10:35O “esquema paranaense”, segundo a denúncia da ISTOÉ

Da revista IstoÉ, em reportagem de Izabelle Torres

 

Empresária Ana Cristina Aquino diz que negociatas para abrir filial de sua empresa no Paraná incluíam pagamento de propina para Pepe Richa, irmão do governador Beto Richa

 

Em depoimento registrado em cartório sobre os esquemas dos quais participou, a empresária Ana Cristina Aquino envolve a cúpula do governo do Paraná. Em pelo menos quatro páginas desse registro, Ana descreve um emaranhado de ligações de políticos com empresários em torno do interesse em negócios milionários e suspeitos e diz temer pela própria vida desde que decidiu contar o que sabe. Segundo ela, Pepe Richa, hoje secretário de Logística e irmão do governador do Paraná, o tucano Beto Richa, e Amaury Escudero, atual representante do escritório do governo em Brasília, se tornaram seus parceiros no ambicioso plano: o de abrir uma filial da sua empresa no Estado com a finalidade de fechar um contrato com a montadora Renault do Brasil. Um negócio que poderia render milhões por mês.

 

De acordo com o depoimento da empresária, a negociação era intermediada pelo advogado João Graça, que é do PDT e chegou a ser cotado para a vaga de suplente da senadora e ex-ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, em 2010. Segundo Ana Aquino, João Graça se aproximou do poder no Paraná depois de comandar a Superintendência Regional do Trabalho, entre 2007 e 2009. No segundo semestre de 2012, disse a empresária, o advogado marcou uma reunião entre ela e Amaury Escudero. O objetivo era arquitetar como agiriam em grupo para viabilizar o negócio com a Renault. No encontro, segundo a empresária, ficou decidido que o secretário Pepe Richa e Escudero pressionariam a montadora para contratar a transportadora de Ana, usando como instrumento de barganha uma série de isenções ficais concedidas pelo governo a montadoras nos últimos anos. O apoio, entretanto, custaria alto. “Eu perguntei ao Amaury (Escudero): ‘O que o senhor ganha com isso? O senhor vai me botar na Renault de graça, do nada?’ Ele então falou que eles ficariam com 20% da empresa. Mas que colocaria em nome do advogado João Graça. Seriam 10% de um e 10% do outro”, afirmou em entrevista à ISTOÉ.

 

Documento da Junta Comercial referente à empresa AGX Log – criada também por ela – mostra que João Graça se tornou dono de 20% das cotas em julho de 2012. O advogado apresentou duas versões para o fato. Na primeira, disse que nunca foi sócio da Ana Aquino e nem sequer conhecia a empresária. Confrontado com os registros oficiais, admitiu a sociedade. Graça oficializou sua saída em agosto do ano passado, depois de um desentendimento com Ana Cristina. Procurado novamente na quinta-feira 23, disse que não se manifestaria sobre as denúncias até conhecer o teor das escutas. Na sexta-feira 24, Escudero disse à ISTOÉ que as acusações são falsas e que jamais houve as reuniões citadas pela empresária. Ele afirma que os acessos a seu gabinete são todos registrados e que pode comprovar que a empresária está mentindo. “Não posso aceitar ser objeto de um jogo político que nem sei qual é. Essa pessoa não tem credibilidade para me acusar”, afirma Escudero.

 

O depoimento da empresária revela outra faceta do negócio. Em troca do apoio para que o grupo AG Log entrasse no Paraná e conseguisse o contrato da Renault, o irmão do governador também teria recebido propina. “O Pepe Richa recebeu R$ 500 mil. Não foi da minha mão, foi da mão da Suzana Leite, uma lobista. O Gabardo (Sergio) me entregou o dinheiro para eu levar ao Paraná. Dei o dinheiro para ela e fiquei dentro do carro esperando”, diz ela. A entrega teria ocorrido na semana anterior à inauguração da sede da AGX Log no Estado, em 11 de abril de 2013. Segundo Ana, Pepe estaria tão envolvido com os negócios da transportadora que emprestou o seu nome para figurar no convite da festa de inauguração, a pretexto de fazer uma palestra, e ainda se encarregou de distribuí-lo aos políticos. “ Como ele estava ganhando, deu essa ajuda porque eu não era conhecida. Não levaria os políticos para o evento”, disse. Suzana Leite afirmou que as acusações não têm fundamento. Já Pepe Richa classificou as declarações de Ana Cristina de “infundadas, caluniosas e irresponsáveis”. Disse ainda que a AG Log não é prestadora de serviços da Renault no Paraná.

