O calor infernal que nos consome não tem nada a ver com as explicações da meteorologia, que cada vez ganha mais espaço nos telejornais como se isso fosse amenizar o derretimento do cérebro. Funciona ao contrário, aliás, pois a grande invenção desta nova editoria é a sensação térmica. Você está sendo torrado por um sol de quarenta graus, mas se sente pior, porque a moça do tempo disse que seu espírito está sendo fritado a cinquenta. Mas, voltando ao calor, o que está acontecendo e secando os reservatórios de água é o resultado da expressionante onda de lava vulcânica expelida pela boca dos candidatos aos governos. O Brasil não tem vulcão, nem furacão, que bom, mas tem essa raça de políticos que está aí olhando para o próprio umbigo e bolso e integrando grupos onde são o miolo cercados daquele tipo de gente que nunca vai largar o osso que os faz cada vez mais ricos – e o resto que se exploda. Estamos acelerando a cultura das celebridades, da ignorância e do fofoquê – portanto, quanto mais se vomita na cabeça do adversário e não se olha para o próprio rabo, melhor. Especialistas são contratados a peso de ouro para alimentar essa máquina destruidora que nada tem a ver com política, ideologia e muito menos com o bem estar da ninguenzada. As redes sociais são o canal perfeito para essa campanha, afinal, os viciados que engolem tudo que lêem nos vários tipos de tela só não andam de quatro e urrando por causa do sentimento de culpa, como disse o gênio Nelson Rodrigues. A imprensa, que alimenta meia dúzia de letrados, hoje faz parte do confronto e vestiu camisa – e são raros os textos onde não escorre veneno e sangue. Claro que merecemos tudo isso que está aí, afinal, estamos vivendo o menos pior dos sistemas políticos, a tal democracia. Nunca é damais lembrar, portanto, que a eleição de outubro, se todos sobrevivermos a este inferno, é uma ótima oportunidade de apertar o botãozinho da urna e botar água na fervura destes artistas boquirrotos. Mesmo porque, no no fim, no meio e no começo, quem paga a conta de todo este espetáculo dantesco somos nós mesmos.