8:53Cadê a magia do Atletiba?

por Sergio Brandão

 

Talvez os parques e bosques de Curitiba sejam os espaços mais democráticos da cidade, depois da Boca Maldita. Pelo menos é o melhor exemplo de civilidade, que deve servir a torcedores dos dois principais clubes da cidade. Neles se fala  sobre o resultado de um Atletiba – mesmo um deles tendo levado de três, sem que a conversa tome o rumo da violência.

Isso parece ser a magia, a força que resta do atletiba, que ainda não morreu. Sobrevive, passa por um momento de mutação, quem sabe. Talvez seja mesmo a tendência dos campeonatos regionais. Num futuro muito próximo vai servir para revelar as categorias de base.

Precisei ver isso nas ruas, nos parques e bosques, porque no estádio parece outro assunto. As duas camisas não representam mais aquele calor que se via nos bons e velhos tempos de atletiba. Coisa que tomava conta da cidade durante muitos dias.

Onde já se viu um Atletiba com um público como o de ontem? Torcida e times não se acertam mais. Quando tem gol, não tem gente pra ver. Sem ídolo, sem bate-boca, sem torcida e ainda sem estádio. Jogaram na casa de um outro adversário, às 7 e meia da noite!

Sou do tempo que o frango assado do almoço de domingo já vinha com sabor do maior clássico. Atletiba é sobremesa de domingo, não o jantar, como o de ontem. Era almoçar, escovar os dentes e todos os caminhos levavam ao Belfort Duarte ou ao Joaquim Américo. Ou no bom e velho Couto, onde também se viu grandes clássicos. Esta turma que nasceu na década de noventa, que ouve falar dos grandes clássicos, herda o que há de melhor do futebol paranaense, mas que viveu seus momentos de glória nas décadas de 50, 60 e 70. A esta geração, fica a responsabilidade de repassar a paixão por um Atletiba quase sem graça.

“O craque Alex usa o próprio exemplo para medir a importância do Atletiba aos mais jovens” – informou a chamada do caderno de esportes da Gazeta na véspera do clássico disputado ontem. Alex talvez tenha mesmo sido um dos últimos ídolos que viveu o que na época era uma “guerra”.

É difícil engolir a falta de emoção que os mais novos não conseguem sentir quando vestem o manto sagrado. Precisam de um ídolo para inspirar. Jogar uma partida desta importância deveria ser como representar o país numa guerra. Não sei se jogar um Atletiba não é mais importante até do que ser convocado para defender a seleção brasileira. É que na seleção, está o sentimento profissional, a valorização do passe. A não ser quando se trata de Copa do Mundo, aí também é guerra, sonho de todo jogador. Mas ainda acho que defender um clube tem mais a ver com amor.

Cansei de ver a verde e branca e a vermelha e preta saírem ensanguentadas depois dos 90 minutos. Tudo pelo calor da disputa.

O futebol mudou, o Atletiba também. Mas na rua ainda se respira um pouco da magia do clássico. É onde percebo mais o calor da rivalidade do que nas arquibancadas e no gramado. Onde já se viu um atletiba com três gols, com pouco mais de 6  mil testemunhas?

Compartilhe

Uma ideia sobre “Cadê a magia do Atletiba?

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.