som da radiola antiga do pai e dos latidos de alegria de minha cachorra Baia no portão, me esperando chegar do Grupo Julia Wanderley.
Não me perderia nas esquinas e nem no tempo feiticeiro da alma.
Na minha Terra do Nunca o abraço apertado da mãe nunca haveria de se desfazer.
Saudade é uma palavra que não existiria em minha Terra do Nunca.
Não faria sentido.

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