7:58O Atlético Paranaense no sonho de uma noite de verão

No mundo real não há mundo real quando o time do Atlético Paranaense encarna o que move a paixão de sua torcida. O que aconteceu ontem, quase hoje, no estádio Durival Britto e Silva pode ter sido o último grande espetáculo daquilo que poucos conseguem ver no futebol – e o grande e maior cronista disso foi e será Nelson Rodrigues. Os idiotas da objetividade viram um jogo feio, como se fosse disputado por atletas corredores de curta e média distância e gladiadores a se trombar enquanto maltratavam a bola. Os que sentem o futebol começaram a se preparar para receber a presença do Sobrenatural de Almeida quando o céu se abriu poucas horas antes do início do jogo contra o Sporting Cristal e um toró daqueles amenizou um pouco o inferno que teima em se apresentar todo dia em Curitiba e encharcou até a alma o gramado que um dia foi palco de jogos da Copa do Mundo e que poderá desaparecer em breve, dando lugar ao concreto frio e sem alma de mais um prédio público. Os saudosistas olham a Vila Capanema e têm saudade da Concha Acústica que desapareceu no tempo. Os românticos sempre imaginam o Ferroviário jogando ali com seu brasão maravilhoso estampado orgulhosamente no peito enquanto alguém salta do trampolim para a água fria da piscina ao lado. Há quem lembre sempre dos torcedores assistindo aos jogos em cima dos vagões da Rede – e também o dia em que o trem partiu com eles em cima no meio de uma jogada. Havia tudo isso ontem, mesmo para quem estava diante da telinha da tv e com o coração na boca quando, ainda na vibração do gol do excepcional zagueiro Manoel, viu os peruanos empatarem. Mas… Se alguém viu algum torcedor sair do estádio antes do apito que acabaria com o sonho de de uma noite de verão, ah, esse não era um torcedor rubro-negro. Porque o tempo, numa partida de futebol, adquire a verdadeira dimensão sem dimensão nesses momentos onde não existem ponteiros analógicos ou números digitais. Existe, sim, inferno e céu misturados, vida e morte, dor e alegria enfeixados num sentimento que move tudo e que alguém um dia colocou o nome de esperança. Sim, ontem a Vila era Caldeirão, e se o que aconteceu no último segundo dos quatro minutos de acréscimo do segundo tempo pode ter alguma comparação para quem já viveu momentos parecidos na história do Atlético, pode-se dizer sem medo que um nome pairou no ar quente da noite: Ziquita. Até a defesa do zagueiro peruano para evitar o gol numa sequência bombardeante de chutes a queima-roupa fará para sempre parte do enredo mágico deste jogo que classificou o time paranaense para a fase dos grupos da Taça Libertadores da América. Caído, batido como o goleiro, esticou a mão e fez a defesa. E a cobrança de Éderson foi de uma tranquilidade, de uma classe, de uma segurança, que parecia ter baixado nele um anjo com a missão de tranquilizar e passar este recado para a torcida à beira de um ataque de nervos: “Calma que nós vamos vencer essa”. A história da cobrança dos pênaltis foi o capítulo final e arrebatador dessa história que, em meio a tanta coisa ruim dentro e fora dos estádios, ainda alimenta quem ama este esporte cujo elemento fundamental é desprezado até no principal torneio mundial, ou seja, a Copa do Mundo: a bola. O time peruano abriu vantagem de dois gols nas cobranças, mas aí estava escrito em algum lugar do passado, do futuro, do presente, que Weverton iria pegar uma, outra cobrança iria mandar a bola na lua e o travessão do gol da Concha Acústica iria deflagrar o que é indescritível no mundo real.

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5 ideias sobre “O Atlético Paranaense no sonho de uma noite de verão

  1. Vanderlei

    Ontem, por coincidência, eu estava com minha velha camisa do Ferroviário. E, sim, torci pelo Atlético – embora agora seja paranista, sem muita convicção, saudoso dos tempos do boca-negra – porque, se a vila Capanema já foi palco de copa do mundo, pode muito bem sediar alguns bons jogos da Libertadores. Apesar do Petraglia, vamos torcer pelo rubro-negro da Baixada, que foi nosso freguês em muitas edições do glorioso clássico CAP-CAF. abraço, Zé.

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