 

No documento que registrou em cartório, a empresária confirma que a negociata não deu certo. O contrato não saiu, mas as dívidas da empresa se multiplicaram. Incentivada pelo grupo a buscar dinheiro no mercado para montar a frota exigida pela montadora, Ana Aquino recorreu a agiotas. Para validar os empréstimos, ela diz que apresentava um contrato assinado pelos integrantes do governo e pelo funcionário da Renault Julio Barrinuevo, que também teria recebido propina para facilitar o negócio com a montadora. O contrato não tinha validade jurídica nem veracidade. “Só quem se deu mal fui eu”, disparou.  

“O Pepe Richa recebeu R$ 500 mil. Eu saquei esse dinheiro”

As dívidas acumuladas por Ana Cristina Aquino são, em boa parte, originadas no Paraná. Nas conversas com ISTOÉ, ela contou que montou uma frota de caminhões para ganhar um contrato com a Renault e que pagou R$ 500 mil para o irmão do governador. A seguir, trechos da entrevista:

ISTOÉ – A senhora manteve negócios com integrantes da cúpula do governo do Paraná?
Ana Cristina Aquino – 
O João Graça me chamou e disse que tinha um negócio para mim. Viajei até Londrina e, chegando lá, ouvi que havia um projeto grandioso com a empresa Renault. A proposta era que eu levasse a AG Log para o Paraná. João Graça disse que não tinha problema porque havia muitos políticos envolvidos nesse negócio.

“Para tratar sobre dinheiro, ela (Suzana Leite) falava: o boss  (Pepe Richa)
pediu para você conseguir um agrado  de tantos mil”

ISTOÉ – Mas quem eram esses políticos?
Ana – 
Uma semana depois, foi marcado meu encontro em Curitiba com o João Graça e com o Amaury Escudero. Tivemos uma reunião fechada para discutir esse contrato. Amaury se propôs a pressionar a Renault para colocar a AG Log no negócio. Ele disse que cobraria a conta de uma série de benefícios fiscais que o Estado teria dado à empresa, e que, se a montadora se negasse, ele teria como pressioná-los. Eu disse: e o que o senhor ganha comisso? Ele então explicou que teria 20% da empresa, mas que colocaria em nome do João Graça. Mas seriam 10% de um e 10% do outro. Depois dessa conversa houve mais uns três encontros e aí fui entendendo o negócio. Tinha muita gente do governo do Paraná envolvida. Posso dizer que o Pepe Richa (irmão do governador do Paraná) recebeu R$ 500 mil. Eu saquei esse dinheiro.

ISTOÉ – Recebeu da sua mão?
Ana –
 Não foi da minha mão, foi da mão da Suzana Leite. Ela é uma lobista, uma espécie de Marcos Valério.

ISTOÉ – A senhora tratou sobre esse assunto com o governador Beto Richa?
Ana –
 Cheguei a encontrar com o governador, mas não tratei nada com ele. Era só com o Pepe mesmo. A Suzana Leite chama o Pepe de “boss”. Para tratar sobre dinheiro, ela falava: “O boss pediu para você conseguir um agrado de tantos mil”.

 

http://www.istoe.com.br/reportagens/344958_ESQUEMA+PARANAENSE

Compartilhe

9 ideias sobre “O “esquema paranaense”, segundo a denúncia da ISTOÉ

  1. José Antonio

    No meu tempo de infância “curtia” o PEPE LEGAL…é duro agora ter que engolir o PEPE ILEGAL…

  2. sergio silvestre

    O caso GAIÉVISK vai ser um pinto perto deste avestruz.
    Mas não se incomodem que eles sabem agir e esconder os quase 400 bilhões que somem todos os anos no ralo da corrupção.

  3. Miguel Orleryk

    Investigue-se. Abram as portas! Ou ainda alguém duvida que por aqui é tudo certinho?

  4. Perguntinha

    Se não vingou o contrato que ela queria na Renault por que a Isto É não foi atrás do empregado da empresa que ‘levou’ 12 milhões de reais, por algo que não fez:

    ” No documento que registrou em cartório, a empresária confirma que a negociata não deu certo. O contrato não saiu, mas as dívidas da empresa se multiplicaram. Incentivada pelo grupo a buscar dinheiro no mercado para montar a frota exigida pela montadora, Ana Aquino recorreu a agiotas. Para validar os empréstimos, ela diz que apresentava um contrato assinado pelos integrantes do governo e pelo funcionário da Renault Julio Barrinuevo, que também teria recebido propina para facilitar o negócio com a montadora. O contrato não tinha validade jurídica nem veracidade. “Só quem se deu mal fui eu”, disparou. “

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.