por Jamur Jr

Seis horas da manhã, a família se reúne para o tradicional chimarrão, antes do café matinal. A tradição gaúcha é mantida principalmente nas cidades do interior. O chimarrão é uma forma de promover a aproximação entre as pessoas. Na “hora do mate” chegam vizinhos, amigos e até estranhos que entram na roda e passam a cuia de mão em mão. É hora do chimarrão e de contar causos, notícias e comentar fatos e a vida dos outros. As telenovelas estão na pauta de quase todas as conversas em roda de chimarrão. A última da RBS, envolvendo casos de paixão entre homens, provocou uma série de comentários – ácidos e cheios de intolerância.

– Mas, bah, tchê…tu viu essa novela dos putos na RBS?

– Mas, e não vi? Tem um guri que faz papel de puto tão bem feito que até parece puto, se de fato não é.

Cofiando a barba longa e amarelada pelo fumo, o velho gaúcho não deixou  passar a conversa sem sua observação.

-Mas, bah, tchê, como esse mundo mudou! Sou do tempo em que as famílias escondiam os meninos putos e aqueles que tinham problema mental. Os putos já têm direito a quase tudo e até casam com algum macho desgarrado. Os de cabeça mais fraca são bem tratados e convivem com todo muito, sem maiores problemas. Ninguém mais se preocupa se está bem da cabeça, se é puto ou não é puto. Bão, vou tomar mais um amargo que a vida é assim mesmo: hoje está assim, amanhã está de outro jeito.