14:36A mulher do Valdemir

por JamurJr

 

 

Trabalhador desde a infância, começa o dia logo que o sol aparece, carregando enormes lajotas para calçamento. Faz muito bem o serviço e com isso agrada o patrão e os clientes que estão sempre elogiando o capricho de Valdemir e a energia desse homem moreno, franzino e muito forte. Dos clientes da empresa em que trabalha recebe atenção , elogios e presentes. De um ganhou tijolos e madeira para ampliar a pequena e pobre casa montada num terreno de invasão próximo ao aeroporto de Guaratuba. Até há pouco tempo não tinha documentos, nem carteira de identidade. O patrão de Valdemir conseguiu , com muito trabalho e ajuda do responsável pela contabilidade da empresa, regularizar a vida desse cidadão que ficou pouco tempo na escola e quase nada aprendeu do que estava nos livros. Valdemir é do oficio de ajudante de pedreiro e até hoje vive de seu esforço, com grande dificuldade, pouco dinheiro mas com bom humor que nunca abandona. Recentemente resolveu começar um negócio próprio. Comprou uma carroça com um cavalo, pequeno, jovem e forte. Disse ao patrão que, após o horário de trabalho, pretendia se dedicar a fazer carretos na cidade e ganhar algum dinheiro extra. Passados alguns dias chegou no trabalho contando que trocou o cavalo pequeno por um maior, mas que este era muito velho e costumava empacar e não saía do lugar nem com reza brava. Valdemir demonstrou que não era bom de negócio e por isso a mulher passou a administrar os empreendimentos. A primeira iniciativa dela foi trocar o cavalo e a carroça por dois cabritos:  um pequeno e novo e outro maior e muito velho, dono de um enorme chifre e um fedor que denunciava sua presença até no quarteirão vizinho. Como ninguém aguentava o budum de bode velho, a mulher do Valdemir decidiu fazer mais uma troca: os dois bodes por um peru. Valdemir não gostou, mas se conformou com a ideia de ter peru na próxima ceia de Natal. Não teve. Passados alguns dias a mulher deu o peru de presente para uma vizinha que era cabeleireira no bairro. O patrão de Valdemir, estava incomodado com a pouca sorte de seu funcionário e o procurou:

– E agora, Valdemir, acabou o troca-troca?

– Acho que não. Tô pensando em mais uma.

– O que vai ser desta vez?

– Vou trocar de mulher.

 

 

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