20:28COBRAS

Me rodavam pelos braços

rodando até

eu não mais poder falar.

Me faziam tantas cócegas

que de tanto rir

nem mais podia soluçar.

Me lançavam para o alto

até meu corpo

deixar de existir.

Eu ria quando chorava

e chorava quando ria.

Um poço no jardim

disfarçado

me convidava em murmúrios

para eu lá me jogar

inocente.

E eu só dormia

dentro de uma caixa preta

cheia de cobras pretas.

Não me movia.

E todas as noites morria

sem mãe.

 

de Enio Mainardi em “O Moedor”

Compartilhe

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.