7:31Questão de maconha

por Sergio Brandão

 

A pista de quase 1 km de um bosque em Curitiba é frequentada por todos: atletas, caminhantes, crianças, senhores, senhoras…  e no miolo do bosque, entre árvores e arbustos, estão os maconheiros. Uma separação que julgo desnecessária. Se escondem ou se envergonham? O cheiro os denuncia –  e nunca ninguém, além do cheiro, os denunciou. Mas o fato é que, para alguns, fumar maconha incomoda. Para quem fuma e para quem não fuma. Talvez se a prática de fumar o “beseado” fosse feita na pista, onde estão todos, chamaria menos atenção e ficaria menos enigmático. Confesso que não sei.

À noite, quando a pista está livre, os apreciadores da cannabis saem de suas tocas e ocupam os bancos de um espaço maior do bosque. Durante horas cantam acompanhados de um violeiro e embalam o sono dos moradores mais próximos.

São meninos de pouco mais de 20 anos, moradores do bairro. Uma vez quase  foram presos. Não fosse a intervenção de seus pais, teriam sido porque às vezes se comportam de forma estranha. Provavelmente porque um dia alguém disse que maconheiro é bandido. Muitos não são, eu sei, mas muita gente não sabe e pensa que é. Talvez porque na maioria das vezes, ou quase sempre, a venda da maconha é uma das principais atividades do bandido.

O problema é maior do que se pensa ou do que se fala. A questão é social e precisa ser vista com alguma prioridade. A convivência precisa ser ensinada. Não pode ser assim, como se ninguém não tivesse vendo nada, como se não tivesse acontecendo nada. É preciso educar quem usa e quem está em volta. A maconha está sendo fumada em qualquer lugar e a maioria ainda não aceita isso. Muitos se ofendem e denunciam ao policial mais próximo, que pouco pode fazer.

Na minha época, ser flagrado com maconha dava “cana”. Hoje não… e hoje sim… depende do humor do policial, do delegado, do juiz, pois ela, a maconha, ainda está relacionada como droga ilícita.

Ainda ninguém disse que pode, ninguém oficializou, mas ninguém diz que ainda é proibido. Como outras tantas coisas, as regras vão se fazendo conforme as conveniências.

No Uruguai liberaram, mas limitaram, ou pelo menos impuseram regras. Aqui não. Sempre disseram que não pode… mas também pode. E todos estão incomodados com isso. Quem fuma e quem não quer fumar e não gosta de quem fuma. Não dá mais pra continuar fazendo de conta que ninguém viu. O período não é adequado, eu sei. Um assunto delicado em ano eleitoral? Nem pensar! Com certeza vai render um desgaste enorme, mas alguém vai ter que arrumar coragem para começar esta história.

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