por Sergio Brandão
Ele sempre foi maior que a própria vaidade. Na verdade, maior que tudo. Movia o mundo quando queria algo. A vida foi lhe mostrando os caminhos. E ele ensinando ao mundo como queria os caminhos. E as coisa sempre caminharam assim. O mundo sempre lhe atendeu, sem reclamar.
Uma vez, em frente ao espelho, numa conversa longa – das poucas que tinha com alguém, descobriu que o poder era maior que ele. Perguntou como alcançaria este tal de poder? O espelho não só fez revelações sobre o poder, como também mais uma vez mostrou o melhor caminho para ser o melhor de todos. Começou ali uma das maiores batalhas que teve na vida.
Dentro do seu mundo, o futebol era a coisa mais importante. Pegou um clube para se apaixonar e para mandar. Ali começou a fazer as coisas como queria. Este clube não tinha estádio, nem dinheiro, nem fama, nem títulos. O homem inventou uma varinha e, como num passe de mágica, fez tudo acontecer. Da noite para o dia apareceu dinheiro, fama, montou uma estrutura de fazer inveja. Isso o deixou mais poderoso do que imaginava. Passou a ser amado e odiado.
Construiu um estádio pera seu clube. Durante anos o estádio foi motivo de inveja. Todos cobiçavam. Também sonhavam em ter um estádio daqueles, bonito e moderno, como nunca se viu por aqui.
Certo dia entram em cena outros homens – também muito poderosos, só que mais poderosos que ele no mundo do futebol. Estes homens decidiram organizar uma festa e disseram que o estádio dele era bom, mas nem tanto. Para receber a grande festa, precisaria passar por uma grande reforma e se adequar dentro de uma série de exigências .
Ele ficou muito triste com isso, mas como tristeza era um sentimento pequeno, e ele ainda era maior que tudo, se pôs em campo para fazer da sua casa, mais uma vez, a maior, a mais bela, a mais invejada que todas as outras do planeta.
Conselho de seu espelho: “Sozinho você não conseguirá ”! Se vestiu de uma humildade que não tinha. Se juntou com outros poderosos e aos poucos foi conseguindo tudo que precisava. Quando os outros homens poderosos perceberam que estavam se rendendo aos desejos e caprichos dele, já era tarde. Seu estádio estava quase pronto e terminá-lo era uma questão de tempo. Seu estádio virou objeto de desejo dos outros poderosos. O estádio virou símbolo, ícone, já era quase o espaço da grande festa. Todos haviam se comprometido com os poderosos do futebol e não havia outro jeito a não ser terminar a sua ostentação, a sua maior obra.
Vendeu a alma ao diabo, mas disse: “Nunca mais digam que o que construí não serve. Destruo e faço de novo, se for preciso. E serão vocês os financiadores do meu capricho”. Com esta frase, se tornou o mais poderoso de todos que se renderam aos seus encantos. Estes estavam ontrariados, mas nada podiam fazer naquele momento.
Ficou famoso, foi para a história do seu clube como o maior de todos os comandantes. O único a construir dois estádios para o mesmo clube, sem gastar um tostão do próprio dinheiro.
Oh ! Espelho, espelho meu quem é mais esperto do que eu?
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Ele, após a grande festa, será assolado por pesadelos… onde carros pretos lhe esperam no amanhecer, mesmo no conforto de seu palácio. Dos carros saem homens de preto, com ordens para leva-lo às masmorras destinadas aos bodes expiatórios. E nenhum dos poderosos o acudirá, pois tornou-se um infecto… De nada bastarão os estandartes rubros a lhe saudar nos Tribunais… Seu nome será maldito e sua imagem será apagada das fotos oficiais…